PRIMEIRA SEMANA DA PÁSCOA 25ª30 abril 2011
CREMOS CRENDO NO TESTEMUNHO DE OUTROS
Do domingo da Ressurreição (24 de abril) até 12 de junho (Pentecostes) nosso calendário litúrgico é marcado pelo período chamado de "Tempo Pascal". Os textos nos apresentaram os primeiros personagens de uma série, todos vivendo a experiência de reaprender a fé, preparando-se para o Pentecostes, quando o Espírito transformará suas dúvidas em coragem para assumir sua missão de testemunhas da Ressurreição, conforme a primeira leitura de Atos 10: somos testemunhas de tudo o que Jesus fez.. de como o mataram na cruz ... de como Deus o ressuscitou ... de como ele se manifestou a testemunhas selecionadas – a nós, que comemos e bebemos com ele depois que ressuscitou dos mortos.
Esse discurso de Pedro é importantíssimo para cairmos na conta de que acreditamos no Ressuscitado porque aceitamos o testemunho transmitido por gerações e gerações que aceitaram a experiência dos companheiros de Jesus histórico. Mas, como eles, temos de mudar de tom: passando dos sinais (túmulo vazio, lençóis dobrados, testemunho de algumas mulheres) para os "encontros" pessoais com Ele.
RESSURREIÇÃO: A DELE E A NOSSA
Na verdade Jesus ressuscitou, isto é, morreu apenas uma vez, retomando sua vida que nunca mais lhe será arrancada. Mas nós, ainda não (ainda não morremos e, portanto, ainda não temos a experiência da vida após a ressurreição).
Jesus Cristo está junto do Pai no amor pleno do Espírito. Mas nós ainda não temos a plenitude dessa experiência. A ressurreição é o termo e o acabamento do longa caminhada humana conforme apresentada na Bíblia. Após tantas provações aconteceu a entrada do homem, do Filho do Homem, na Terra prometida. Eis realizada no homem a vitória de Deus sobre as forças da morte. Contudo essa entrada ainda está para chegar para toda a humanidade e para cada um de nós (MD).
Aí está o grande mistério da Páscoa para nós. Na Páscoa a Liturgia exclama a expressão tirada do salmo 117(118),24: Este é o dia que Senhor fez para nós. É verdade, portanto, que nós também vencemos a morte como que "agarrados" nEle, "arrastados" por Ele "entrando" na vida com Ele. Contudo, a nossa condição no Tempo é de "já e ainda não". É diferente da nova condição de Jesus ressuscitado.
NÃO É "RESSUSCITAÇÃO" NEM RESPIRAÇÃO BOCA A BOCA...
A condição dele, por sua vez, também não é de volta à vida anterior na Galileia e na Judeia, é "diferente" da vida anterior. Jesus não retoma a vida anterior da mesma forma que Lázaro voltou para o Tempo anterior. A vida de Jesus Nazareno acabou naquela cruz naquela sexta-feira há pouco mais de dois mil anos. Aquela vida foi "ultrapassada" mesmo que Jesus, como ressuscitado, continue "ele mesmo" e não "um fantasma" (como vai dizer aos discípulos).
É NOVA REALIDADE que IMPLICA UM NOVO OLHAR
Ele permanece com seus amigos (aliás, promete continuar junto deles e de toda a humanidade até o final do mundo). Mas ele permanece segundo um modo diferente. Por um lado não se extingue a experiência histórica do convívio anterior. Por outro lado o Ressuscitado não "repete" a mesma vida. É por isso só podem vê-lo ou tocá-lo, sentar-se à beira da fogueira para comer um peixe com ele, aqueles que ele escolheu para serem suas testemunhas. Paulo refere (1Cor 15,6) que e, dada ocasião esteve com "mais de quinhentos irmãos de uma vez, dos quais a maior parte ainda vive e alguns já são mortos". Os escolhidos são os varios grupos que vão das mulheres (que são as primeiras a estar pessoalmente com ele) aos apóstolos e muitos outros (como os do grupo referido por Paulo em 1Cor15,6).
Mesmo as testemunhas privilegiadas e encarregadas da grande notícia não captam a realidade da Ressurreição imediatamente por meio dos sentidos. Essa NOVA REALIDADE vai sendo aos poucos assimilada à medida em que aqueles discípulos conseguem adquirir um novo modo de olhar. Alguns exemplos mostram essa dificuldade inicial:
- Maria vê que fora removida a pedra da entrada do túmulo mas não "vê" o ressuscitado ainda. Até vai dizer a Simão e ao outro discípulo: levaram o corpo do nosso senhor e não sabemos onde o colocaram...
- Também Pedro e o outro discípulo que correram para ver aquela notícia de que o sepulcro estava vazio: um viu os panos de linho no chão.
- Pedro, que chegou depois do discípulo que correu na frente, viu os panos e também o sudário (que cobriu o corpo sepultado às pressas) dobrado, num canto.
- Maria em outro momento, quando continuava chorando junto ao sepulcro, conversa com alguém pensando que é o jardineiro daquele horto. Mas, em seguida, quando Jesus a chama por seu nome, ela tem um novo "olhar" e reconhece o Mestre. É com esse novo olhar adquirido que Maria Madalena se torna a primeira testemunha do Ressuscitado. Ela é a primeira "evangelizadora" (anunciadora) ou testemunha qualificada antes mesmo de Pedro, João e os demais. "Eu vi o Senhor", diz ela. Eu estive conversando com ele. Eu o reconheci !
COMO A AMIZADE OU O AMOR: AMADURECER NA FÉ É CONFIAR
É necessário, assim, um tempo de maturação para a fé. Nas próximas semanas vão aparecendo os exemplos de Tomé, de Pedro e de tantos outros. Até o "último dos apóstolos", o fariseu Paulo, também passará por um processo de conversão, primeiro quando
"caiu do cavalo" e depois durante o período em que ficou cego (Atos cap.9).
Nós nos lembramos da irmã de Lázaro e de sua declaração: "creio Senhor que ele ressuscitará no último dia, mas...". como ela nós também teríamos preferido alcançar logo a vida: "se aqui estivésseis ele não teria morrido"...
Onde está então a nossa ressurreição? Como aplicar à nossa vida comum e quotidiana a vitória que reconhecemos em Jesus Cristo na grande festa da Páscoa?
Peçamos a Deus que renove nossos corações para que a Páscoa aumente a nossa fé de modo a reconhecermos os sinais da misteriosa presença do Espírito no meio da vida diária que parece voltar a rotinas (para muitos após mais um "feriadão") pouco importantes quando comparadas com os "feitos heróicos" celebrados na Semana Santa.
OREMOS, ENTÃO:
· Para que acreditemos (exortação de domingo - Colossenses) que nossa vida "está escondida com Cristo em Deus" e, assim, possamos ter, no dia a dia a esperança da ressurreição futura mas também, como Lázaro liberto dos "panos da morte", caminhar na liberdade.
· Para que (com Madalena, Pedro e outros amigos de Jesus) procuremos luz para enxergar nas dobras do quotidiano mais do que um túmulo vazio e panos dobrados e, assim, exercitemos um novo olhar sobre os outros e o mundo à volta, reconhecendo não apenas as cicatrizes dos pregos, mas também a esperança de restauração da vida plena.
pois não haveis de me deixar entregue à morte,
Vós me ensinais vosso caminho para a vida (do salmo 15)
oooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo
( Prof. FernandoSM. – Rio de Janeiro – fesomor2@gmail.com )
OBS.:
UMA NOTA SOBRE A SEMANA SANTA que PASSOU
A Semana para alguns pode ter sido emocionante por causa de eventos teatrais ou folclóricas procissões. Para outros, talvez, ficou superficial apesar das vias-sacras e encenações ao ar livre. Para outros ainda, talvez se reduziu a curiosidades e comentários sobre ovos e coelhinhos, ou receitas culinárias da época, ou notícias na TV onde nutricionistas falam sobre chocolate e outras imagens mostram engarrafamentos no feriadão...
Até na celebração do Tríduo oficial, há quem faça acréscimos por devoções particulares como se faltasse algo aos solenes e marcantes símbolos e ritos da Liturgia. Às vezes idéias de invencioneiros extravagantes empolgam o pároco e equipes dos ministérios leigos, que introduzem na liturgia do dia muitos e longos comentários e até encenações "extras". Vemos exageros, para dizer o mínimo, do Lava-pés até a Vigília Pascal do sábado. É de se lamentar que o povo seja obrigado (até "massacrado") por muito falatório e novos "ritos". Ouvi um celebrante e suas várias homilias após o título de cada uma das 10 necessidades da humanidade (já descritas no folheto - "Oração Universal" da Sexta da Paixão). Vale lembrar que há celebrações onde não cabe homilia, onde são muitas e expressivas as leituras, orações e outros ritos. É claro que o bom senso permite breves introduções aqui e ali. No entanto, parece haver "novidades" pretendendo "concorrer" (corrigir?) a Liturgia oficial.
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