13 de Janeiro
Evangelho - Mc 1,40-45
O leproso disse: “Se queres, tens o poder de curar-me - Pe .José Cristo Rey.
Epidemias do espírito
O livro do Levítico apresenta uma lei que tinha como objetivo "velar pela saúde pública". A lepra podia contagiar. Era necessário parar o contágio e referendá-lo com um mandato religioso. O sacerdote devia excluir da comunidade quem por essa doença se tinha convertido num "perigo para os demais".
Isto é, em princípio, o que fizeram e seguem fazendo as sociedades: isolar e assim se proteger. Somos testemunhas disso ante a ameaça de qualquer epidemia. O que ocorre é que só se detectam as epidemias que atentam contra a saúde física dos cidadãos, mas não as epidemias do espírito.
Se não é fácil conhecer a origem de uma "gripe aviária" -unicamente o foco onde se produziu o primeiro caso!-, muito difícil é conhecer a origem das infecções do espírito. Emergem em nós e produzem um contágio interior. As células do mal espiritual se multiplicam; reivindicam um espaço na pessoa, criam uma espécie de "ecologia de más ervas", como se tratasse de um câncer no espírito. Estes males do espírito são em princípio quase imperceptíveis. Depois pedem repetição e repetição e repetição. Atos repetitivos que não levam a nenhuma parte e que produzem desolação, dependência, geram em nós estados de vertigem, de fuga para o mesmo pior. E isto nos sucede quando ante uma circunstância ou uma pessoa ou um grupo de pessoas, sempre reagimos com ira, ou com ódio, ou com inveja ou atitudes de vingança, ou crítica amarga. E isto nos sucede quando ficamos amarrados ao jogo, ao fumo, ao licor, à droga. E isto nos sucede quando entramos na erótica do poder, no desejo de fama e de aparecer. Os maus germes se reproduzem silenciosamente em nós. Ficamos amarrados. Perdemos a liberdade interior. Não importa que ante os demais pareçamos como pessoas respeitáveis. Tentamos ocultar esse território perverso que nos habita. Não é esta a autêntica versão da lepra, mas aplicada ao espírito?
O contágio interior se torna contágio exterior. As pessoas influentes, aquelas pessoas que nos importam, também nos contaminam. Trata-se às vezes de algo muito sutil, quase imperceptível. A contaminação vem acompanhada de uma sensação de prazer, de gosto, mas -uma vez instalada- começa a criar inquietude. E quem está no cárcere, já não sabe por onde escapar e nem sequer se vê com forças para isso.
Nas sociedades -políticas ou religiosas-, nas comunidades familiares, nos grupos políticos e desportivos, as epidemias se sucedem e vão pervertendo o ambiente. O mal se camufla de bem. E quem põe resistência à contaminação, parece um extraterrestre, um reprimido. A propagação do vírus atenta de maneira especial contra as figuras proféticas. Um profeta contaminado é o melhor propagandista da infecção.
Há na Igreja detectores de vírus, detectores de lepras, como os sacerdotes da velha Jerusalém. São os que proíbem os contaminados. Diagnósticos do mal fazem muitos; receitas de cura? Às vezes, receitas impossíveis, destrutivas!
Quando o contaminado se aproxima de Jesus não recebe um diagnóstico, senão uma mão que o toca movida por um coração cheio de misericórdia. Jesus não dá importância ao mal. É como o experiente em informática que ante o nervosismo do inexperiente, que pensa que perdeu todo seu trabalho, diz-lhe: calma! está tudo sob controle! e, pouco depois recupera todo o trabalho que parecia perdido. É impressionante escutar estas palavras de Jesus: “Quero! Fica limpo! Vá antivírus!”
Precisamos do Jesus descontaminador, mais do que nunca! Os sete pecados capitais nos têm como reféns, têm-nos bloqueados. Os sacramentos têm força terapêutica. São ações de Jesus, contato com Jesus, expressões interpessoais de seu amor. A Unção do Enfermo, a Absolvição do que se sente atado pelo pecado, demonstram a força do Espírito de Jesus. Quem deseja para valer um milagre, é porque já lhe foi concedido, ainda que ainda tenha que esperar um pouco. Quem está junto a Jesus não lhe dá importância a seu mal, nem a sua lepra, nem a sua contaminação. Quem se sente abaixo da vigilância do Médico amigo compassivo, já não teme.
Se o Senhor é meu médico, quem me fará tremer? Jesus nos pede para irmos ao sacerdote, ao templo, não para que certifique nosso mal, mais para que declare que fomos liberados. Sim, para que declare que o Espírito de Jesus vence a todos os maus espíritos!
Epidemias do bem, epidemias de esperança, de utopias, de bondade, são as que precisamos. E existem. E estão mobilizando-nos. Não só somos pacientes de más contaminações, também pacientes da Graça poderosa e vitoriosa que nos envolve. Vida e morte em singular batalha! Onde está, Morte, tua vitória?
Graças sejam dadas ao Nosso Senhor Jesus e a seu Espírito!
Pe .José Cristo Rey Garcia Paredes
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