Segunda-feira, 28 de Fevereiro de 2011
Evangelho - Mc 10,17-27
O ciclo de reflexões sobre o Evangelho de João dá lugar às passagens do Evangelho de Marcos. E o mais interessante é vermos que estamos diante de um dos discursos duros de Jesus, que assusta aqueles que olham pela primeira vez o Evangelho.
Muito já se discutiu entre os estudiosos sobre essa passagem, e já foram formuladas muitas teorias para amenizar a dureza de Jesus para com os ricos, mas o que queremos demonstrar aqui é que o Mestre não estava abrandando nada para os que possuíam muito, mas estava os repreendendo duramente.
Uma das conclusões a qual chegaram era a de que camelo, em grego, significava uma corda grossa com que se amarravam os barcos. E que agulha seria uma pequena porta situada num dos grandes portões da muralha de Jerusalém. Ou seja, ambas as interpretações deixam mais "mansa" a afirmação de Jesus. Mas seria isso mesmo?
Em grego, a palavra kámelos (κάμηλος) significa exatamente o nosso camelo, palavra traduzida do latim camelus. Em Mc 10, 25 e em Lc 18, 25 a palavra usada é kámelon (κάμηλον), claramente para se referir ao animal. Com certeza, esse nome grego provém da palavra hebraica gamal (למג), que é usada para identificar aquele mamífero ungulado (Camelus Bactrianus), encontrado nos nossos zoológicos brasileiros.
Já o termo grego para agulha é raphís (ραφίς), aquele objeto usado para costurar – claro que era bem maior naquela época. Lucas usa o termo belónes (βελόνης), que significa agulha cirúrgica, usada para cuidar da saúde das pessoas.
Seja como for, não podemos ignorar que as palavras nos dizem muitas coisas da comparação de Jesus. Ele queria deixar bem claro que, para os ricos, a dificuldade é ainda maior para se alcançar a plenitude da vida, pois para um camelo atravessar o buraquinho da agulha é necessário que a "vaca tussa" primeiro!
Mas devemos entender, hoje, que Jesus se referia às dificuldades apresentadas a uma pessoa que acumulava bens em excesso. Aquele homem rico era bom e queria ajudar as pessoas, mas não era capaz de reconhecer a sua finitude e a futilidade de seus bens. Nos nossos dias, essa passagem pode ser estendida a todos aqueles que não conseguem se livrar de suas maldades, sejam ricos ou pobres.
Não devemos lutar contra os ricos de nossa sociedade, mas temos de cobrar aqueles que se enriquecem com o dinheiro público, do pobre e do miserável. Muitos pobres também são egoístas e avarentos, por isso não devemos ser cruéis, com ninguém. O que temos de fazer é vender todo o nosso apego e seguir Jesus radicalmente. E, para isso, todos somos convidados – ricos e pobres!
Fr. José Luís Queimado, CSsR (jlqueimado@ig.com.br)
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