Quarta-feira, 23 de Março
Evangelho - Mt 20,17-28
Este Evangelho traz para nós a declaração clara que Jesus fez aos seus discípulos sobre tudo o que ia acontecer com ele em Jerusalém: as acusações falsas, as torturas e a morte. Isso para que eles não tivessem ilusões a respeito do Mestre que seguiam.
Apesar disso, a mãe dos Apóstolos João e Tiago, fez a Jesus o seguinte pedido: "Manda que estes meus dois filhos se sentem, no teu Reino, um à tua direita e outro à tua esquerda!" Era um desejo de honra, que a mãe e os dois filhos tinham. E o Evangelho fala que os outros dez, ao ouvirem isso, ficaram irritados contra João e Tiago. Sinal que o mesmo desejo estava no coração de todos os doze: viam a participação no Reino de Deus como espaço para honras, glórias e destaque sobre os que não participavam.
Esse era o pensamento de todos os judeus a respeito do Reino de Deus; esperavam um Messias político, com poder e Reino temporal. Essa idéia estava também nos doze. Por isso lhes escapou completamente o que Jesus lhes acabara de anunciar sobre a sua paixão e morte humilhantes, embora coroadas com a glória da ressurreição. De fato, depois do que Jesus falou, não tinha cabimento pedir honras nesse Reino do Messias. Mas eles não haviam entendido nada, e o seu pensamento estava todo voltado para a ambição. Teriam, portanto, de aprender ainda muito.
Jesus não perde a oportunidade para catequizar os doze, futuros guias e pilares da Igreja: "Quer quiser tornar-se grande, torne-se vosso servidor; quem quiser ser o primeiro, seja vosso servo".
Na Comunidade cristã, a autoridade, e mesmo a fraternidade, devem ser sinônimos de serviço. No grupo dos seguidores de Cristo, não tem cabimento o domínio, o autoritarismo, a ambição e o desejo de poder. Isso fica para os "chefes das nações" e seus grupos.
Na verdade, Jesus não condena a autoridade nem o desejo de ser o primeiro; o que ele faz é inverter o modo de exercer a autoridade e de ser o primeiro, passando de dominar os subordinados para servi-los. A própria sociedade civil tem esse desejo, que está incrustado na palavra democracia, que significa governo do povo pelo próprio povo.
E Jesus apresenta como exemplo a si mesmo: "Pois o Filho do Homem não veio para servido, mas para servir". Quando participamos da Eucaristia e recebemos a Comunhão, estamos assumindo em nós a vida de Cristo, os seus critérios e este seu modo de viver em sociedade, na esperança de chegarmos assim à ressurreição.
Campanha da fraternidade. A sociedade é fruto da descoberta do homem de que, sozinho, não consegue satisfazer suas necessidades: alimentação, vestuário, moradia etc). Mas o acúmulo de bens gera relações de poder e manipulação de pessoas, e o bem pessoal é tido como mais importante que o bem comum. Assim, a convivência ficou perigosa, pois o "outro" passou a significar ameaça à satisfação dos interesses individuais.
A sociedade tornou-se insegura, tanto em relação a outros grupos sociais a ameaça externa – como em relação à convivência de seus próprios membros – ameaça interna. Existem inúmeros bairros de cidades grandes no Brasil em que padarias e mercadinhos têm grades na frente e os objetos são vendidos pelos buracos das grades. Mas há pessoas que rompem esse medo e até saem de casa deixando sua casa aberta.
Havia, certa vez, dois burrinhos que estavam amarrados um ao outro por uma corda. Eles estavam num curral, no qual havia dois feixes de capim.
Mas a distância entre os feixes era maior que a corda! Então eles ficavam forçando a corda, cada um querendo se aproximar do seu feixe de capim.
Até que, cansados, resolveram juntos comer um dos feixes e depois, também juntos, comer o segundo feixe.
É preferível o bom, unidos, do que o ótimo, desunidos. É a humildade que nos leva a trabalhar juntos, formando equipes, pastorais e ministérios. E é nas reuniões que planejamos a nossa caminhada juntos.
Nós não somos mais fortes que Jesus, que gemeu no Jardim das Oliveiras. Que Maria Santíssima nos ajude a seguir o seu Filho integralmente.
Eles o condenarão à morte.
Padre Queiroz
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