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31 de out. de 2010

Os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do que os filhos da luz - Sexta-feira

05/11/2010

Lc 16,1-8

Neste Evangelho, Jesus nos conta a parábola do administrador infiel que, ao ser despedido, ficou preocupado com o seu futuro e, antes de prestar contas ao patrão, fez uma maracutaia, diminuindo as dívidas de muitos devedores. Sua intenção era, depois, pedir a um desses devedores que, em troca, o recebesse em sua casa, já que ele não tinha onde morar.

Jesus coloca o administrador entre os “filhos deste mundo”, em contraste com os filhos da luz, que são os seus discípulos. Portanto, Jesus não aprova o que o administrador fez. O que Jesus destaca é a esperteza dele e a inteligência, para fazer a corrupção de tal modo que o patrão não descubra. Se nós usarmos a nossa inteligência e a nossa esperteza a serviço do Reino de Deus, certamente o Reino de Deus vai ganhar, e muito.

A preocupação do administrador era ter um lugar para morar, sinal que nem isso ele tinha, apesar de trabalhar para aquele patrão durante muitos anos, pois não tinha forças para cavar a terra.

É de se perguntar se o que ele fez foi justo ou não, já que o patrão não lhe pagou o salário devido, nem seus direitos trabalhistas.

Mas Jesus não entra nessa questão. A mensagem da parábola é que nós, que vivemos neste mundo corrupto, precisamos ser muito espertos, senão, quando vamos com a fubá, o povo já está com o bolo pronto. Precisamos usar a nossa esperteza, dentro dos critérios do Evangelho, é claro, para ganharmos o céu e para darmos a mão a outros, ajudando-os a chegar lá.

Jesus usou várias vezes de astúcias semelhantes. Vou citar uma: “Os sumos sacerdotes perguntaram a ele: Com que autoridade fazes essas coisas? Jesus disse: Vou fazer-vos uma só pergunta. Respondei-me, que eu vos direi com que autoridade faço isso. O batismo de João era do céu ou dos homens? Eles discutiam entre si: Se respondermos Do céu, ele dirá: Por que então não acreditastes em João? Se respondermos: Dos homens, temos medo do povo que considera João um profeta. Responderam então a Jesus: Não sabemos. Jesus lhes disse: Pois eu também não vos digo com que autoridade faço essas coisas!” (Mc 11,27-33).

Também S. Paulo fez algo semelhante em Jerusalém, para se livrar da prisão: “Sabendo que uma parte do tribunal era composta de saduceus e a outra, fariseus, Paulo exclamou bem alto: Irmãos, eu sou fariseu e filho de fariseus. Estou sendo julgado por causa da nossa esperança na ressurreição dos mortos. Apenas falou isso, armou-se um conflito entre fariseus e saduceus, a assembléia ficou dividida...” (At 23,6-7) e por isso foi encerrada. Sabemos que os fariseus acreditavam na ressurreição e os saduceus não acreditavam. O que S. Paulo falou não era mentira, mas também não toda a verdade, porque ele estava sendo acusado por causa da sua fé em Cristo, da qual a ressurreição é apenas uma parte. Isso se chama restrição mental ou epiquéia. Consiste em, nas horas difíceis, falar apenas uma parte da verdade, aquela que vale como defesa própria ou da causa que defende.

Nós precisamos usar de muita sagacidade para conseguir cumprir a nossa missão de cristãos e de construtores do Reino de Deus. Para sobreviver neste mundo corrupto, precisamos usar, às vezes, de muita astúcia e sagacidade, pondo a nossa inteligência para funcionar. Afinal, Deus nos capacitou para isso, dando-nos muitos dons, talentos e carismas. E o próprio Espírito Santo, que é a inteligência em pessoa, está conosco para nos inspirar e ajudar.

Temos, portanto, condições de sobra para dominar a terra, cumprindo a ordem de Deus nas primeiras páginas da Bíblia.

Outro meio que temos é a vida em Comunidade. Sempre temos um ombro para chorar, um irmão ou irmã ao nosso lado para pedir ajuda e opinião. Por maiores que sejam os problemas, nós, junto com Deus e unidos em Comunidade, temos condições de vencer. Afinal, Deus continua sendo o Senhor do mundo e o condutor de todos os acontecimentos. Não cai nem uma folha de árvore no chão, sem que ele queira. Ele permite obstáculos, mas sempre deixa uma brecha para sairmos.

Certa vez, dois gansos, ao iniciar sua migração anual de outono, encontraram uma rã que pediu que a levassem com eles para o sul. Os gansos, desejando atender a vontade da rã, pediram que ela arrumasse uma forma de ser conduzida por eles. A rã apresentou um talo grande grama e os dois gansos o tomaram, cada um em uma ponta, enquanto a rã o agarrava, no centro, com sua boca. Dessa forma, os três seguiram viagem, com sucesso, em direção ao sul.

Alguns homens, que se encontravam trabalhando em terra, notaram o fato e, com admiração, comentaram em voz bem alta: “Quem teria imaginado alto tão inteligente?”

A rã, cheia de vanglória, abriu a boca para dizer que havia sido ela, mas, logo que soltou o talo, caiu e se fez em pedaços, ao bater violentamente no solo.

Esta a rã não foi esperta, por isso não venceu na vida.

Depois de Jesus, quem melhor soube viver neste mundo foi Maria Santíssima. Para fazer o bem, ela se misturou em todos os ambientes humanos, mas sem pecar nem se deixar contagiar pelo “fermento dos fariseus”. Santa Maria, ajudai-nos a ser bons e espertos administradores.

Os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do que os filhos da luz.

Padre Queiroz

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