Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe.
Neste Evangelho, Jesus, aproveitando o aviso de que sua mãe e familiares queriam falar com ele, anuncia-nos a prioridade que deve ter o Reino de Deus, inclusive sobre os vínculos familiares. Não há, aí, nenhum menosprezo por sua mãe, Maria, nem desinteressa pela sua família. O uso lingüístico hebreu e aramaico aplicava o termo “irmãos” aos primos e parentes próximos.
Vemos aí um eco daquelas outras palavras de Cristo: “Se alguém vem a mim, mas não me prefere a seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs, e até à sua própria vida, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,26).
Jesus, ao proclamar familiar seu todo o que cumpre a vontade de Deus, muito longe de rejeitar a sua própria mãe Maria, está exaltando-a; porque ela foi a primeira que cumpriu a vontade de Deus na sua vida, com o seu “faça-se” inicial e definitivo. Cristo, ao abrir o círculo do parentesco com ele, fundado nos valores do Reino que são superiores aos laços da carne e do sangue, está afirmando a união perfeita que existe entre ele e sua mãe, por dois motivos: os vínculos de sangue e a convergência sem discrepância no espírito do Reino.
A Família de Deus, que tem o seu fundamento na obediência a Deus, tem prioridade sobre os laços de sangue. Jesus demonstrou isso também quando seus pais o encontraram no Templo, depois de o procurarem durante três dias: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que eu devo estar naquilo que é de meu pai?” (Lc 2,49). Em outras palavras, Jesus lhes falou que a sua condição filial a Deus Pai e a sua obediência a ele deve prevalecer sobre a autoridade e os laços familiares. “Eis que venho, ó Pai, para fazer a vossa vontade” (Hb 10,7).
O desapego de Jesus em relação à sua família natural é “teológico”,mais que afetivo.
O Evangelho relativiza a instituição familiar no tocante à resposta da pessoa a Deus. O homem e a mulher, a criança e o jovem, abrem-se mediante a fé a outras relações que superam as meramente familiares, do mesmo modo que, na sua evolução social, os adolescentes e jovens se abrem a outras influências extrafamiliares: cultura, estudos, idéias, amizades...
Isso não contradiz a vocação familiar de educadora da fé. Que “a família cristã proclame em voz bem alta os valores do Reino”, como escola de fé que é para a vida (Concilio Vaticano II, LC 35).
Pe. Orlando de Morais foi o primeiro redentorista brasileiro da Província de S. Paulo. Ele era goiano, nascido na cidade de Bonfim – GO. Trabalhava no Santuário Nacional de N. Sra. Aparecida. Um santo homem de Deus. Nunca teve boa saúde. Foi nomeado bispo, mas recusou por motivo de saúde.
Sua doença se agravou. Dia 07/12/1924, pressentindo que a morte já estava próxima, arrastou-se até o quarto do Superior, Pe. Francisco Wand, e pediu-lhe a bênção para morrer. Pe. Francisco lhe disse: “Nem hoje nem amanhã, que é dia de festa e de muito trabalho. Espere um pouco”. Nove dias depois, dia 16/12/1924, ele voltou ao quarto do Superior, pedindo novamente a licença “para viajar”. Pe. Francisco respondeu: “Agora sim”. Pe. Orlando voltou a seu quarto e entrou em agonia, vindo a falecer horas depois.
Poucos dias antes da sua morte, Pe. Francisco, que bem conhecia a virtude do seu súdito, pediu-lhe que, chegando ao Céu, lhe mandasse um conto de Réis, para pagamento de uma conta urgente da Basílica. Após o enterro, uma senhora desconhecida apresentou-se no convento, entregando ao Superior uma rosa feita com cinco notas de duzentos mil Réis cada.
Felizes os pais do Pe. Orlando, em Bonfim – GO, que lhe transmitiram a fé e a santidade!
Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe.
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