Agosto(23-segunda)2010 Comentário à 1ª Leitura
(21ªsemana T.Comum -
2Cor 10,17-11,2 Eu vos desposei a um único esposo
[ Evangelho Cheio de alegria, vai, vende seus bens, compra o campo Mt 13,44-46 ]
A “loucura de Deus”
No contexto da 2ª.carta aos coríntios Paulo defende a autenticidade de seus ministério junto à comunidade de Corinto. Não sabemos exatamente o que ocorreu mas, por várias referências nessa mesma carta, houve uma pessoa ou um grupo (gnósticos? Judeus convertidos?não convertidos ao cristianismo? ) que lançou (lançaram) graves ofensas contra Paulo, as quais, como ele mesmo analisa, afinal prejudicaram toda a comunidade – cf. 2,5).
Usando a conhecida figura bíblica das “núpcias divinas” entre Deus e seu povo, Paulo se apresenta como responsável por apresentar a noiva ao futuro marido. No contexto dessa carta na qual ele fala (com grande paixão) de como era dedicado àquela comunidade, usa palavras carregadas de afeto e carinho, o que explica o uso de expressões e comparações como a do “casamento” e a do “ciúme”. Cita no verso 17, o profeta Jeremias cuja palavra nos vem lembrar que todo o mérito de quem faz o bem se deve à bondade de quem é, afinal, a única fonte de todo o direito e de toda a justiça sobre a terra (cf Jer 9,22-23).
É com essa paixão que encontramos nas parábolas do Reino em Mateus, as duas comparações de hoje: a do campo onde está escondido um tesouro e a da pérola de grande valor. Para a maldade estão reservadas as ameaças simbolizadas na “fornalha de fogo” (dois versos antes, o 42 e, em seguida, o 50) formam o contraste com a alegria referida nesse trecho de hoje (vv.44-46).
Aquele que descobre o tesouro (ou o mercador de pérolas) vendendo tudo para adquirir o que considera tão precioso é – em primeiro lugar – imagem do próprio Deus, que, pelo sangue derramado de Cristo, procurou e resgatou sua criatura. É claro, podemos também ver na parábola a figura dos que procuram entrar no Reino. Mas a primeira interpretação está mais imediatamente coerente com a imagem de Deus na Bíblia. Se Paulo exclama em relação à seus amigos de Corinto: “ah, se pudésseis suportar um pouco da minha loucura!!” (2Cor 11,1), muito mais “loucura” encontramos no agir do Criador em relação à sua criatura.
Nesse mesmo sentido escreve o teólogo francês Garrigues : “ele propôs a divinização por graça a simples criaturas – o que de fato é um pouco de loucura” [ in: “A louca benevolência do Deus Cordeiro”-cap V do livro Deus sem ideia do mal ]. O livro explora a expressão de S.Tomás de Aquino “Deus não tem ideia do mal” e o cap.V comenta frase do apóstolo Pedro em 1ª.carta cap.1, vv 18-20: porque sabeis que (...) tendes sido resgatados (...) pelo precioso sangue de Cristo, o Cordeiro imaculado e sem defeito.
Tratar o ser humano como tesouro ou pérola de grande valor só podia mesmo provir de um “amor louco” do Criador porque nos deu ao nos dar a liberdade, ele acabou se tornando como um cordeiro que se sacrificava nos altares antigos, “vulnerável” e frágil a ponto de ter sido rejeitado e condenado à morte. Mas foi essa doação da sua vida que nos resgatou – escreveu Pedro.
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