No tempo em que viveu Jesus, a cruz significava um castigo vergonhoso e humilhante, que se utilizava para fazer justiça aos que não eram cidadãos romanos por delitos ou crimes cometidos. A cruz aparece, pois, no contexto dessa época como uma forma humilhante de matar, porque o crucificado era pendurado num madeiro e morria por asfixia. A morte na cruz era uma forma de morrer cruel, vergonhosa e humilhante. Lentamente, a pessoa ia deixando a vida, entre a desidratação, o sangramento pelas feridas dos pregos e pela asfixia. Quando não queriam que o réu morresse tão rápido, não o crucificavam com pregos, o amarravam à cruz e simplesmente o deixavam pendurado para que este morresse depois de dois ou três dias. Mas quando queriam que a morte fosse mais cruel e de impacto, fincavam-no com pregos para que a pessoa sangrasse, igual quando se mata a um animal. Esta forma de morrer vergonhosa e humilhante se reservava para pessoas que eram muito odiadas. Portanto, se alguém dizia que teve um familiar que morreu numa cruz, as pessoas se perguntava que classe de criminosa seria o familiar dessa pessoa que foi executado numa cruz. A crucificação de Jesus foi pedida pelo povo judeu, incentivados pelos sacerdotes e fariseus, que viam em Cristo um inimigo e um perigo. Pediram para seu irmão judeu uma morte humilhante, a morte na cruz. A Palavra de Deus segundo São Mateus, capítulo 27, versículos 22 ao 26, conta como ocorreu o julgamento de Jesus: Tornou-lhes Pilatos: Que farei então de Jesus, que se chama Cristo? Disseram todos: Seja crucificado. Pilatos, porém, disse: Pois que mal fez ele? Mas eles clamavam ainda mais: Seja crucificado. Ao ver Pilatos que nada conseguia, mas pelo contrário que o tumulto aumentava, mandando trazer água, lavou as mãos diante da multidão, dizendo: Sou inocente do sangue deste homem; seja isso lá convosco. E todo o povo respondeu: O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos. Então lhes soltou Barrabás; mas a Jesus mandou açoitar, e o entregou para ser crucificado. (Mt 27, 22-26) Cristo Jesus morreu rapidamente, numas três horas, sangrando, desidratado e asfixiado, totalmente esgotado. Jesus levava uma tortura prévia na noite anterior, e tinha um sofrimento muito profundo a nível humano porque foi traído por seus discípulos. Isto é importante para poder adentrar-nos mais no mistério da cruz. Leiamos agora algo curioso que aparece na carta de São Paulo aos Gálatas, capítulo 6,versículos 11 ao 16. Diz São Paulo: Vede com que grandes letras vos escrevo com minha própria mão. Todos os que querem ostentar boa aparência na carne, esses vos obrigam a circuncidar-vos, somente para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo. Porque nem ainda esses mesmos que se circuncidam guardam a lei, mas querem que vos circuncideis, para se gloriarem na vossa carne. Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo. Pois nem a circuncisão nem a incircuncisão é coisa alguma, mas sim o ser uma nova criatura. E a todos quantos andarem conforme esta norma, paz e misericórdia sejam sobre eles e sobre o Israel de Deus. (Gálatas 6, 11-16) A circuncisão era um sinal de salvação para os judeus. A marca que ficava na pessoa era seu sinal de salvação. Mas para São Paulo nenhum desses ritos são salvíficos. É mais, nenhum rito feito por obra do ser humano é salvífico em si mesmo, porque ninguém pode salvar-se a si mesmo; somente Deus pode salvar-nos. Então, Paulo nos diz que se queremos gloriar-nos e salvar-nos que seja por meio da cruz de Cristo. Em São Paulo ocorre uma transformação. Paulo se gloria da cruz de Cristo pela qual ele morreu ao mundo. Paulo não quer gloriar-se de nada senão da cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pois por este meio o mundo morreu para ele. O que antes era um castigo vergonhoso se converte agora num timbre de glória, o sinal máximo de que estamos sendo salvados. A cruz de Cristo para os cristãos não significa simplesmente uma morte vergonhosa, pendurado em um madeiro. A morte de Jesus Cisto representa o pagamento ou resgate pelos pecados cometidos pela humanidade, porque não tinha maneira humana de pagar o que tínhamos feito de ofensas a Deus desde o princípio dos tempos até agora. Essa dívida somente podia ser paga com o sangue do Filho de Deus. A morte de Cristo é caminho de salvação pela forma em que morre, pendurado da cruz, pelas torturas e a forma desumana em que foi feita a justiça, pela intenção de Cristo de morrer por amor a nós e pela entrega que o Pai faz de Cristo pela salvação nossa. A morte de Cristo é o pagamento ou resgate por nossos pecados, o sacrifício supremo, a prova maior de amor, a oblação mais pura. Porque Cristo é Deus e homem, é de nossa parte imolação perfeita, a entrega total e o sacrifício máximo na qual o homem totalmente inocente, limpo e puro se oferece em sacrifício por todos. Jesus é o servo dolente de que fala o Profeta Isaías, que se oferece como sacrifício por tudo o que viveu em pecado a humanidade. Por isso a morte na cruz é o sinal máximo e a garantia suprema que temos de que estamos sendo salvados. Mesmo assim, livremente, qualquer um pode condenar-se. Mas, estamos sendo salvados por Deus porque Ele não condena; cada pessoa se condena a si mesma. A cruz se converte então no sinal máximo de salvação, a maior prova de amor, o selo que Deus imprime na história da salvação para dizer que a humanidade em Seu Filho se salvou. A cruz é salvífica como sinal da morte de alguém que deu tudo por nossa salvação. Nós estamos sendo fincados na cruz de Cristo e mortos ao pecado e ao mundo. A identificação é mística e espiritual; tem que ver com nossa maneira de envolver-nos com o mistério. Ele está fincado e morto à vida neste mundo. Nós, Nele, deixamo-nos fincar na cruz e morremos ao pecado e ao mundo. Por isso, Nele seremos ressuscitados. Esta é a forma de introduzir-se neste mistério salvífico. Bem como Cristo morreu à vida terrena, nós morremos ao pecado e ao mundo, envolvidos e identificados Nele. A cruz é sinal de salvação e nos gloriamos da cruz de Cristo, pela qual fomos fincados e mortos ao pecado. |
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