2 de Novembro
Evangelho - Mt 5,1-12a
O mundo do revés
Há Igrejas nas quais encontramos placas que recordam o nome dos que doaram os bancos ou contribuíram na construção ou nas obras das reformas. Em muitas delas, figuram com letras maiores o que doaram mais dinheiro. A ordem de precedência em nossa sociedade, também em nossa igreja, é muito importante. Não é o mesmo um ministro que um diretor geral como não é o mesmo um bispo que um arcebispo ou um cardeal que um diácono. Nosso mundo tem ordem e hierarquia. Uns estão acima e outros estão abaixo. Os que estão acima costumam rir e ter muito mais que os que estão abaixo. A estes lhes tocam chorar e passar mais penúrias. Sempre tem sido assim e parece que sempre será.
Todas as tentativas para mudar esta ordem das coisas têm sido inúteis. A história termina devorando os revolucionários. Como diz o corrido mexicano: “meu pai foi peão de fazendo / e eu revolucionário / meus filhos puseram loja / e meu neto é servidor público.”
Mudar o mundo
Jesus é dos que acha que as coisas podem mudar. Sua experiência de Deus, sua relação profunda com o Abbá, diz-lhe que outro mundo é possível e que vale a pena trabalhar por ele. Daí suas palavras no texto evangélico deste domingo. A primeira parte de seu discurso soa-nos melhor. São as bem-aventuranças: uma série de bênçãos. Já as conhecemos. Falam do amor de Deus aos mais marginalizados, aos mais pobres, aos que lhes tocou a pior parte neste mundo.
O que nos custa aceitar é a segunda parte de seu discurso: as maldições. Como é possível que Jesus pronuncie essas palavras de condenação para os ricos, os que estão saciados, os que riem e os que são reconhecidos pelos demais? Não era necessário. Algum psicólogo talvez nos falasse de um desejo inconfessado de revanche, de vingança, contra aqueles aos que, sem culpa, lhes tocou a parte boa deste mundo. Talvez teria que recordar a Jesus que “os ricos também choram.”
Não há que dar voltas. As palavras de Jesus não se ajustam à nossa forma de pensar. Somos nós os que devemos escutar atenciosamente e com o coração aberto o que Jesus nos diz por mais surpreendente que nos possa ser. Jesus pronuncia bênçãos e maldições. Há uns que são os preferidos de Deus e outros aos que Deus afasta de sua presença. Há que sublinhar que os critérios de Deus são precisamente os opostos aos que usamos habitualmente na Igreja e na sociedade.
O Reino é para todos
Aqueles aos quais se amaldiçoa têm em todo caso uma via de escape. Primeiro deve fazer o esforço de sair de sua cômoda situação para aproximar-se dos preferidos de Deus. Talvez assim possam recolher alguma das migalhas que caem da mesa do banquete do Reino. Porque alguns não têm visto nunca a realidade da pobreza. Entre eles e essa realidade sempre têm estado os vidro escuros de seus carros ou os óculos de sol, que os impedem ver para além do que querem ver.
Mais ainda. Não é impossível que os que se sentem saciados encontrem o pão e o vinho que são o verdadeiro alimento que dá Vida. Mas para isso têm que fazer também algumas renúncias. Têm que chegar a sentir fome e que seja para valer. Têm que deixar de pôr a confiança em seus bens e começar a pôr no Senhor e nada mais que no Senhor, como também nos diz o profeta Jeremias. E abrir a mão e os olhos para compartilhar o que têm com seus irmãos e irmãs, com esses que são os preferidos de Deus – ainda que eles mesmos não o saibam em muitas ocasiões –.
Hoje as palavras de Jesus são um golpe em nossas consciências. Onde estamos? Onde queremos estar? Onde encontraremos a verdadeira Vida? Porque Jesus não quer o mundo como está senão ao contrário, como o quer seu Abbá.
Fernando Torres
http://www.ciudadredonda.org/subsecc_ma_d.php?sscd=157&scd=1&id=2893
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