(06/12/2010)
O DOM MAIOR É O PERDÃO!
Lucas 5, 17-28
Estamos diante de uma comovente e intrigante passagem do Evangelho de Lucas. O tema mais controverso dessa perícope (trecho) nem é a cura que Jesus realiza, mas sim a sua audácia em perdoar os pecados.
Para o judeu da época, se alguém afirmasse que possuía poder de perdoar pecados, essa pessoa estaria se igualando a Deus, e mereceria a morte. Esses foram os motivos que levaram Jesus à cruz, principalmente devido aos questionamentos à estrutura social e religiosa da época.
Quanto ao ato inusitado daqueles homens de descer o paralítico pelo telhado, muito se tem questionado a respeito do conhecimento do terceiro evangelista sobre a realidade palestinense do primeiro século. As casas daquela época, e daquela região, eram feitas de tijolos simples, rebocadas com barro, o chão de terra batida, e possuíam o teto feito de madeira (bambu), coberto de palhas e plantas da região. Não existiam telhas de barro cozido, como muitas casas romanas.
Marcos, narrando esse mesmo fato, diz: “Trouxeram-lhe um paralítico, carregado por quatro homens. Como não pudessem apresentar-lho por causa da multidão, descobriram o teto por cima do lugar onde Jesus se achava e, por uma abertura, desceram o leito em que jazia o paralítico”. O verbo grego usado por Marcos é “apestégasan” (ἀπεστέγασαν), que significa “removeram o teto”. Por isso, não foram tiradas telhas, como disse Lucas, pois não existiam telhas nas casas simples daquela região.
Mateus, também se referindo a esse acontecimento, nem mesmo cita o episódio do telhado, somente assinala a indignação dos escribas ante a atitude de Jesus em perdoar os pecados do paralítico. (Mt 9, 2-7).
Mesmo assim, como já se assinalou antes, o interesse do evangelista Lucas, mais do que mostrar a fé na atitude daqueles homens, era o de evidenciar a diferença de Jesus com relação a outros profetas. Ele era o Filho de Deus, com poderes de curar; mais do que isso, com poderes de perdoar aos pecadores os pecados.
Para o evangelista, Jesus precisava provar a sua autoridade de dar o perdão; e, para isso, tinha de realizar algo miraculoso. O milagre confirma o múnus do Mestre de perdoar os pecados.
Algo que nos impressiona é o desfecho do acontecimento. O paralítico se levanta, pega a cama (maca), e vai embora. Ou seja, Jesus não esperava que ele o seguisse, mas a missão daquele que recebeu o perdão e a cura era outra: glorificar as maravilhas de Deus em sua casa (terra). A cama vai com ele, pois representa a sua vitória diante dos males que o afligiam. Afinal, a primeira atitude de Jesus ao ver esse paralítico não foi a de curá-lo, mas foi a de perdoar-lhe. Assim sendo, os pecados que a sociedade lhe atribuíam eram mais pesados do que a sua própria condição de deficiência corporal.
E hoje? Seríamos capazes de atitudes audazes para aquecer a nossa fé? Os telhados que impedem as pessoas de chegar a Cristo são cada vez mais difíceis de serem removidos! Esse é o nosso trabalho: libertar aqueles que não têm voz nem vez, ajudá-los a remover as barreiras que os impedem de vivenciar a fé intensa em Jesus, e nos perdoarmos mutuamente! Este é o dom mais divino que Jesus poderia ter nos dado: o perdão!
Lucas 5, 17-28 – O DOM MAIOR É O PERDÃO!
Fr. José Luís Queimado, CSsR
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