6 de Janeiro de 2011
Evangelho - Lc 4,14-22ª
Este Evangelho narra o começo da vida pública de Jesus. Nele Jesus apresenta o seu programa. Em poucas palavras, ele resume toda a sua missão. Jesus veio à terra para “anunciar a Boa Nova aos pobres, proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da vista, para libertar os oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor”.
O amor de Deus é uma sinfonia em dois movimentos que se completam e interferem mutuamente. Em primeiro lugar, o amor é um movimento vertical, ascendente e descendente. Jesus se referiu a esse movimento, quando disse que veio “anunciar a Boa Nova aos pobres... e proclamar o ano da graça do Senhor”.
O segundo movimento da sinfonia é horizontal, o relacionamento entre nós, que concretiza e realiza o vertical. “Se alguém disser: “Amo a Deus”, mas odeia o seu irmão, é mentiroso; pois quem não ama o seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê. Este é o mandamento que dele recebemos: quem ama a Deus, ame também seu irmão” (1Jo 4,20-21). Esse movimento horizontal, às vezes se torna vertical, sendo um verdadeiro “culto” a Deus.
Uma religião que quisesse chegar diretamente a Deus, sem passar pelo próximo, é uma ilusão, uma alienação espiritual, uma mentira.
Jesus privilegia os excluídos pela sociedade: Os pobres, os cativos, os cegos e os oprimidos... Isso significa andar na contramão da sociedade, que privilegia os não excluídos.
O “ano da graça do Senhor”, lá no profeta Isaías (Is 61,1-2), está expresso como “ano do agrado do Senhor”. Portanto é viver bem com Deus, obedecendo os seus mandamentos e fazendo a sua vontade.
No dia do nosso Batismo, nós também assumimos esse programa de Jesus como o nosso programa.
Os primeiros cristãos procuraram por em prática esse programa integralmente.
Foi o cumprimento desse programa que custou a morte para Jesus, e para milhares de mártires da História de Igreja. Apesar disso, a Igreja não desiste de colocá-lo em prática e de lutar para que ele assumido por toda a sociedade.
Está aí o grande desafio para nós, a fim de que aconteça no mundo o Natal. Em outras palavras, para que aconteça a Epifania de Cristo.
Jesus mistura a dedicação ao corpo e a dedicação à alma. Ele não separa as duas atividades. Naturalmente, quer que nós também não as separemos. De fato, quem ama verdadeiramente uma pessoa, não ama só a alma ou só o corpo dela, mas a pessoa inteira. E esse amor inclui também a proteção à natureza.
Diz uma fábula que certa vez Buda estava sentado no chão, ao pé de uma árvore, em oração. Ele tinha as pernas encolhidas e cruzadas, como fazem os orientais quando vão rezar.
Nisto chegou uma rolinha. Ela estava cansada de tanto voar, porque um gavião estava correndo atrás dela, querendo devorá-la.
Buda, mais que depressa, pegou a rolinha e a escondeu dentro do seu paletó. Nisto chegou o gavião e disse a ele: “Dê-me essa rolinha. Eu sou carnívoro e preciso dela para comer”.
Buda pensou: É verdade a rolinha faz parte da cadeia alimentar desse gavião. Mas ele queria salvar a rolinha; então disse ao gavião: “Vamos fazer uma troca: eu dou para você uma parte do meu corpo correspondente à esta rolinha”. O gavião concordou.
Apareceu uma balança, daquelas de dois pratos, e Buda pôs a rolinha num prato e a sua pesada mão no outro. Mas, para surpresa sua, a balança continuou caída para o lado da rolinha. Então ele pôs o seu braço o braço todo no prato... Nada. Colocou o outro braço... Também nada.
Então Buda sentou-se no prato da balança. Aí ela se equilibrou: os dois pratos ficaram na mesma altura.
Nesta hora, Buda disse ao gavião: “Sou todo seu. Pode levar-me. Mas não toque na rolinha”.
A nossa felicidade, a nossa vida, custou a morte de Jesus, como oferta total dele por nós. Amar não é dar coisas ao próximo, mas buscar a sua felicidade, mesmo que para isso precisemos sacrificar a nossa vida. “Ninguém tem maior amor do que aquele dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13).
O amor só é verdadeiro se inclui, desde o começo, uma doação da vida. O amor, ou é total, ou não é amor. Amor parcial não existe, é apenas caricatura de amor. Quando vemos um mendigo na rua e lhe damos um trocado, ou apenas um sorriso, não estamos dando apenas um trocado ou um sorriso a ele, mas nesses gestos está embutida a nossa vida toda, doada a ele ou ela, se precisar. Na hora lhe damos apenas um trocado ou um sorriso, por é só disso que o mendigo precisa.
Maria Santíssima, a discípula fiel do Senhor, viveu de corpo e alma esse programa de Jesus e nosso. Que ela nos ajude!
Hoje se cumpriu esta palavra da Escritura.
Vera Lúcia
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