Sábado
Lc 6,43-49
Por que me chamais “Senhor! Senhor!”, mas não fazeis o que eu digo? Neste Evangelho, Jesus nos pede a coerência entre a Palavra de Deus que ouvimos ou lemos, e a vida que levamos, pois seremos julgados não pelos conhecimentos que temos da Bíblia, mas por nossos atos. Assim como conhecemos uma árvore pelos seus frutos, conhecemos uma pessoa, e a nós mesmos, pelas obras. A pessoa boa faz boas obras, a pessoa má faz coisas erradas. Está aí a chave para conhecermos os outros e para nos avaliarmos.
Por exemplo, um padre, uma irmã religiosa, um pai ou mãe de família que perseveram na sua vocação e vivem fazendo o bem, são pessoas boas. Por outro lado, um ladrão, um explorador, um viciado, um violento, alguém que não gosta de trabalhar, são pessoas más. Nós não conhecemos as pessoas por dentro, mas as conhecemos pelas obras, e isso basta.
Numa campanha eleitoral, nós devíamos seguir esse critério. Por isso que seria melhor o voto distrital, porque os eleitores teriam mais condições de conhecer o passado dos candidatos, pois eles são do seu distrito eleitoral, vizinhos portanto. Mas apesar de o nosso sistema eleitoral não nos ajudar nesse ponto, devíamos fazer um esforço para conhecer a vida familiar, religiosa e pública dos candidatos. Não nos basearmos apenas em cara bonita, discurso bonito, promessas ou acúmulo de cartazes nas ruas ou propagandas no rádio e na televisão.
“Por que me chamais: ‘Senhor! Senhor!’, mas não fazeis o que eu digo?” Pouco adianta louvar a Deus, se continuamos praticando obras más. Deus espera a nossa conversão. Ele tem paciência, mas a conversão tem de acontecer. Chega de fariseus! Deles o mundo já está cheio!
Em seguida, Jesus nos conta a parábola da casa sobre a rocha. Ela vem reforçar a mensagem anterior. Ouvir a Palavra de Deus e não praticá-la é construir a sua casa sem alicerce. Quando vier uma chuva forte, e a correnteza da enxurrada bater na casa, ela vai para o chão, perdendo tudo o que está dentro e arriscando a vida dos moradores. O mesmo se deve dizer de quem apenas ouve o Evangelho e não o pratica.
Nós, em geral, gostamos de ouvir a Palavra de Deus. O problema é que, muitas vezes, paramos no ouvir ou na leitura. Se, após uma Missa de domingo, alguém nos perguntar: “O que foi que você aprendeu hoje lá na igreja?” Será que teríamos uma resposta? Ou diríamos: “Nem sei quais leituras bíblicas foram proclamadas, e não me lembro de nada que o padre falou!”
Essa parábola nos pega a todos. Se nos olharmos com sinceridade, vemos que existe uma distância entre a Palavra de Deus que ouvimos e a vida que levamos. Por isso, se formos acolhidos por Deus no Céu, o que esperamos, será por misericórdia dele.
Muitos ouvem a Palavra de Deus e poucos a colocam em prática porque é mais fácil ouvi-la do que praticá-la. Veja que comparação bonita o livro do Apocalipse usa para expressar essa verdade: “Uma voz do céu me disse: vai, pega o livrinho e come-o. Na tua boca ele será doce como o mel, mas, ao cair no estômago, será amargo como o fel” (Ap 10,8-10). Esse livrinho é a Palavra de Deus. Ela é gostosa de se ouvir de se ler, mas, quando alguém resolve levá-la a sério, ela desperta conflitos dos mais diversos tipos.
Que as pessoas, quando se referirem a nós, não tenham de dizer como Jesus falava a respeito dos fariseus: “Sigam o que ele ou ela fala, mas não imitem as suas ações”.
E mais: a Palavra de Deus não é difícil de ser praticada, pois é acompanhada da força do Espírito Santo. Ela é como a semente que vai germinando e crescendo por si mesma, se não encontrar obstáculos. Deus programou tudo certinho, visando a nossa salvação. Da nossa parte basta ir dizendo “sim” a ele pela vida afora.
Havia, certa vez, um homem que tinha o costume de, quando estava nervoso, mandar as coisas para o inferno. Mandava cachorro, gato, ferramenta, cadeira, sapatos, comida...
Um dia ele morreu e chegou à porta do Céu. S. Pedro não quis deixá-lo entrar logo, mas pediu a um anjo que o levasse para dar uma volta. Passaram perto do inferno e ele ficou horrorizado. Viu lá dentro todas aquelas coisas que ele havia mandado para lá: gato, cachorro, comida, cadeira, enxada...
O homem é o senhor do universo. Ele manda nas coisas do mundo e da natureza. “Eis que vos dou...” (Gn 1). Não dá frutos bons nem constrói sobre a rocha uma pessoa que xinga, fala palavrões ou, pior ainda, manda coisas e até pessoas para o inferno.
Maria Santíssima é uma árvore boa que produziu o melhor fruto que existe: Jesus Cristo, o Salvador do mundo. Que ela nos ajude a construir a nossa casa sobre a rocha!
Por que me chamais “Senhor! Senhor!”, mas não fazeis o que eu digo?
Padre Queiroz
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