30 de março
Jó 13, 21-33.36-38
“...afasta de sobre mim a tua mão, põe um termo ao medo de teus terrores. Chama por mim, e eu te responderei; ou então, falarei eu, e tu terás a réplica. Quantas faltas e pecados cometi eu? Dá-me a conhecer minhas faltas e minhas ofensas. Por que escondes de mim a tua face, e por que me consideras como um inimigo?”
Estamos diante de uma oração de desespero de Jó, na qual ele interroga e exige de Deus uma explicação sobre as suas faltas ou pecados que o teria levado a tamanho sofrimento.
Jó foi um homem rico e piedoso, que perdeu todos os seus bens e foi
atingido por uma doença muito grave (provavelmente a lepra). A partir daí se desencadeia um confronto entre Jahweh e Satanás sobre o tema da virtude desinteressada de Jó, que se recusa a culpar a Deus pelas suas desgraças.
A tradição de Jó como personagem do folclore primitivo é sugerida por Ez 14,14.20, que menciona Noé", Daniel" (não o Dn do AT) e Jó como três homens justos. Jó e seus amigos não são apresentados como israelitas, o que faz pensar em uma origem estrangeira do relato popular. R. H. Pfeiffer pensava que não apenas o relato original, mas também grande parte do próprio livro fosse de origem edomita", adaptado por um poeta israelita; essa solução não agrada a muitos críticos, embora não seja improvável o caráter edomita do relato de Jó.
De qualquer forma, não há motivo para afirmar nem para negar a existência histórica de Jó. A alusão à sua paciência em Tg 5,11 não implica em sua historicidade, da mesma forma que a parábola do bom samaritano não exige uma base histórica.
2. Elogio da sabedoria (28). Este poema não se coaduna facilmente com os discursos de Jó e de seus amigos. A maior parte dos críticos o considera como um trecho isolado de literatura sapiencial (talvez devido ao autor do livro de Jó) que depois foi inserido na atual estrutura do livro.
3. Os discursos de Eliú" (32-37). Quase todos os críticos modernos consideram que esses discursos foram acrescentados posteriormente. Eliú não aparece em outro lugar além desses discursos. Em termos de estilo e de profundidade de pensamento, seus discursos não alcançam o nível dos diálogos. Eles constituem um exemplo de como a literatura hebraica se desenvolveu através do acréscimo das reflexões de algum leitor posterior, que desejava contribuir com suas próprias idéias para o tema discutido no texto. Alguns críticos mais antigos pensavam que a doutrina de Eliú sobre o valor educativo do sofrimento representasse a solução do problema proposto pelo autor do livro. Essa opinião é geralmente rejeitada. É improvável que o autor do diálogo tenha construído sua obra tendo em vista uma solução tão inadequada; ademais, com base nessa opinião, seria difícil inserir no livro os discursos de Jahweh.
O problema de Jó já fora proposto explicitamente em um poema mesopotâmico, chamado Ludlul bel nemeqi, "eu louvarei o senhor da sabedoria" (nome tirado do início de seu primeiro verso) (ANET 434-437). Entretanto, seria exagerado
designar esse poema como um "Jó babilônio". O seu autor mostra-se aflito sem saber porquê, já que sempre foi fiel aos deuses em todos os seus deveres - então por que o deus se mostra colérico? A sua verdadeira solução consiste no pensamento de que talvez o homem não saiba: aquilo que é bom para o homem poderia ser mau para
os deuses e aquilo que o homem considera mau, ao contrário, poderia ser bom para os deuses. Mas o autor não se permite deter-se nesse pensamento: suas dores são aliviadas por uma libertação' tão mecânica e irreal quanto o epílogo de Jó.
A forma literária do diálogo não encontra paralelos no AT. Encontra-os, porém, na literatura extra-bíblica, como, por exemplo, no diálogo egípcio entre um homem e sua alma (ANET 405- 407). Entretanto, nenhum escritor do antigo Oriente Médio conseguiu tratar o diálogo com a perfeição que se pode observar em Jó. No diálogo
encontram-se muitos ecos de hinos e lamentações dos Salmos". Algumas correntes críticas mais radicais são recordadas aqui apenas para demonstrar que o livro é mais complexo do que parece, pois geralmente já foram abandonadas. Com base no principio de que grande parte do A T se desenvolveu através de acréscimos sucessivos de meditações reflexões - princípio que, de resto, deve ser aceito -, essas teorias geralmente pensam que todo o diálogo se deve a sucessivas estratificações
de pensamento em torno do tema do livro. E.Sellin pensava que se tratava de sucessivas reflexões de um só autor, cujo pensamento se teria desenvolvido e modificado. A objeção a essas teorias é a evidente presença no livro de um gênio lide primeira grandeza, bem como de uma e de espírito e de concepção difícil de se explicar.
Fonte: Dicionário Bíblico.
Sal
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