03 DE ABRIL
Sábado Santo - Vigília Pascal
“Jesus jaz na tumba e os apóstolos crêem que tudo terminou. Todo o dia de sábado seu corpo descansa no sepulcro. Porém, sua mãe, Maria, se lembra do que disse seu filho: Ao terceiro dia ressuscitarei. Os Apóstolos vão chegando a seu lado, e Ela lhes consola.”
O Sábado Santo é um dia de luto imenso, de silêncio e de espera vigilante da Ressurreição. A Igreja em particular recorda a dor, a valentia e a esperança da Virgem Maria.”
Ela representa a angústia de uma Mãe que tem entre seus braços seu Filho morto, porém não se pode esquecer neste momento, Ela é a única que conserva em seu coração as palavras do ancião Simeão, que bem profetizou que Cristo seria sinal de contradição e uma espada lhe transpassaria a alma, também indicou que Jesus seria sinal de ressurreição.
O que os discípulos tinham esquecido, Maria conservava no coração: a profecia da ressurreição ao terceiro dia. E Maria esperou até o terceiro dia.
Comentário
A Ressurreição do Desaparecido
A celebração desta noite nos oferece uma perspectiva esplêndida da história. Fala-nos da origem do fogo, da luz, de nosso nascimento na água. Evoca-nos os grandes textos de nossa tradição que relatam a criação, o êxodo, as vozes proféticas que deram senso à história.
Porém, o mais surpreendente acaba se ser proclamada na leitura do evangelho de Lucas. O texto nos comunicou o fenômeno mais surpreendente na história humana: o desaparecimento total do Corpo morto de Jesus.
Em três dias um corpo morto não se dissolve totalmente. A hipótese de um roubo ou profanação da tumba foi desde o princípio descartado. O que aconteceu?
Testemunhas do desaparecimento misterioso do corpo foram somente mulheres: Maria Madalena, Joana, Maria de Santiago e outras. Todas elas discípulas de Jesus que o haviam seguido desde a Galiléia e tinham chegado até o Calvário e assistido a sua execução, embora de longe.
Estas mesmas mulheres queriam ungir o corpo de Jesus, mas quando chegaram de manhã ao sepulcro, o encontraram vazio.
Dois homens com vestidos luminosos - símbolos talvez dos primeiros evangelizadores da Ressurreição, como por exemplo, Paulo em 1 Cor 15 -, lhes anunciam o desaparecimento e a motivo: o corpo morto tinha sido ressuscitado por Deus; tinha assumido uma forma de vida muito superior a anterior, o Espírito de Deus o converteu em portador de vida eterna; mais real que o real! Mais vital que o vivente!
O corpo não desapareceu. Os olhos humanos já não podem perceber tanta densidade ontológica, uma realidade inimaginável, tão divina. Os sentidos colidem com os seus limites. Ante tanta visibilidade e luz, os sentidos se cegam, ante tanta realidade o tato se torna insensível, ante a voz tão esplendida e transformadora, o ódio se torna absolutamente surdo.
"Não está aqui!" os dois mensageiros nos indicam que somente a quem é concedido superar este nível, poderá reconhecê-lo e senti-lo. As mulheres são convidadas a recordar, como a Mãe de Jesus, as palavras do Senhor quando, vindo da Galiléia para Jerusalém lhes falou de sua morte e ressurreição. As discípulas recordaram e creram! Não buscaram Jesus. Creram Nele como vivente.
Os discípulos masculinos, por outro lado, se sobressaltaram ante o anúncio das mulheres. Eles não acreditaram. Pedro iniciou sua busca particular. Estranhou o que viu no sepulcro, porém o corpo de Jesus não estava lá.
Não deixa de ser uma ironia da vida que aqueles a quem - como dizemos - confiou Jesus seu corpo na “Última Ceia”, seja aos que perderam a perspectiva de sua fé; e aquelas a quem - segundo dissemos - Jesus não confiou seu corpo, sejam as que vão embalsamá-lo e depois as mais preocupadas em encontra-Lo, não têm dificuldade em crer em sua presença real embora invisível.
Esta noite celebramos a ressurreição, mas sem aparições. A Ressurreição do Desaparecido.
O excelente relato de São Lucas nesta primeira parte - antes de qualquer aparição do Ressuscitado - nos confronta com a qualidade de nossa fé e confiança. Cremos de verdade na realidade de Jesus e desconfiamos da capacidade de nossos sentidos para detectá-lo? Estamos convencidos de nossa necessidade de um “suplemento de fé”, dados os limites de nossa percepção sensorial. “Vem a fé por suplemento os sentidos completar” (praestet fides supplementum sensuum defectui).
Se nos é concedido crer na Ressurreição, translademos à região da vida; deixemos nossas tumbas e lamentações; não nos preocupemos tanto com os sepulcros. Todo corpo morto tem data de vencimento. Está ameaçado de vida. Deus Pai e seu Espírito estão vigilantes. A qualquer momento dirão a outros corpos aquelas palavras pascais: “Tu és meu filho, minha filha... eu te gerei hoje!”.
É esta noite o momento principal e fundamental da história. Nela somos convidados a entrar no limiar da Páscoa, onde tudo muda de sentido e a Esperança nos acolhe.
José Cristo Rey Garcia Paredes
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