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4 de dez. de 2010

JESUS ANDA SOBRE AS ÁGUAS - Pe.Fernando Torres



O Evangelho apresenta-nos uma reflexão sobre a caminhada histórica dos discípulos enviados à “outra margem” a propor aos homens o banquete do Reino. Nessa “viagem”, a comunidade do Reino não está sozinha, à mercê das forças da morte: em Jesus, o Deus do amor e da comunhão vem ao encontro dos discípulos, estende-lhes a mão, dá-lhes a força para vencer a adversidade, a desilusão, a hostilidade do mundo. Os discípulos são convidados a reconhecê-lO, a acolhê-lO e a aceitá-lO como “o Senhor”.

Faz pouco tempo me falaram de um jovem que se ia ser voluntário durante um mês em companhia de sua noiva. Ele escreveu uma carta a um amigo lhe dizendo que aquilo ia ser uma “prova de fogo”. Para ele era um risco a convivência com sua noiva durante um mês. Que pensariam do casal? Outro jovem, mais jovem ainda, que conheci desejava ir como voluntário para um país em desenvolvimento. Seu pai não lhe deixou porque “e se lhe acontecesse algo?”

A realidade é que nossa capacidade de assumir riscos é a cada vez menor. Nosso mundo, nossa cultura, está obcecado pela segurança. Segurança em frente à ameaça terrorista. Segurança em frente aos perigos da natureza. Segurança nas relações interpessoais. Segurança em frente a todo o imaginável. Multiplicamos as medidas de proteção até limites inimagináveis. Até ouvi uns turistas que foram a uma zona de furacões queixarem-se que deveriam ter o seu dinheiro de devolvido por esta ocorrência.

Saia da barca!

O Evangelho de hoje é todo ao contrário. Jesus convida Pedro a sair da segurança da barca e adentrar no mar, no desconhecido, ali onde não tem a segurança da terra firme embaixo de seus pés. Jesus convida Pedro a arriscar-se, a saltar sem rede, a confiar simplesmente na presença e na força de Jesus.

Fora da barca está Jesus que oferece a Pedro, e a todos nós, uma forma diferente de viver: caminhar sobre as águas. Trata-se de sair das pequenas fronteiras que nos marcamos, do habitual, dos preconceitos, da forma comum de pensar e de nos abrir ao desconhecido, ao Pai de Jesus que envia sua chuva sobre todos, bons e maus, que é compassivo e misericordioso, que nos convoca e se compromete a fazer deste mundo seu Reino, sua família, sua casa, onde todos encontrem um lugar onde todos se sintam acolhidos.

Chamados a confiar em Jesus

Não é fácil sair do nosso, de nossa casa, do de sempre. Não é fácil assumir o risco de pôr os pés fora da terra firme, na qual nos sentimos seguros. Devemos confiar. No fundo é uma velha história. Já lho pediu Deus a Abraão, quando lhe disse: “Saia de tua terra e vai-te à terra que eu mostrar-te-ei”. Por essa experiência passou o povo de Israel ao sair da terra segura do Egito (eram escravos mais tinham garantidos os alhos e as cebolas) e meter-se numa peregrinação pelo deserto que os levaria à terra prometida.

Hoje o Evangelho chama-nos a confiar em Jesus, a sair de nossa terra firme, deixar de lado nossos preconceitos e nos abrir à uma vida comprometida a formar com todos a família de Deus, a comunidade cristã. Hoje o Evangelho convida-nos a assumir riscos, a viver sem temor, a relacionar-nos com as mãos abertas em sinal de amizade. Sem duvidar, porque Jesus está conosco.

Assumir riscos é viver

Assumir riscos é parte da vida. O que só procura a segurança renuncia talvez da vida. Como me disse um sacerdote quando era seminarista e tinha partido muitos pratos quando preparava a mesa para a refeição, “só o que trabalha com pratos pode os quebrar”. Assumir riscos é também assumir que nos podemos equivocar, que podemos cometer e cometeremos erros, mas é muito melhor do que ficar isolados no fundo da barca. Jesus não nos quer nesta situação e nos convida a sair, a caminhar sobre as águas, a pôr nossa confiança e segurança Nele e não em nossas idéias ou forças.

Assumir riscos não é só uma idéia bonita. Significa, por exemplo, assumir o risco de comprometer-se com o outro (a) a formar uma família e ser testemunha do amor de Deus ou dedicar nosso tempo livre a servir aos irmãos desde uma associação ou entrar na política para tentar melhorar nossa sociedade ou optar pela vida religiosa para sermos testemunhas do Evangelho de uma maneira diferente. Sempre com a confiança posta em Jesus que nos convida a sair da barca e ir para além de onde nossas forças e nossas prudências.

Pe.Fernando Torres cmf

http://www.ciudadredonda.org/subsecc_ma_d.php?sscd=157&scd=1&id=2893

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