09 de março- terça
A Palavra de Deus que a liturgia do XXIV Domingo do Tempo Comum nos propõe fala do perdão. Apresenta-nos um Deus que ama sem cálculos, sem limites e sem medida; e convida-nos a assumir uma atitude semelhante para com os irmãos que, dia a dia, caminham ao nosso lado.
A primeira leitura deixa claro que a ira e o rancor são sentimentos maus, que não convêm à felicidade e à realização do homem. Mostra como é ilógico esperar o perdão de Deus e recusar-se a perdoar ao irmão; e avisa que a nossa vida nesta terra não pode ser estragada com sentimentos, que só geram infelicidade e sofrimento.
Na segunda leitura Paulo sugere aos cristãos de Roma que a comunidade cristã tem de ser o lugar do amor, do respeito pelo outro, da aceitação das diferenças, do perdão. Ninguém deve desprezar julgar ou condenar os irmãos que têm perspectivas diferentes. Os seguidores de Jesus devem ter presente que há algo de fundamental que os une a todos: Jesus Cristo, o Senhor. Tudo o resto não tem grande importância.
O Evangelho fala-nos de um Deus cheio de bondade e de misericórdia que derrama sobre os seus filhos – de forma total, ilimitada e absoluta – o seu perdão. Os crentes são convidados a descobrir a lógica de Deus e a deixarem que a mesma lógica de perdão e de misericórdia sem limites e sem medida marque a sua relação com os irmãos.
Leituras Primeira Leitura - Leitura do livro do Eclesiástico (Eclo 27, 33; 28, 1-9)
Muitos homens do nosso tempo pensam que só nos afirmamos, só nos realizamos e só triunfamos quando somos fortes e respondemos com força e agressividade à força e agressividade dos outros. Jesus, contudo, ensina que a “sabedoria”, o êxito e a felicidade do homem não passam por cultivar sentimentos de ódio e de rancor, mas por cultivar sentimentos de perdão e de misericórdia.
Segunda Leitura - Leitura da carta de São Paulo aos Romanos (Rm 14, 7-9)
Existem, às vezes, nas comunidades cristãs certas pessoas que se consideram mais esclarecidas e mais preparadas e que manifestam desprezo por aqueles que têm concepções menos racionais da fé, que vivem agarrados a determinadas devoções ou a determinados ritos considerados ultrapassados. Paulo recomenda-lhes: “não desprezeis ninguém; não esqueçais que a única coisa importante e decisiva é Cristo, a quem todos pertencemos”.
Evangelho de Jesus Cristo, segundo Mateus (Mt 18, 21-35)
Embora pareça estranho, a maior ameaça de separação, de distanciamento e até de ódio, nos vem daqueles com quem mantemos as melhores relações! O espaço humano no qual mais felizes fomos, pode se converter no espaço de nossa indiferença.
Vemos casais que se separam, irmãos que se enfrentam, sócios que a partir de um determinado momento se odeiam, amigos que se traem, homens e mulheres de igreja que compartilham a mesma fé, o mesmo projeto de missão, a mesma comunidade, que se enfrentam.
A quem mais custa perdoar não é ao distante, mas os que em algum momento estiveram próximos.
Jesus, com sua sabedoria divina, nos disse para amarmos o próximo. E também que amassemos o inimigo. Mas resulta que o inimigo é o próximo, o próximo que nos ofendeu. No espaço da proximidade é onde se passa quase insensivelmente do Amor ao Ódio: uma paisagem de amor se torna por arte do encanto diabólico, em paisagem de falta de amor.
Parece que perdoar é injusto. Acreditamos, às vezes, que a justiça pede e exige e requer, acima de tudo, o distanciamento da pessoa que nos tenha ofendido. Então, impor-lhe um certo castigo, embora em silêncio, como o aparente desprezo... E só, muito depois, quando tudo foi apaziguado, não nos custo muito: talvez, como gesto de magnanimidade, perdoar. "O tempo tudo cura", se diz.
Mas, isso é que é perdoar? A isso se refere Jesus quando nos pede que perdoemos de coração a nosso irmão? E não uma vez, mais setenta e sete vezes?
Não. Perdoar é muito mais que um gesto magnânimo depois de passado o tempo para que a ofensa nos afete menos; perdoar é muito mais que essa compreensão com o ar de superioridade que diz: "perdoado", porque - afinal de contas - é um pobre homem; perdoar é muito mais que ter o conceito sobre si mesmo, que afirma: é muito difícil que alguém possa ofender-me.
Perdoar, de acordo com o modo de Jesus, é ver o outro, de outra maneira e transformar a si mesmo: recriá-lo com seu olhar positivo, envolve-lo em seu amor e permitir comover-se pelo que o irmão fez. Os conflitos entre as pessoas são um espaço providencial para o reencontrar e amar de um modo novo. Não são espaços para instalar tribunais e fazer justiças.
O instinto de vingança se apodera de nós. Desde criança aplaudimos o “vingativo” dos filmes. Se alimenta em nós o desejo de vingança em face à injustiça. A violência doméstica é manifestação de vingança. O rancor nos habita como uma besta, que nos faz viver tristes, agoniados. Não queremos encontrar a pessoa inimiga, a evitamos, porém, nós há levamos no coração, como um hospede não desejado.
O ódio é como uma hospitalidade negativa. O perdão é a transformação dessa hospitalidade no oposto. É converter o demônio em anjo. É o presente transformador, criador.
Perdoa sem condições, não quem quer, mas para quem foi determinado. Ante a ofensa surge espontaneamente a vingança. Mas quem se sente envolto na Misericórdia descobre que só vale a pena AMAR, quem sabe que o Amor transforma, que o olhar do amor converte, então faz do amor sua arma mais poderosa. Em vez de amaldiçoar, abençoa, em vez de retaliar, suplica.
Na Igreja há ainda demasiada falta de conciliação. Nós ficamos velhos em nossas tensões sem resolvê-las, em nossos mutuas críticas sempre reiteradas. Tantas lutas de irmãos contra irmãos, tantas acusações...
Na sociedade há demasiada falta de conciliação, excessiva oposição de uns contra os outros. Nos cristãos somos um mau exemplo, quando o rancor é tão forte e obstinado.
Jesus, nosso irmão, se coloca entre nós, é nos diz: que nós nos perdoemos uns aos outros, e comecemos a VIVER.
Sim, é verdade. O PERDÃO é um SUPER-PERDÃO que o Espírito Santo nos dá, para que nos presenteemos os outros. Venha, Espírito Santo e torna possível o impossível! Graças!
José Cristo Rey Garcia Paredes
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