Observavam, para verem se Jesus curaria em dia de sábado.
Este Evangelho narra a cura, feita por Jesus, do homem que tinha a mão seca. Em um sábado, Jesus entrou na sinagoga, viu um homem aleijado lá no canto, marginalizado dentro da sinagoga. Se na própria sinagoga era assim, fora, na sociedade, era muito pior. Jesus não teve dúvidas. Disse ao homem: “Levanta-te e fica aqui no meio”. O homem veio e Jesus o curou.
O gesto de Jesus atraiu mais raiva e perseguição contra ele por parte dos mestres da Lei e dos fariseus ali presentes, porque pensavam que o ato de curar era um “trabalho” e era proibido trabalhar no sábado.
Antes de curar o homem, Jesus perguntou ao todos: “O que é permitido fazer no sábado: o bem ou o mal, salvar uma vida ou deixá-la que se perca?” Em seguida, diante de todos, mandou que o homem estendesse a mão, ele a estendeu e sua mão ficou curada.
A Lei do descanso sabático foi criada para beneficiar o povo. Portanto, no sábado é permitido fazer o bem e curar uma pessoa doente! Entretanto, devido a essa cura, já tramaram a morte de Jesus.
O nosso saudoso Papa João Paulo II, na preparação para o jubileu do ano 2000, apresentou esta frase de Jesus: “Levanta-te e fica aqui no meio”, como a nossa missão do terceiro milênio.
Jesus chamou o homem para o espaço central da sinagoga porque ele estava na beira da parede, separado do povo, humilhado, pois sua doença era considerada castigo de Deus. Era um marginalizado. Jesus fez um gesto de inclusão, o contrário do que a sociedade fazia com os doentes, e faz hoje com os pobres. A exclusão hoje tem diversas formas e origens.
Em vários outras ocasiões, Jesus procurou incluir quem estava excluído: no encontro com a samaritana, com a mulher adúltera, com Zaqueu, com o cego de Jericó... Todos os milagres de Jesus foram nessa linha.
Olhando os 2009 anos de presença da santa Igreja no mundo, e os 509 anos no Brasil, vemos que ela fez muitos gestos de inclusão. Basta olharmos as Santas Casas do Brasil que foram criadas pela Igreja para atender aos pobres doentes, o trabalho dos vicentinos, das pastorais sociais, todo o trabalho missionário e de evangelização que tira o povo da marginalização religiosa, e principalmente as nossas Comunidades cristãs.
Todos os santos e santas fizeram isso, incluíram os excluídos.
Mas ainda há muito que fazer, pois as exclusões persistem: desempregados, subempregados, moradores de rua, os que trabalham na reciclagem...
Queremos pedir perdão a Deus, e continuar fazendo o mesmo convite de Jesus: “Levanta-te e fica aqui no meio”, mesmo que soframos as conseqüências, como Jesus sofreu. Venha para o centro da vida, saia da marginalização!
Queremos tornar nosso o sonho do próprio Deus: “Não haverá mais crianças que vivam apenas alguns dias, nem velhos que morram antes dos cem anos. Construirão casas, e nelas habitarão. Plantarão vinhas, e colherão seus frutos. Ninguém vai construir para outro morar, nem plantar para outro comer. E todos serão abençoados por Deus. O lobo e o cordeiro pastarão juntos, e o leão comerá capim junto com o boi” (Is 65,20-25).
A nossa sociedade está cheia de agentes de marginalização. São pessoas ou instituições que enganam, roubam, usam a força do afeto para enganar e se aproveitar das pessoas, especialmente das mulheres. Existem até instituições religiosas criadas para angariar dinheiro, abusando da simplicidade e da religiosidade do povo.
Jesus nos faz um apelo missionário. Ao chamar para o centro esse homem, cuja mão era ressequida, ele nos convida a continuarmos esta festa, a festa da inclusão. Quando alguém procura incluir uma pessoa marginalizada, esse seu gesto se torna um convite a todos os marginalizadores a se converterem, passando a incluir as pessoas na sociedade, em vez de excluí-las. O certo é colocar a pessoa em primeiro lugar, a vida acima dos bens materiais e das leis, como fez Jesus em relação à lei do sábado.
A nossa sociedade atual tem muitos valores, mas tem também malandragens terríveis. Por exemplo, o disfarce. Vale para ela o que disse o Profeta Jeremias: “Vós tratais com negligência as feridas do meu povo, e dizeis: Está indo tudo bem; quando, na verdade, está indo tudo mal” (Jr 6,14). Como é importante as nossas Comunidades serem luz no meio dessa geração!
Ser profeta é um dos trabalhos mais bonitos de inclusão, porque aproxima as pessoas de Deus, o qual nos faz felizes em qualquer situação em que estivermos.
Havia, certa vez, uma jovem que se preocupava em saber de que cor eram os olhos de Jesus. Ela pensava: eram azuis? Castanhos? Pretos? De que cor será que eram? Nas orações, ela se distraía e ficava longo tempo pensando isso, e tentando descobrir.
Um dia, ela estava rezando, pedindo justamente isso, e de repente parece que cochilou e ouviu Jesus dizer: “Filha, meus olhos têm a cor dos olhos de cada irmão e irmã que você encontrar e olhar em seus olhos com amor”.
Dali para frente ela parou com a história de querer saber a cor dos olhos de Jesus, e começou a olhar nos olhos de cada pessoa que encontrava.
Olhar nos olhos de alguém é olhá-lo com amor, com o coração, como fez Jesus quando entrou na sinagoga. Tanto que foi descobrir, lá no canto, um homem todo envergonhado por ter a mão seca.
E quando formos convidar alguém para o centro da vida, convidemos também Maria Santíssima, porque ela é a nossa mãe, a nossa Rainha, a mais bela flor que o universo produziu.
Observavam, para verem se Jesus curaria em dia de sábado.
Padre Queiroz
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