"Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus!" Essa já se tornou uma frase popular ao redor do mundo. O Evangelho de Marcos nos diz que alguns herodianos e fariseus foram tentar capturar qualquer pensamento de Jesus que pudesse condená-lo. Os herodianos eram partidários da dinastia dos reis Herodes. Na época de Jesus, quem governava a Galileia era Herodes Antipas, tetrarca também da Pereia, filho de Herodes, o Grande (aquele que interrogou os magos e mandou matar as criancinhas menores de dois anos, na narrativa de Mateus). Esses herodianos apoiavam a forma de governo de Herodes e não aceitavam a existência de agitadores, sendo Jesus o que mais incomodava no momento. Os fariseus, personagens obscuras do primeiro século de nossa Era, são postos sempre em confronto com Jesus. É certo que eles interpretavam as Leis contidas nas Escrituras Judaicas com muito rigorismo. A observância era estrita e meticulosa, e Jesus questionava o modo de vida dessas pessoas.
A resposta do Mestre a essa interpelação capciosa e perniciosa é uma das melhores formulações feitas por um homem simples de Nazaré. Jesus pede para que lhe trazerem uma moeda, provavelmente uma que fosse romana, com a figura de César (na época, o imperador Tibério César). Mostra o objeto aos curiosos ouvintes e lhes lança a pergunta fundamental: "De quem é esta imagem e inscrição?" Os seus adversários respondem: "De César!" Pronto, Jesus já tem uma saída maravilhosa, pois pede para todos darem ao imperador o que lhe pertence, e a Deus, outro tipo de doação; mas qual?
Bem, não seria essa resposta de Jesus um desafio claro ao poder do Império Romano? O que se deve dar a Deus? O que lhe pertence? Para o povo judaico, cristão e muçulmano, tudo pertence a Deus. A mesma idéia tinha Jesus de Deus: ele criou tudo, portanto, tudo deve ser lhe dado! Ou seja, o imperador não é maior que Deus, por isso, antes de dar algo a César, que se dê a Deus. Seria o mesmo que dizer: por que pagar tributo? Deus não é o dono de todas as coisas? Pague-se somente a ele, então!
Mas os oponentes de Jesus ficaram satisfeitos com a resposta, pois talvez tenham compreendido que Jesus estava incentivando o povo a pagar cargas pesadas ao Império e pagar o dízimo para o Templo. Estavam errados! Por outro lado, o povo ficou maravilhado com a resposta, pois havia entendido que as forças opressoras do Império não eram maiores que a imensidão de Deus, e existia alguém para questionar esses tributos indevidos: Jesus!
Que nós possamos, mesmo que veladamente, ser pessoas que defendam a vida, dia a dia. Pessoas de oração, que amem os seres humanos e o mundo em que vivemos. Gente que denuncie a hipocrisia de pesados fardos que muitos põem nas costas dos menos privilegiados. O Evangelho só vai começar a ter sentido em nossas vidas quando jogarmos fora a imagem de um Jesus que veio para os mais poderosos; que é um coitadinho; que não se irrita; que é covarde ante os opressores; que é a pombinha da paz. Jesus só mudou a humanidade porque teve coragem de gritar a todos os cantos que estava do lado dos mais fracos e desamparados. Que nós, seus seguidores e amantes, possamos continuar esse gigantesco projeto, indesejado por muitos que ganham a vida sugando os que já nada têm! Para esses, a melhor imagem de Jesus é a do cordeirinho manso, pois nunca atrapalhará os seus desejos de opressão!
Fr. José Luís Queimado, CSsR
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