Caríssimos,
Há alguns dias o mundo inteiro acompanhou extasiado as competições de uma das maiores e mais belas edições dos jogos olímpicos e, em minha opinião, também uma das mais desorganizadas, pois os chineses conseguiram sumir com a vara de Fabiana Murer, jogando no lixo, em poucos minutos, o trabalho e o esforço de muitos anos de nossa melhor saltadora. O que nos deu um pouco de alento depois desse vexame organizacional foi a conquista do ouro no salto em distância por Maurren Maggi. Ao longo desses jogos pudemos acompanhar limites sendo ultrapassados, recordes sendo batidos, como nas piscinas com Michel Phelps e Cesar Cielo e no salto com vara com a russa Yelena Isinbayeva, entre tantos outros. Esses atletas são só alguns exemplos de vidas dedicadas a um objetivo! São anos, centenas de dias, milhares de horas e muita renúncia para se chegar ao pódium de uma olimpíada. Conquistar o objetivo traçado e perseguido com tanto trabalho é fonte de glória e alegria inenarrável (equipe feminina de volei), mas deixá-lo escapar, causa dor profunda e insatisfação plena, como a de nosso judoca-herói Eduardo Santos, que ficou 10 anos na faixa marron por não dispor de R$ 1,5 mil para pagar a passagem para a faixa preta. Se na vida de um atleta esses são os dois únicos extremos possíveis: ou acerta-se e ganha-se ou erra-se e perde-se!, em nossa vida essa lei conserva a mesma validade! E aqui surge a pergunta:
EM QUE (ou em quem) ESTOU APOSTANDO TODAS AS FICHAS DE MINHA VIDA?
O Evangelho de hoje é continuação daquele do domingo passado. Nele, Pedro, após professar sua fé em Jesus (acerto irretocável e digno de um elogio grandioso), é designado como Pedra sobre a qual Ele construirá a sua Igreja. Hoje, Jesus anuncia aos discípulos o projeto do Pai sobre sua vida e como deveria ser entregue nas mãos dos judeus. Mais uma vez, tomando a palavra, Pedro dá uma bola fora que deixa Jesus desnorteado. De bola cheia à bola murcha da semana; de Pedra sobre a qual será erguida a Igreja à pedra de tropeço; de amigo a adversário (satanás); do céu ao inferno em duas frases. E isso tudo porque Pedro deixou de pensar as coisas de Deus passando a pensar as coisas dos homens...
Ele (e, por tabela, muitos outros dos discípulos) ainda pensava num Messias glorioso que viria subjugar o império romano e tornar Israel uma nação politicamente soberana. Cresceu ouvindo isso na sinagoga e não era nada fácil admitir que Jesus, o Messias, acabaria na mais vil e vergonhosa forma de morte: a morte na cruz. Acredito que eu, em condições idênticas, teria feito a mesma coisa. O legal nisso é que, com sua repreensão desastrosa, Pedro abre a possibilidade a Jesus de declarar que o mais importante não é viver minha vida de modo egoísta e medíocre, só pensando no meu próprio umbigo:
"Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois, quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la. De fato, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua vida?"
Então há algo maior do que a fama, do que o dinheiro, do que as posses, do que o poder, do que o querer tudo pra si, do que o tratar as pessoas como degraus sobre os quais pisar para evoluir numa carreira, do que pensar que os outros devem satisfazer todos os meus desejos e necessidades...
De que me vale ter o mundo aos meus pés se perco o dom mais precioso, a única coisa que realmente é minha, que é a VIDA? Não adianta eu me iludir: meu carro maneiro não me salvará!, minha casa cheia de conforto não me salvará!, minha conta no banco, não me salvará!, meu fechamento ao próximo, não me salvará!...
Portanto, qual atleta que, errando, aprende com seus erros, devo corrigir minha mira e acertar o alvo da minha existência! E o alvo és tu, Meu Senhor! É para ti que devo rumar! Todo o resto é secundário!
Seduziste-me, Senhor, e deixei-me seduzir...
Vosso amor vale mais do que a vida e por isso meus lábios vos louvam.
Quero, pois, vos louvar pela vida, e elevar para vós minhas mãos! A minh'alma será saciada, como em grande banquete de festa...
Não me conformarei com o mundo, mas renovarei minha maneira de pensar e de julgar, para que possa distinguir o que é da vontade de Deus, isto é, o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito.
Só assim serei considerado digno do prêmio que, misericordiosamente, tens reservado para mim, de acordo com minha conduta! Hoje eu escolho ACERTAR O ALVO e receber a glória devida por esse acerto, mesmo que isso me custe, pois devo aprender a dominar minha natureza egoísta e muitas vezes perversa, para me abrir ao Mais Importante. Quero nisso colocar todas as minhas forças, toda a minha concentração, todo meu empenho, toda a minha vontade, toda a minha inteligência, todo o meu coração, pois essa é a razão pela qual eu estou neste mundo!
Sei que tudo é teu e estarás comigo ajudando-me nessa tarefa!
Se sou fraco e pecador, bem mais forte és, meu Senhor, e me curas por amor!!!
CURIOSIDADE 1: A expressão que Jesus usa contra Pedro no Evangelho de hoje que é traduzida como "pedra de tropeço" nos originais grego é "skandalon" de onde deriva, na língua portuguesa, nossa palavra escândalo. De fato, quando por algum comportamento, palavra ou ato "escandalizamos" alguém, significa que somos para essa pessoa como uma pedra que a faz tropeçar no seu caminho rumo a Deus. Daí a gravidade com a qual Jesus critica Pedro como obstaculizador dos planos de Deus na vida de Jesus.
CURIOSIDADE 2: No Novo Testamento, quando se fala em "pecado" a palavra original grega é "amartia" que significa "errar o alvo". Daí provém que pecar é errar o alvo de nossa existência pois trata-se de uma atitude que desvía-nos de nosso alvo que é o próprio Deus. Tudo que te faz errar o alvo é "pecado". Pense nisso!
Observação: Este comentário foi escrito em 31/08/2008
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