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4 de out. de 2010

O administrador esperto - Pe. José Cristo Rey

5 de Novembro

Evangelho - Lc 16,1-8

Jesus avisa os discípulos de que a aposta obsessiva no “deus dinheiro” não é o caminho mais seguro para construir valores duradouros, geradores de vida plena e de felicidade. É necessário - sugere Ele - que saibamos aquilo em que devemos apostar… O que é, para nós, mais importante: os valores do “Reino” ou o dinheiro? Na nossa atividade profissional, o que é que nos move: o dinheiro, ou o serviço que prestamos e a ajuda que damos aos nossos irmãos? O que é que nos torna mais livres, mais humanos e mais felizes: a escravidão dos bens ou o amor e a partilha?

Os Pobres serão nossos advogados no dia do Juízo?

Que poderemos alegar ante nosso Deus no dia em que nos receba na morada eterna? Quem nos defenderá ante seu justo julgamento, quem advogará por nós?

A valente denúncia de Amós

É uma constante na história da humanidade. Há gente que engana aos demais em proveito próprio. Cobram além da conta. Não conhecem nem de longe a gratuidade: tudo é objeto de venda. Põem preços abusivos. Utilizam balanças com armadilhas. Pisoteiam os pobres. Há gente sem escrúpulos que com obsessão de acumular dinheiro para satisfazer sua avareza ou seus caprichos, assaltam a quem encontram, ainda que seja de uma forma limpa. Que razão tinha e segue tendo o profeta Amós! Aquele profeta que se atreveu a denunciar fatos semelhantes na sociedade israelita do século VIII. A razão de tudo isso é o seguinte: que há um deus sem nome que atrai muito, muito: é o deus dinheiro! Jesus chamou-o "Mamón".

A corrupção econômica

Quem adora ao deus Mamón só pensa em saciar sua cobiça: nesta sociedade em que estamos tudo tem que ser pago! Cobram até o ar que respiramos! Aí está o taxista que pede uma quantidade exorbitante por um serviço a um estrangeiro, o restaurante que engana a seus ocasionais clientes com alimentos de baixa qualidade, a instituição pública que gasta mal o dinheiro obtido com os impostos dos cidadãos, os turvos negócios imobiliários, a utilização de informação privilegiada para privar outros de igualdade de oportunidades... sempre levando em conta unicamente o interesse próprio. Enquanto pagam-se quantidades gigantescas pelos serviços de um futebolista, no entanto, o serviço intelectual ou espiritual à sociedade fica comparativamente muito desvalorizado. Às vezes não há escrúpulos em realizar gastos milionários para o marketing, a vaidade e ostentação e o dinheiro dado aos pobres se controla até nos centavos.

Em que país não há queixas de corrupção, de malversação de fundos, de roubos e enganos? Em que país se está satisfeito com a administração?

Administração injusta globalizada

Jesus, em sua parábola apresenta-nos a figura de um administrador injusto. A sombra desse homem é muito influente. A administração injusta está globalizada na macro-escala e na micro-escala. Tentamos lutar contra a corrupção, mas a corrupção esta aí, oculta ou com a cara descoberta, sempre que o deus Mamón encontre aqui na terra adoradores.

As palavras de Jesus não põem em guarda sobre como é difícil é viver como filhos da luz numa situação global de má administração. Nossa missão não é fácil porque "os filhos das trevas são mais espertos que os filhos da luz". Quem se alimenta de enganos e fraudes, quem vive na desonestidade permanente, sabe encontrar saídas astutas para qualquer situação complicada; saberá a quem recorrer e corromperá a quem seja necessário, para não ser condenado e fará que se condenem inocentes sem o menor escrúpulo. Estas pessoas corruptas sabem também como se aproveitar da boa disposição de quem atua, animado pela bondade e retidão de sua boa consciência.

Essa é a linguagem da parábola que descreve uma situação concreta de desonestidade por parte de um administrador de quem se condena a atuação e se exalta a sagacidade na hora de evitar problemas, ganhando assim a estima de seus clientes, ainda que às custas de seu amo. Os "astutos" sabem sempre como se arranjar para sair de qualquer problema, porque sabem captar rapidamente a simpatia de outros para conseguir vantagens, enquanto os honestos e os pacíficos atuam com uma singeleza e desenvoltura que se confunde com a ingenuidade. E em certos momentos, assim é. Jesus nos quer "singelos como pombas, mas astutos como serpentes"; Jesus nos quer bons, mas não estúpidos ante as injustiças. Saibamos quais são nossos direitos, reivindicados também pela moral.

Qual religião? Deus ou o Dinheiro?

Adorar ao deus dinheiro é a idolatria de nosso tempo. Esta religião tem sua moral perversa, sua liturgia da exibição e do glamour, sua propaganda. Esta religião encontra às vezes cúmplices na religião do Deus verdadeiro. Também a figura de Judas é influente. Para isso se faz necessária uma teologia que o justifique, uma aparência que o solape.

O dinheiro não é idolatrado quando se acolhe como um instrumento que tem por finalidade o bem do próximo e a atenção aos mais pobres e indigentes, que serão sempre nossos amigos, agora e na vida eterna. O Juiz nos dirá naquele dia: "Tive fome e deste-me de comer". Se aqui atendemos aos mais pobres e lutamos por seus direitos e denunciamos toda injustiça e roubo, em seu favor, os teremos como advogados no dia do Julgamento.

Faz alguns anos trocamos de moeda: da peseta para o euro. Agora encontramos pesetas e nem lhes fazemos caso. Não nos servem! Este exemplo basta-nos para sublinhar que na realidade o único valor do dinheiro consiste em sua utilidade; e que este pode ser racionalmente orientado para o bem do próximo e não somente para nosso bem-estar.

Quem adora a Mamón se verá um dia com as mãos vazias e terá de confrontar-se com a acusação de milhares e milhões de seres humanos pobres que denunciarão sua conduta. Quem adora ao Deus-Amor fará de seus bens e seus dinheiros, instrumentos de amor, de solidariedade. Não enganará ninguém. No dia do Julgamento verá como uma multidão imensa advogara por ele ou ela.

José Cristo Rey Garcia Paredes.

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