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23 de dez. de 2010

NATAL- A NOITE DE NATAL - VÁRIAS HOMILIAS. NÃO DEIXE DE LER!



Homilia do Mons. José Maria – Natal

Somos convidados a formar coro com os anjos: Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na Terra às pessoas de boa vontade. Chegou a salvação! A luz se manifestou para iluminar os caminhos da humanidade, que anseia por paz e fraternidade. Deus se torna presente em nosso meio. A palavra se fez carne e veio morar junto a nós!

Alegremo-nos todos no Senhor! Hoje nasceu o Salvador do mundo; hoje desceu do céu a verdadeira paz. “Acabamos de ouvir uma mensagem transbordante de alegria e digna de todo o apreço: Cristo Jesus, o Filho de Deus, nasceu em Belém de Judá. A notícia faz-me estremecer, o meu espírito acende-se no meu interior e apressa-se, como sempre, a comunicar-vos esta alegria e este júbilo”, anuncia São Bernardo. Coloquemo-nos a caminho para contemplar e adorar Jesus, pois todos temos necessidade dEle; é unicamente dEle que temos verdadeira necessidade. A verdade é que nenhum caminho que empreendemos vale a pena se não termina no Menino-Deus.

“Hoje nasceu o nosso Salvador. Não pode haver lugar para a tristeza, quando acaba de nascer a própria vida, a mesma que põe fim ao temor da mortalidade e nos infunde a alegria da eternidade prometida. Ninguém deve sentir-se incapaz de participar de tal felicidade, a todos é comum o motivo para o júbilo; pois Nosso Senhor, destrutor do pecado e da morte, como não encontrou ninguém livre de culpa, veio libertar-nos a todos. Alegre-se o santo, já que se aproxima a vitória. Alegre-se o gentio, já que é chamado à vida. Pois o Filho, ao chegar a plenitude dos tempos, assumiu a natureza do gênero humano para reconciliá-la com o seu Criador” (São Leão Magno). Daqui nasce para todos, como um rio que não pode ser contido, a alegria destas festas.

Vamos à Gruta de Belém levando o nosso presente! E talvez aquilo que mais agrade à Virgem Maria seja uma alma mais delicada, mais limpa, mais alegre por ser mais consciente da sua filiação divina, mais bem preparada por meio de uma confissão realmente contrita, a fim de que o Senhor resida com mais plenitude em nós: essa confissão que talvez Deus esteja esperando há tanto tempo…

Maria e José estão nos convidando a entrar. E, já dentro, dizemos a Jesus com a Igreja: “Rei do universo, a quem os pastores encontraram envolto em panos, ajudai-nos a imitar sempre a vossa pobreza e a vossa simplicidade” (Preces das Laudes de 5 de janeiro).

No presépio contemplamos Jesus, recém nascido, que não fala; mas é a Palavra eterna do Pai. Já se disse que o Presépio é uma cátedra. Nós deveríamos hoje “entender as lições que Jesus nos dá, já desde Menino, desde recém-nascido, desde que os seus olhos se abriram para esta bendita terra dos homens” (São Josemaria Escrivá, É Cristo que passa, nº14).

Jesus nasce pobre e ensina-nos que a felicidade não se encontra na abundância de bens. Vem ao mundo sem, ostentação alguma, e anima-nos a ser humildes e a não estar preocupados com o aplauso dos homens.

Quando nos aproximarmos hoje do Menino para beijá-lo, quando contemplarmos o presépio ou meditarmos neste grande mistério, agradeçamos a Deus o seu desejo de descer até nós para se fazer entender e amar, e decidamo-nos, nós também a tornar-nos crianças, para podermos assim entrar no Reino dos Céus.

Sejamos anunciadores da Boa Nova da Salvação que veio até nós! Na verdade, para que serviria celebrar o Natal de Jesus se os cristãos não soubessem anunciá-Lo aos seus irmãos com a sua própria vida? Celebra verdadeiramente o Natal todo aquele que, em si mesmo, acolhe o Salvador, com fé e com amor cada vez mais intensos, aquele que O deixa nascer e viver em seu coração para que possa manifestar-Se ao mundo na bondade, benignidade e doação generosa de quantos n’Ele acreditamos.

Um Feliz e Santo Natal para todos!

Mons. José Maria Pereira

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Homilia do Padre Françoá Costa – Noite de Natal

Nas profundezas

Daqui a pouco você sairá dessa igreja, dessa celebração tão bonita de Natal e da companhia dessas pessoas tão gentis com as quais está louvando o Senhor. Nas ruas enfeitadas, encontrará certo alvoroço, rostos alegres, talvez encontre alguém ultimando as coisas para a grande ceia de Natal. Façamos o seguinte: vamos sair juntos! Vamos olhar, mas vamos ver de uma maneira diferente. Nós acabamos de dizer Gloria a Deus nos céus e paz na terra aos homens de boa vontade. Para Deus toda a glória; aos homens, a paz.

O que nós vemos? Exatamente o que eu descrevia antes. No entanto, vemos também alguém que está deitado no chão, passando frio uma noite e outra também. Vamos ver ainda aquele jovem na rua, meio desperto, meio dormido; meio bêbado, meio sóbrio; meio perdido. Coitado! E aquela senhora? Pobre mulher, entre panos e papelões, entre uma parede mal pintada e a sujeira do entorno, entre tantas pessoas que passarão – como nós – a festejar com alegria e com uma ceia generosa o acontecimento central da história da humanidade.

Não quero estragar essa noite nem quero que tenhamos peso de consciência ao comermos o peru natalino e brindar com champanhe. Mas eu gostaria – isso sim – que não fossemos superficiais nessa noite e percebêssemos que todo o nosso alvoroço frequentemente contrasta, e fortemente, com o acontecimento da gruta de Belém: Jesus, acompanhado da sua mãe e do seu pai adotivo, algumas ovelhas e vacas, a natureza silenciosa e… ninguém mais. Peru? Champanhe? Árvore de Natal? Pisca-piscas? Nada disso, ao contrário, e simultaneamente mais bonito. Os pastores trarão algo para comer; as luzes que enfeitam essa noite vem do mesmo Cristo, Sol da justiça, que dimana a sua luz pela lua, pelas estrelas e sobre as nossas vidas; a cruz já se vê prefigurada nesse despojamento inicial do Senhor, nessa “árvore de natal” que antecipa a árvore da cruz.

Hoje, na ceia do natal, nas grandes ou pequenas celebrações familiares, lembremo-nos de tantas pessoas cujo Natal reproduzirá o despojamento do Senhor em Belém, rezemos por elas e pensemos no que fazer para ajudar a esses nossos irmãos e irmãs necessitados. Talvez possamos fazer muito, talvez pouco, talvez já fizemos algo; o fato é que sempre podemos fazer alguma coisa e, o que é mais importante, rezaremos por eles. “Ninguém é tão pobre que não tenha nada pra dar”. Sempre existe a possibilidade de que nos demos a nós mesmos, hoje e agora, a Deus e a todos os nossos irmãos num serviço alegre e cheio de disponibilidade. Cada um desde o lugar que ocupa na sociedade, todos a uma: amar a Deus e amar ao próximo, mas que com palavras “com atos e em verdade” (1 Jo 3,18). O que eu posso fazer?

Caso essa reflexão nos tenha servido para fugir da superficialidade e entrar um pouco mais nas profundezas do mistério de Deus, que se fez homem para a nossa salvação, então comeremos o peru e brindaremos com champanhe com um olhar mais profundo, com uma alegria mais autêntica. Ao mesmo tempo, procuraremos fazer felizes a todos os que temos ao nosso lado. Nessa noite, não vamos procurar ser felizes, vamos dar felicidade, vamos procurar servir. Além do mais, vamos fazer tudo isso sem barulho, passando despercebidos. Consequência? Experimentaremos a alegria do Natal.

Desde que S. Francisco de Assis fez o primeiro presépio, em 1223, em Greccio, essa tradição tão cara ao coração dos cristãos tem dado frutos abundantes. Afinal, qual é a sua finalidade senão que entremos nas profundezas da autêntica gruta de Belém e estejamos aí com a Sagrada Família, com a nossa família? Dessa maneira, aprenderemos a melhor servir, a amar mais e a entregar-nos sem reservas aos planos salvadores de Deus.

Feliz Natal!

Pe. Françoá Costa

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Homilia do Padre Françoá Costa – Natal

Jesus: princípio, meio e fim

“No princípio” (Jo 1,1), assim começa o Evangelho segundo São João e assim inicia a leitura do texto evangélico da Missa do dia de hoje. Assim como o Antigo Testamento começa “no principio” (Gn 1,1), assim também o Novo Testamento. É interessante observar que a Bíblia, que se abre com uma explicação do principio de todas as coisas, termina desejando que a graça de Deus “esteja com todos” (Ap 22,21). E isso é possível pelo meio, ou seja, o principio e o fim de tudo se encontram no meio. Mas esse meio já é o fim, o começo do fim.

O que foi dito anteriormente não é nenhum trava-línguas. Retornemos ao Evangelho, “no principio”. Trata-se da eternidade de Deus, isto é, o Verbo de Deus já existia no principio eterno. Como se sabe, o Filho de Deus teve dois nascimentos: um, na eternidade, do Pai; outro, no tempo, de Maria. O primeiro é um nascimento espiritual, pois o Filho é “Deus de Deus, luz de luz, Deus invisível de Deus invisível”. Também pertence à nossa fé cristã que o Filho de Deus foi “gerado, não criado”. Esse nascimento eterno é, como expressa a frase, sem passado e sem futuro, pois a eternidade de Deus é uma duração sempre presente e cheia de dinamismo. A nossa maneira de falar dessas coisas sempre é imperfeita, ainda que verdadeira: o Verbo de Deus, isto é, o Filho de Deus, nasceu, está nascendo e nascerá sempre do Pai. O Filho nasce do Pai eternamente.

O segundo nascimento do Filho é temporal, é o que nós estamos celebrando hoje (natal é nascimento): o Filho de Deus, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, ao assumir carne humana nas entranhas puríssimas da Virgem Maria, depois de algum tempo, nasceu no tempo. Ele é Jesus Cristo, o ungido de Deus que é Deus conosco e que veio para salvar-nos, para estar conosco, para ser nosso amigo. No livro do Papa recém-publicado, Luz do mundo, Peter Seewald pergunta ao Papa se ele reza. E o Papa lhe responde: “a verdade é que eu tenho uma antiga amizade com Jesus”. É isso o que Jesus quer de nós, que sejamos os seus amigos.

O mistério da encarnação é essencial à fé cristã. De fato, uma pessoa não pode ser nem dizer-se cristã se não crê nesses dois mistérios: 1º) há um só Deus em três pessoas realmente distintas: Pai e Filho e Espírito Santo (mistério da Santíssima Trindade); 2º) a segunda Pessoa da Santíssima Trindade se fez carne (se encarnou = mistério da encarnação), se fez homem, e se chama Jesus Cristo. Encarnação e reencarnação são totalmente diferentes e irreconciliáveis. Encarnação é o mistério de Deus que se fez carne; reencarnação é uma crença muito antiga que afirma que uma parte do ser humano subsistiria depois da morte e se ligaria a outros corpos para conseguir determinados objetivos. A reencarnação é um dos pontos fundamentais do hinduísmo e do espiritismo. O cristianismo não aceita a reencarnação: “está determinado que os homens morram uma só vez, e logo em seguida vem o juízo” (Hb 9,27).

O mistério da encarnação é o meio da história e é, ao mesmo tempo, o principio do fim. Jesus Cristo nasceu na “plenitude dos tempos” (Gl 4,4) sendo o meio e a plenitude da história. “Há um só mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo, homem” (1 Tm 2,5). Mediador entre Deus e os homens na sua humanidade, media também entre a história profana e a história religiosa. Em Jesus se une toda a história. Ele é o sentido da criação, da história e da vida dos seres humanos, ou seja, nada se entende sem o Cristo de Deus. Nele se unem o divino e o humano, o invisível e o visível, o espiritual e o material, o começo e o fim, você e eu. Estamos unidos em Cristo.

Agora entendemos por que esse desejo de que “a graça do Senhor Jesus esteja com todos” (Ap 22,21). Deus eterno (no principio) veio para salvar-nos (no principio temporal), para ser meio, ponte, mediador – a través da sua própria humanidade – de todas as mulheres e de todos os homens, de toda a criação. Esse Menino que está no presépio e que nós beijamos reverentemente e com grande afeto é Deus. “O Verbo que se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14) e se chama Jesus. Que a graça de Deus se expanda e encontre a todos nessas festas natalinas.

Feliz Natal!

Pe. Françoá Costa

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Homilia de Dom Henrique Soares da Costa – Noite de Natal

Is 9,1-6
Sl 95
Tt 2,11-14
Lc 2,1-14

“Hoje, a Paz verdadeira desceu-nos do céu; hoje, os céus e a terra espalham doçura; hoje, raiou o dia do novo resgate de eterna alegria, há muito esperado!” – Estas palavras, a Igreja as reza por toda a terra no Ofício das Vigílias desta Noite santa. Mas, por que tanta exultação? Por que tanta luz? Por que tanta doçura, tanta ternura, tanta paz?

Hoje, cumpriu-se as Escrituras: o Dia tão esperado brilhou no meio da noite. Hoje, “o povo, que andava na treva”, a humanidade perdida e confusa, “viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte”, para nós, que temos sempre de lutar contra tantas e tantas mortes, “uma luz resplandeceu!”. Nesta Noite, podemos comemorar, alegrarmo-nos como os que colhem depois do trabalho e do suor do plantio, porque algo inacreditável, algo que parece um sonho, um conto de fadas, nos aconteceu! Escutai, escutai: “Nasceu para nós um Menino, foi-nos dado um Filho; ele traz nos ombros a marca da realeza; o nome que lhe foi dado é: Conselheiro Admirável, Deus Forte, Pai dos tempos futuros, Príncipe da Paz. Grande será o seu reino e a paz não há de ter fim… a partir de agora e por todo sempre!” Eis a graça, a glória, o mistério desta Noite! Por isso a alegria: o Deus fiel cumpriu o que prometera e ultrapassou toda promessa. Nesta Noite tão santa, tão única, tão cheia de frescor, como são comoventes as palavras do Apóstolo na segunda leitura. Olhem o presépio, e escutem, olhem a manjedoura e prestem atenção: “A graça de Deus se manifestou trazendo salvação para todos os homens. Ela nos ensina a abandonar a impiedade e as paixões mundanas e a viver neste mundo com equilíbrio, justiça e piedade”. Olhem o presépio! Olhem o presépio: a graça de Deus é uma Criança, o Menino que nos foi dado! A graça de Deus está “envolvida em faixas e deitada numa manjedoura”. Que graça pequeninha; que graça tão grande! Que graça tão frágil; que graça tão forte! Quem é tão duro de coração, que não se comova? Quem é tão desumano, que não se emocione? Quem é tão pecador, que não queira aproximar-se de Deus? Quem é tão insensível, que não sinta, nesta Noite, o desejo de amar, o desejo de ser bom, o desejo de paz, o desejo de se deixar abraçar por Deus? “Não tenhais medo!” Quem quer que sejas tu: não temas! Não tenhas receio pelos teus pecados, não te afastes da graça desta Noite por causa das tuas infidelidades! Compreende: hoje, teu Deus vem a ti! Vem a ti a Paz, vem a ti o Perdão, vem a ti a Misericórdia, vem a ti a Plenitude do teu coração e o sonho da tua vida! Hoje nasceu para ti, para nós, um Salvador!

Presta bem atenção: porque tu és fraco, ele veio sustentar-te; porque tu és inconstante, ele veio permanecer contigo; porque tu muitas vezes não sabes o caminho, ele se vez visível na nossa carne; porque tu vives em trevas, ele apareceu como luz; porque tu não podes subir a Deus, ele desceu para te elevar! Que amor tão grande, que caridade sem medida! Nesta Noite a Virgem deu à luz o próprio Deus na nossa humanidade mortal!

Por isso a alegria da Igreja, por isso, a exultação! Abramos nosso coração, abramos nossa vida, nossos afetos, nossos sentimentos, nossos projetos para o mistério desta Noite. No século V, são Leão Magno, Papa de Roma, dizia ao povo na noite de hoje: “Hoje, amados filhos, nasceu o nosso Salvador. Alegremo-nos! Não pode haver tristeza no dia em que nasce a vida; uma vida que, dissipando o temor da morte, enche-nos de alegria com a promessa da eternidade. Ninguém está excluído da participação nesta felicidade. Exulte o justo, porque se aproxima da vitória; rejubile o pecador, porque lhe é oferecido o perdão; reanime-se o pagão, porque é chamado à vida!”

Mas, estejamos atentos: porque Aquele que vem como luz no meio da noite, vem pobre, humilde, pequeno, frágil… e somente poderá ser reconhecido se estivermos atentos: atentos aos seus sinais, atentos às coisas pequenas, atentos aos irmãos mais frágeis, atentos ao que no mundo parece a toa, sem valor, sem importância, sem poder… O Menino somente pôde ser encontrado e reconhecido pela pobre Virgem Maria, pelo humilde José, pelos desprezados pastores… Os soberbos, os prepotentes, os esbanjadores, os orgulhosos jamais receberão a graça desta Noite!

Então, ouçamos ainda as palavras do Papa são Leão; tomemos o seu apelo para esta Noite: “Toma consciência, ó cristão, da tua dignidade! Não voltes aos erros de antes por um comportamento indigno de tua condição. Lembra de que cabeça e de que corpo és membro. Despojemo-nos, portanto, do velho homem com seus atos; e tendo sido admitidos a participar do nascimento de Cristo, renunciemos às obras da carne!”

Por tudo isso, concluamos como iniciamos, com as palavras da Liturgia da Igreja: “Hoje, a Paz verdadeira desceu-nos do céu; hoje, os céus e a terra espalham doçura; hoje, raiou o dia do novo resgate de eterna alegria, há muito esperado! Cantai ao Senhor Deus um canto novo; cantai ao Senhor Deus ó terra inteira… na presença do Senhor, pois ele vem!

Feliz Natal a todos! Que reine no coração de todos a graça desta noite! Amém.

Dom Henrique Soares da Costa

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Homilia de Dom Henrique Soares da Costa – Natal

Is 52,7-10
Sl 97
Hb 1,1-6
Jo 1,1-18

“Um Menino nasceu para nós: um Filho nos foi dado! O poder repousa nos seus ombros. Ele será chamado ‘Mensageiro do Conselho de Deus’”. Estas palavras, lidas na leitura da Missa da Noite, dão bem o sentido da presente celebração. Nasceu para nós um Menino; foi-nos dado um Filho! Vamos encontrá-lo pobrezinho e frágil, deitado na manjedoura, alimentado por uma Virgem Mãe, guardado por um pobre carpinteiro. Mas, quem é este Menino? Quem é este Filho? Agora, com o sol já claro e alto, podemos enxergar melhor o Mistério: meditemos bem sobre o que celebramos na noite de ontem para hoje, no que professamos neste dia tão santo!

Este menininho, a Escritura nos diz que ele é a Palavra eterna do Pai: esta Palavra “no princípio estava com Deus… e a Palavra era Deus”. Esta Palavra, que dorme agora no presépio, depois de ter mamado, é aquela Palavra poderosa pela qual tudo que existe foi feito, “e sem ela nada se fez de tudo que foi feito”. Esta Palavra tão potente, feita tão frágil, esta Palavra que sempre existiu e que nasceu na madrugada de hoje, esta Palavra que é Deus, feita agora recém-nascido, é a própria Vida, e esta Vida é a nossa luz, é a luz de toda humanidade. Fora dela, só há treva confusa e densa! Sim, fora do Deus feito homem, do Emanuel, não há vida verdadeira! O Autor da Carta aos Hebreus, na segunda leitura, diz que, após ter falado aos nossos pais de tantos modos, Deus, agora, falou-nos pessoalmente no seu Filho, “a quem ele constituiu herdeiro de todas as coisas e pelo qual também criou o universo”; somente a ele, o Pai disse: “tu és o meu Filho, eu hoje te gerei!” Por isso, somente eles nos dá o dom da vida do próprio Deus!

Eis o mistério da festa de hoje: nesta criancinha nascida para nós, Deus visitou o seu povo, Deus entrou na humanidade. Que mistério tão profundo: ele, sem deixar de ser Deus, tornou-se homem verdadeiramente. Deus se humanizou! Veio desposar a nossa condição humana, veio caminhar pelos nossos caminhos, veio experimentar a dor e a alegria de viver humanamente: amou com um coração humano, sonhou sonhos humanos, chorou lágrimas humanas, sentiu a angústia humana… Ele, Filho eterno do Pai, tornou-se filho dos homens para salvar toda a humanidade, “tornou-se de tal modo um de nós, que nós nos tornamos eternos!”

Ó criatura humana, por que temes com a vinda do Senhor? Ele não veio para julgar ninguém. Não nasceu para condenar. Por isso ele apareceu como criancinha e não como um rei potente; pode ser encontrado na manjedoura, não no trono. Seu chorinho é doce, não afugenta ninguém. Sua mãe enfeixou seus bracinhos frágeis: por que ainda temes? Ele não veio armado para punir. Ele está aí franzino para ficar junto de nós e nos libertar! Celebra, pois, a chegada do teu maior Amigo! Canta Aquele que foi sempre, no sono e na vigília, esperado e ansiado, o guarda de Israel, o consolo da humanidade, o alento do nosso coração. Ele chegou, finalmente! Chegou para nunca mais nos deixar, porque desposou para sempre a nossa pobre humanidade! São Jerônimo, com palavras cheias de ternura, medita sobre este mistério: “O Cristo não encontra lugar no Santo dos Santos, onde o ouro, as pedras preciosas, a seda e a prata reluziam: não, ele não nasce entre o ouro e as riquezas, mas nasce num estábulo, na lama dos nossos pecados. Ele nasce num estábulo para reerguer os que jazem no meio do estrume: ‘Ele retira o pobre do estrume’. Que todos os pobres encontrem nisso consolo! Não havia outro lugar para o nascimento do Senhor, a não ser um estábulo; um estábulo onde se achavam amarrados bois e burros! Ah! Se me fosse dado ver este estábulo onde Deus repousou! Na realidade, pensamos honrar o Cristo retirando o presépio de palha e substituindo-o por um de prata… Para mim tem mais valor justamente o que foi retirado: o paganismo merece prata e ouro. A fé cristã merece o estábulo de palha. Pois bem! Ouvimos a criança choramingar no estábulo: adoremo-la, todos nós, no dia de hoje. Ergamo-la em nossos braços, adoremos o Filho de Deus. Um Deus poderoso, que por longo tempo, bradou alto dos céus e não salvou ninguém: agora choramingou e salvou. A elevação jamais salva; o que salva é a humildade! O Filho de Deus estava no céu, e não era adorado; desce à terra e passa a ser adorado. Mantinha sob seu domínio o sol, a lua, os anjos, e não era adorado; nasce na terra, homem, homem completo, integralmente homem, a fim de curar a terra inteira. Tudo o que não assumisse de humano, também não salvaria…”

É este o mistério do Santo Natal! Tenhamos o cuidado de não parar nas aparências, de não ficarmos somente na meiga cena do Menino, com a Virgem e são José! Este Menino é o Emanuel, o Deus-conosco! Este Menino veio como sinal de contradição, pois diante dele ninguém pode ser indiferente: ou se o acolhe, ou se o rejeita: “A Palavra estava no mundo, e o mundo foi feito por meio dela, mas o mundo não quis conhece-la. Veio para o que era seu, e os seus não a acolheram. Mas, a todos os que a acolheram, deram a capacidade de se tornarem filhos de Deus…” Pois bem: acolhamo-la, a Palavra que se fez Menino, Filho que nos foi dado! Se o acolhermos de verdade, na pobreza do dia-a-dia, no esforço de uma vida santa, então poderemos cantar com o salmista: “Cantai ao Senhor Deus um canto novo, porque ele fez prodígios! O Senhor fez conhecer a salvação, e às nações, sua justiça. Os confins do universo contemplaram a salvação do nosso Deus. Aclamai o Senhor Deus, ó terra inteira, alegrai-vos e exultai!”

Vamos todos! Sejamos testemunhas da graça deste dia, da novidade desta festa. E cumpram-se em nós as palavras da Escritura na leitura da missa de hoje: “Como são belos, sobre os montes, os pés do mensageiro que anuncia a paz, de quem anuncia o bem e prega a salvação e diz a Sião: o teu Deus reina! O Senhor consolou o seu povo! O Senhor desnudou seu santo braço aos olhos de todas as nações; todos os confins da terra hão dever a salvação que vem do nosso Deus”. Sejamos mensageiros dessa paz, dessa boa nova, sejamos testemunhas do Menino, irradiemos a graça do Santo Natal! Amém.

Dom Henrique Soares da Costa

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