15 de Novembro
Evangelho - Lc 18,35-43
São freqüentes em nossas sociedades essas "procissões seculares" que chamamos "marchas”, "manifestações". Estas "manifestações" incitam centenas, milhares e até milhões de pessoas. Normalmente fazem uma "viagem" simbólica. Nelas há sempre uma cabeça: pessoas qualificadas que vão à frente da marcha e um grande cartaz expõe qual é o motivo social da marcha. Atrás vêem todos os participantes que às vezes clamam, ou fazem gestos simbólicos ou levam cartazes que expõe as razões da mobilização. Há marchas contra a fome, contra a violência, a favor da paz, para reivindicar a liberdade, marchas de solidariedade...
Em não poucas marchas e manifestações de nosso tempo o motivo é a queda de ditaduras, a interrupção de guerras, a queda de políticos corruptos, a liberdade de grupos reduzidos à marginalidade e sua aceitação social...
As leituras deste domingo nos falam também de marchas e manifestações: uma esta no relato de Jeremias, a outra no relato de Marcos. Ambas estão misteriosamente relacionadas: pois a segunda é o cumprimento dos sonhos expressos na primeira.
Jeremias nos fala da "marcha da alegria": se trata de uma explosão de gozo coletivo, de uma grande manifestação festiva popular. Deus mesmo vai à frente da manifestação. Os participantes da marcha vieram desde o país do norte e congregados desde os confins da terra. Há entre eles cegos, coxos, grávidas, uma grande multidão. O objetivo da marcha é a terra da liberdade, as torrentes de água que enchem todos de vida, a casa do Pai, onde todos se sentirão filhos.
Marcos nos fala da “marcha decidida para Jerusalém". Esta marcha estremece, dá medo. Não se realiza nas melhores condições. A encabeça Jesus. Em três ocasiões predisse sua paixão e morte em Jerusalém nas mãos das autoridades. Os discípulos tinham medo, porém foram capazes de superar, e seguiram -mesmo estremecidos- Pouco a pouco vão se somando mais pessoas: “uma multidão considerável”, nos diz o evangelista.
Ao longo da marcha o Mestre, o Rabi, vai transmitindo sua mensagem: essa preciosa mensagem que temos meditado nos últimos domingos!
Ao sair de Jerico se integra à marcha um cego, Bartimeu. Ele se integra na manifestação com gritos muito estranhos: "Filho de Davi, Jesus, tem compaixão de mim". Esse é o seu “cartaz” político e messiânico! Quem não via, viu algo muito especial. Aquele que passa é o Filho de Davi, o rei autêntico de Israel, o filho legítimo de José. O cego Bartimeu põe o acento político na marcha. Proclama que quem vai para Jerusalém, encabeçando a marcha é nada mais nada menos que "o rei dos judeus". Por outro lado, reconhece que Jesus tem poderes terapêuticos e que pode curá-lo da sua cegueira. Soa o primeiro "Kyrie eleison" que depois repetiremos constantemente na Igreja. Os guardiões da ordem querem silenciar esta voz incômoda. Mas o brado chega aos ouvidos de Jesus. Jesus se identifica com as palavras e “para”. Não se aproxima, mais manda que o chamem e o integrem ao grupo. Estas palavras lhe soam muito semelhantes às que escutou de Maria de Betânia, na morte de Lázaro: "O Mestre esta aí e te chama” (Jn 11,28). E ele, aproximando-se a Jesus, lhe diz palavras semelhantes às de Maria Madalena: “Rabbuni, Mestre meu, Senhor meu!”. Quem vê com os olhos da fé, quer ver com os olhos físicos. Na verdadeira fé, a luz envolve o corpo. O cego pode ver. Jesus ilumina seus sentidos. O cego se incorpora à marcha e segue agradecido a quem a encabeça.
Ser Igreja é ser povo peregrino, povo em marcha. Nossa marcha não deve ser “uma viagem a lugar nenhum”, mais etapa de uma viagem com objetivos. Não é levar imagens sagradas pelas nossas, nem fazer manifestações de piedade que a não poucos incomodam e não entendem. Mas é seguir Jesus, nosso contemporâneo, ali onde Ele hoje se manifesta e marcha; ali onde hoje Ele reivindica a redenção realizada na cruz.
Deve surgir e renascer a Igreja popular, a igreja das grandes causas, a igreja que se aproxima de todas as velhas “Jerusaléns” que matam os profetas e assassinam os enviados de Deus. Seguir Jesus não é turismo religioso, mas compromisso messiânico com as suas grandes causas.
Jesus, filhos de Davi!
tem compaixão de mim!
E quando me ver cego, sentado no caminho,
descomprometido com tua causa,
temeroso e submetido aos poderes
da velha Jerusalém,
chama-me e dá-me forças para saltar,
para me afastar de meus maus pensamentos,
e segui-lo com alegria.
Quero me integrar na marcha dos redimidos
e perder o medo que me paralisa.
Jesus, filho de Davi!
tem compaixão de tua Igreja,
no inicio destes tempos.
A chame, a seduza, faz que venha.
Ponha-a em marcha
e que encabece, junto de Ti,
a grande Manifestação
de teu Reino que chega e tudo transfigura.
José Cristo Rey Garcia Paredes
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16 de novembro-2009 – segunda - O cego de Jericó
Evangelho: Lucas 18, 35-43
O cego em Jericó. A aproximação de Jericó assinala a última etapa da viagem de Jesus a Jerusalém. Aqui, como no incidente das crianças, os discípulos tentam impedir uma pessoa "insignificante" de perturbar o Mestre. O evangelista continua em outro nível a apresentar a vida da Igreja como uma viagem com Jesus no caminho do Senhor. A observação de que "os que iam na frente" são os que repreendem o mendigo é advertência sutil aos chefes religiosos que menosprezam as necessidades dos indefesos . Mas Jesus veio para esses humildes que expressam sua necessidade de salvação. Este capítulo é uma galeria deles: a viúva, o coletor de impostos, as crianças e agora o mendigo cego.
Em Marcos, o mendigo é identificado como Bartimeu. Cego como é, exclama com discernimento inspirado, chamando Jesus pelo título messiânico de "filho de David". Quando interrogado, ele vai mais longe e identifica Jesus como "Senhor". Em resposta a essa fé, recebe a mensagem de libertação que agora já é frase estereotipada: "A tua fé te salvou!". Tanto o mendigo como as testemunhas entendem o significado definitivo desse ato de poder e glorificam a Deus.
Nossa cegueira é muito grande. Fechamos nossos olhos diante de muitas coisas erradas que acontecem: Dentro de nós, na nossa família, na nossa vizinhança, no ambiente de trabalho, na escola e na sociedade. Com o receio de que alguém diga que estamos falando mal do próximo, nos calamos diante de muita coisa errada que as pessoas fazem em nossa volta e que muito nos prejudica.
É preciso diferenciar as palavras denunciar de fofocar. Falar mal do próximo é uma coisa. Denunciar o mal que o próximo faz, é outra coisa parecida, mas diferente. Os profetas anunciavam e denunciavam. Por isso eram mal vistos por aqueles cujas maldades que faziam eram apontadas pelos profetas. O próprio Jesus Cristo denunciou os defeitos principalmente dos fariseus e muitas vezes os chamou de hipócritas na cara deles.
Tem gente que ainda não entendeu porque Jesus foi morto. Se Ele era bom, como pode tê-lo matado? Se Ele era poderoso porque não destruiu os cravos que lhe pregaram na cruz?
Temos medo de denunciar. Temos medo das conseqüências e das retaliações. Por isso fingimos não ver o que os nossos jovens estão fazendo, fingimos não ver até o caminho que nos nossos filhos estão se embrenhando, por que a psicologia moderna diz que eles podem ficar traumatizados se agirmos com muita pressão em cima deles.
Errado! Jovem precisa de energia por parte dos pais e superiores. Porque mesmo com toda aquela arrogância, com aquele nariz empinado de quem sabe tudo, de quem pode tudo, os jovens no fundo são muito inseguros, por que não tem uma coisa que nós os maduros temos, que é a experiência. E os jovens precisam de controle, sim. Eles mesmos sentem quando os próprios pais não exercem esta energia controladora com eles. Eles sentem quando a direção da escola não os controla como deveria.
Se a diretora ou a professora quiser dar uma de boazinha e fechar os olhos para com os abusos e indisciplina dos jovens, se não colocar limite no seu comportamento, a escola com certeza se transformará num inferno.
Assim, também a sociedade. Se ninguém denunciar as coisas erradas que acontecem em nossa volta, o mal tende a crescer e se avolumar transformando em um monstro que vai nos devorar como já está acontecendo em certos lugares deste nosso Planeta .
O Cristão não deve falara mal do próximo, mas tem de denunciar sim, porque a nossa missão é construir um mundo melhor. E só conseguiremos isso através da denúncia das coisas erradas que o nosso próximo faz. Devemos atacar o erro e não a pessoa que o comete. Isso é outra coisa que também sempre confundimos, mas temos de separá-las.
Há um ditado que diz que “na casa da avó, tudo pode”. Infelizmente tenho de denunciar aqui um grande problema familiar que está neste momento corroendo as estruturas mestras das nossas famílias. Os avós não fazem por mal. Mas ao serem muitos liberais com os netinhos estão tirando a autoridade dos pais, e prejudicando a educação das crianças as quais quando crescerem, vão querer fazer tudo que lhes vêm na cabeça, e isso é mau uso da liberdade. Isso acarreta uma série de complicações familiares, sociais, morais e econômicas.
Sal
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