14 de Agosto
Evangelho Mateus 15, 21-28 20º Domingo do TC
Há um hino muito bonito sobre o Povo de Deus, onde uma das estrofes diz "Há um só grito, preso a garganta, não engoliu sua dor..." Quem grita quer ser ouvido, quem grita é porque está no fundo do poço, quem grita é porque ainda tem esperança. Às vezes o grito do pobre desesperado vem na forma de um silêncio que denuncia, pois o grito as vezes é também silêncio.
O Grito de quem está sofrendo pode causar indiferença, mas pode também incomodar, os discípulos de Jesus já estavam incomodados com aquela mulher gritona, chegaram a pedir para que Jesus desse o jeito e a fizesse calar a boca. A mulher estava gritando para pessoas erradas, que aparentemente não poderiam e nem deveriam resolver o seu problema: libertar a Filha que estava sendo atormentada por um demônio. O Povo de Israel tinha uma história e uma tradição, o Messias libertador pertencia a essa tradição, surgido das promessas de Deus.
A sua ação libertadora seria sempre a favor de Israel, buscar as ovelhas perdidas e reconduzi-las ao Rebanho. Há muitos gritos ao nosso redor, gritos de protesto, grito de quem quer justiça, grito de revolta, grito que reivindica algum direito, grito que denuncia, são gritos que trazem em si mesmo uma certa legitimidade, o cristão não pode ser "Vaquinha de Presépio" que engole tudo e diz Amém a quem oprime ou comete injustiça, a quem viola os sagrados direitos da Vida.
Mas o grito dessa mulher é diferente de todos esses gritos, ela não grita a uma Instituição, mas grita a um Deus, por isso é um Grito de Fé! A resposta inicial de Jesus tem um caráter institucional, de um Messianismo que pertenciaprimeiramente as tradições de Israel e isso é verdadeiro, Deus falou aos Judeus em primeiro lugar, o primeiro povo escolhido para sentir o amor de Deus e ser dele um sinal a toda a humanidade realmente foram os Judeus, esse privilégio ninguém nunca lhes conseguirá tirar. Entretanto, o grito dessa mulher vislumbra em Jesus algo que vai além da instituição, é um prenúncio da universalidade da Salvação, aquela mulher que pertencia a uma região pagã, superou as autoridades Religiosas e enxergou longe, por isso gritou, porque viu em Jesus a presença Divina, ele não era um enviado de Deus mais era o próprio Deus, por isso não estava fechado dentro de uma instituição religiosa ou da tradição restrita de um povo.
O seu diálogo com Jesus, apesar do tom da humildade, revela a ele uma Fé grandiosa, capaz de mudar o imutável. Essa mulher não é alguém que se contenta com migalhas, ao contrário, vindo de Jesus essas migalhas tornam-segrandes riquezas, e o Poder Libertador irá se manifestar. É uma belíssima profissão de Fé de alguém que crê que Deus ama a todos de maneira indistinta, e o seu amor cura e liberta qualquer um que Nele Crer.
Hoje em nossas comunidades devemos estar muito atentos aos gritos que se fazem ouvir entre lágrimas, há muitos Demônios atormentando a vida de uma infinidade de jovens, esse processo libertador só é possível quando sabemos acolher todos os que gritam, oferecendo-lhes solidariedade e um trabalho pastoral que os faça vislumbrarem libertação, como o diálogo de Jesus com a mulher. A Comunidade deve sempre testemunhar um Deus que ama a todos, com um amor que supera as barreiras de qualquer preconceito , caso contrário, a exemplo dos discípulos, estaremos sempre procurando uma desculpa, as vezes de ordem religiosa, para as nossas eternas omissões diante dos que gritam...(20º Domingo do TC) Mt 15, 21-28
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