02 de maio
Após tantos domingos celebrando a páscoa, a ressurreição do Senhor, chegamos ao centro da vida cristã: o amor. Hoje as três leituras estão centradas sobre o mesmo tema: amor. Aí é onde reside a nossa fé em Deus. Ser cristão não é questão de recitar o credo nem de compreender perfeitamente cada uma de suas expressões. Também não é questão de participar na liturgia da Igreja nem de cantar salmos todo o dia nem de fazer muita penitência e sacrifícios. Não é questão de entregar nossa alma e vontade a Deus e nos fazer seus escravos. Não é questão de ser mais ou menos pobres. Nem sequer é questão de rezar muitas horas ou de fazer os exercícios inacianos.
Tudo isso pode ajudar. Mas não é o centro. A chave, o centro, o mais importante está bem claro na segunda leitura: “Amemo-nos uns a outros já que o amor é de Deus”. E poderíamos acrescentar, citando também João: “Porque Deus é amor”. E não há outra forma de conhecer Deus, de viver Deus, de seguir Jesus, do que amando. E amando como Deus, que acolhe a todos e não faz distinções.
O nosso é puro agradecimento
Há uma questão que não devemos esquecer sobre o amor: é que ele nos amou primeiro. Não devemos esquecer nunca. O nosso é amor de resposta, por assim dizer. Não temos mais que voltar os olhos a ele para nos dar conta. O nosso não é mais que agradecimento, ação de graças. É o mínimo que pode fazer uma pessoa educada ante ao que lhe estende a mão na dificuldade.
Deus é o que se aproximou a nós. Encarnou-se. Fez-se como nós. Fez-se um de nós. Compartilhou nossos caminhos e nosso pão e nosso vinho. O peixe assado e o suor do cansaço no trabalho. O gozo da fraternidade e o desprezo dos que não quiseram escutar sua palavra próxima, reconciliadora, salvadora. Ele é nossa imagem de Deus, nossa forma de conhecer a Deus. Seu rosto é o rosto de Deus para nós. Não há outro meio nem outro caminho.
O mandamento do amor
É o que nos diz o Evangelho deste domingo. É um texto que se abre com uma afirmação na qual Jesus dá depoimento do que tem sido sua vida: “Como o Pai me amou, assim eu vos amei” e que termina com um mandato, o único mandato, a única ordem, a regra das regras, a que contêm todas e, no entanto, nos abre à maior das liberdades: “Isto vos mando: que vos ameis uns a outros”. Não faz falta mais.
Agora podemos jogar um olhar ao nosso arredor. Sair à rua e contemplar-nos a nós mesmos em nossas relações com os demais, com os familiares e vizinhos, com os amigos, com os colegas de trabalho... Podemos recordar nossos comentários sobre os políticos, sobre as personagens que vemos na televisão. E olhar se nós somos capazes de “amar primeiro”. Porque aí está a jogada, chave de nosso ser cristão. Seguir a Jesus não é só “amar”. É algo mais. É “amar primeiro”. Aí é onde experimentaremos o gozo e a alegria de ser como Jesus e, por tanto, como Deus.
Assim começaremos a construir o Reino, esse espaço de fraternidade e gozo e paz que, às vezes, só algumas vezes, somos capazes de experimentar em nossa vida. Nesse esforço estaremos contribuindo para que tenhamos um mundo melhor (não se trata de pensar no outro mundo senão neste, aqui e agora). E iremos fazendo realidade o sonho de Deus para nós, o sonho que nosso Criador sonhou para suas criaturas e que se frustrou no Calvário e que, a trancos e barrancos, Deus conseguiu sacar adiante ressuscitando a Jesus dentre os mortos.
Fonte: Fernando Torres, cmf |
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