No dia do Corpo e do Sangue do Senhor muitos povos e cidades vestem-se de gala, suas ruas enchem-se de flores e tapetes de pétalas para receber a procissão do Santíssimo. É uma tradição que hoje tem bastante de folclórica, mais que expressa bem o sentir do povo cristão ante esse passeio do Sacramento da Eucaristia pelas ruas e praças onde tem lugar a vida real e ordinária das pessoas.
Essa procissão nos diz algo muito profundo da Eucaristia: é um sacramento que tem que ver com a vida real das pessoas, que está em relação com elas. É um sacramento de comunhão, como deixa bem claro a leitura da primeira carta aos Corintios. O cálice e o pão são comunhão, palavra chave, com o Corpo de Cristo.
Comunhão com o Cristo Total
O Corpo de Cristo neste caso não se refere ao seu corpo físico senão a sua realidade global, Cristo como cabeça do corpo total da humanidade, criação de Deus, filhos seus, membros de seu Reino. Comungar com o Corpo e o Sangue de Cristo é entrar em comunhão com esse corpo global, é sentir-nos parte dessa realidade maior que é o núcleo do Reino no qual todos somos filhos e filhas de Deus no Filho, em nosso irmão maior, Jesus.
A Eucaristia não faz sentido fora dessa comunhão. A Eucaristia não é uma realidade mágica que pela pronunciação de umas palavras transforme a realidade física do pão e do vinho em outra realidade que cause automaticamente a salvação do que a recebe. A Eucaristia é uma celebração de fé na qual todos os que participam entram em comunhão com o Corpo de Cristo e nessa comunhão, significada no pão e no vinho consagrados, se fazem Corpo de Cristo, se fazem comunidade de filhos no Filho, são presença do Reino no aqui e agora deste mundo.
Alimento para a comunhão
A Eucaristia, o Corpo e o Sangue do Senhor, é alimento que dá a vida ao povo que caminha no deserto (primeira leitura). É pão e vinho para continuar a marcha que nos leva à comunhão plena com toda a humanidade e com a criação. É um pedaço de pão e um pouco de vinho nos quais se concentra toda a energia que dá a comunhão com nosso Senhor. Comungar com ele é compartilhar sua vida e sua razão de viver. É compartilhar seu destino e sua vontade de seguir até o final dando a vida pelos demais.
Beber com ele o cálice não é nos refugiar num nirvana de paz e ficar acima das preocupações e dores deste mundo senão abaixar com ele ao mais fundo da humanidade, lá onde a dor se faz ferida e a dignidade humana é negada. Aí é onde a comunhão se faz vida e vida em plenitude. Desde esse abaixar a comunhão se estende até abraçar o mundo inteiro, criando e recriando continuamente uma relação de amor que vai desde os mais marginalizados, esquecidos, excluídos e perdidos até incluir a todos na nova família de Deus, na mesa única onde todos nos reunimos em torno do Pai.
Celebrar a comunhão
A Eucaristia sai hoje à rua, faz-se vida. Como Jesus, se acerca a nós e toca nossas feridas para curar, sanar e reconciliar, para salvar e nos arrancar da morte. Ele é o pão vivo que baixou do céu para a vida do mundo (Evangelho). Entrar em comunhão com ele é entrar na torrente de vida que é Deus e viver para sempre.
Hoje é um dia para celebrar porque a Eucaristia é o maior presente que Deus nos podia oferecer: Sua presença, Sua vida, feito alimento para nós. A Eucaristia é a celebração que nos une na fé e que ao mesmo tempo nos abre à humanidade inteira, nos recordando que o Reino é o centro da fé porque é a vontade do Pai, que todos vivamos como o que somos: filhos e filhas seus. É a celebração que traspassa os limites temporários da liturgia, os físicos do templo e os espirituais da comunidade crente para se fazer vida para todos em Jesus. A Eucaristia é o sinal da antecipação da comunhão universal no Reino.
Um dos elementos fundamentais na fé católica é o primado da graça. Se Deus não age, nós não podemos agir, nos tornamos incapazes de fazer o bem. Para nós, o bem maior é conhecer Jesus, sermos capazes de ir até ele, mas isso só é possível pela atuação da graça. Mas, se por um lado, a graça é necessária para chegarmos até Jesus, por outro lado, Deus respeita a nossa liberdade, de modo que associada à graça divina, deve estar a nossa procura de Cristo. De nada adianta a graça nos mostrar que Jesus é o Pão da vida descido do céu para ser alimento de vida eterna a todos nós, se nós não queremos vê-lo.(CNBB)
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