28 - Segunda
(Mateus 2,13-18)
O anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse: Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito; fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para o matar.
Do jeito que os profetas anunciaram Jesus, realmente dava para os poderosos ficarem preocupados. Jesus foi anunciado como futuro rei de Israel. E Herodes, assassino, prepotente, violento e covarde, com medo de perder o seu emprego, mandou massacrar em Belém e nos seus arredores todos os meninos de dois anos para baixo.
Mas Deus não se deixou vencer por Herodes, e antes que o pior acontecesse, salvou seu Filho. A Sagrada Família, seguindo as instruções do anjo do Senhor, fugiu para o Egito. Foi uma viagem muito penosa, para José, Maria e O Menino Jesus. Enfrentaram a dureza do deserto, e por incrível que pareça, foram ajudados por um salteador de caravanas.
Partiram no escuro da madrugada. Com o nascer do sol, a areia do deserto começou a queimar a vista. Tudo tinha tonalidade de ouro derretido. O calor aumentava à medida que as horas corriam, eles não estavam acostumados a um clima daqueles. As caravanas se distanciavam a passos rápidos e a montaria não acompanhava. Começou a soprar o simum, o vento que traz a primavera. No começo, fraco. De repente arrebentou-se em tempestade tão forte que quase os jogava ao chão. Batendo na pele, a areia picava como agulha. Nenhuma árvore por perto. Maria, horrorizada, olhou para os cascos da montaria; pareciam estar se afundando! Terrível! Se interrompessem a marcha, corriam o risco de serem sepultados. Prosseguir era impossível. Maria apeou. Encolheram-se os três junto ao dromedário e, cobrindo a cabeça com o manto, rezaram para que a tempestade se acalmasse. Maria apertava desesperadamente Jesus contra o peito, com medo dele se sufocar.
Foi quase urna hora de agonia. Inesperadamente, do mesmo modo que começaram, as lufadas cederam. Tudo ficou em silêncio. José, assombrado, empurrou a manta coberta de poeira.
- Maria. Isso foi um milagre?
Ela não teve coragem de responder.
A areia tinha apagado o caminho, e ele perdeu o rumo. Entretanto, procurando não apavorar a mulher, tomou as rédeas e prosseguiu.
Tudo era desolação: Só se via céu, terra e deserto. O pequeno Jesus começou a chorar. Maria lutava por refrescá-lo espremendo o odre úmido. Mas ela e José também sentiam a garganta queimando e os olhos ardendo. O desespero aumentou porque não apareciam sinais de vida.
De repente, no horizonte, percebeu um cavaleiro. Depois outros. Mais outros! Maria ficou apavorada com a cor das capas ao vento, e o grito cortou a planície:
- José! São os soldados de Herodes!
José firmou a vista. Eram mais de vinte que vinham direto para eles. O suor começou a escorrer do rosto de José. O animal, sossegado, era incapaz de se apressar. Maria crispava as mãos, agarrando-se a Jesus.
-Depressa, José, DEPRESSA! Para onde ir? Os cavalos eram velozes, José não conseguia sair do lugar. Tudo aconteceu muito rápido e os homens se precipitaram sobre eles. Maria não viu mais nada. Apenas se dobrou num desespero sobre-humano, protegendo com o próprio corpo o filho tão querido. NÃO MATEM O MEU FILHO! gritava. O chefe do bando puxou as rédeas e desceu a mão à espada. José caiu de joelhos. Tão aterrorizado que não tinha voz.
- Misericórdia! Misericórdia! A explicação de José durou uma eternidade. O desconhecido ouviu, impassível. Brilhava nos olhos dele o cobre dos últimos raios do sol da tarde.
- Vocês são uns malucos! Observou, afinal. - Como pensam atravessar o deserto, sozinhos? O deserto é traiçoeiro, e quem não está acostumado a lidar com ele acaba mal. Vamos para o acampamento. Amanhã a gente cuida de trocar esse animal e unir vocês a uma caravana ... se realmente desejam chegar vivos ao Egito!
Maria sentiu que os nervos, de repente, relaxavam. Então ela beijou Jesus porque não podia beijar as mãos daquele bendito salvador.
Pasmem! Os desconhecidos eram salteadores de estradas. Viviam em tendas porque sempre precisavam mudar devido às constantes perseguições que sofriam. Entretanto, para Maria e José as tendas pareciam castelos erguidos na areia. Maria se sentiu segura. A mulher do chefe do bando era muito calada e tinha um filho mais ou menos da idade de Jesus. Ela ofereceu leite, queijo, frutas secas e mel. Quando terminou a refeição, as mulheres sentaram-se em almofadas para conversar enquanto os homens, lá fora e ao redor do fogo, contavam histórias do deserto. José simpatizou com os foragidos que cantavam e divertiam-se apesar de saberem que estavam com o pescoço a prêmio.
No dia seguinte, preparados para partir, a mulher do chefe apareceu à entrada da tenda com o filho no colo:
-Adeus, Maria! despediu-se ela timidamente.
Maria acenou a mão do Menino Jesus. - Diga adeus ao pequeno Dimas, Jesus!
Depois o grupo se afastou. Eles permaneceram com a família até que viajantes surgiram na estrada. Mais um aceno, e os benfeitores desapareceram como se engolidos pela areia.
- Coitada dessa gente, José!
Eles foram bons para nós....
(Extraído da Coleção: A vida de Cristo – Editora Três)
Sal.
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