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16 de ago. de 2010

Agosto(17-terça)2010 - Prof. Fernando

Agosto(17-terça)2010 Comentário à 1ª Leitura

(20ªsemana T.Comum-15 a 21 agosto ( http://liturgiadiariacomentada.blogspot.com/

Ez 28,1-10 Tu és um homem e não um deus;mas pensaste ter a mente igual à de um deus.

[ Evangelho É mais fácil um camelo entrar pelo buraco de uma agulha,

do que um rico entrar no Reino de Deus.

Mateus 19,23-30 ]

Ezequiel, de 25 a 32 traz oráculos “contra as nações”. A leitura de hoje é a profecia contra o príncipe da cidade de Tiro que se julga o melhor do mundo por sua sabedoria, sua riqueza – nós diríamos (a nós mesmos, em nosso tempo) : pela ciência que temos, pela tecnologia desenvolvida, pela abundância de bens conseguida em produção industrial, em escala mundial...

Mas a profecia denuncia que esse Príncipe (aplica-se, certamente a cada um de nós também) tem um pecado fundamental que está à raiz de todo mal. Essa contaminação que vem desde a raiz é aqui (versos 2 e 5) chamada de “orgulho”, no sentido de arrogância e presunção. Ela é a pretensão descrita no Paraíso pela figura da Serpente “sereis como Deus”. O Príncipe de Tiro pensou ter subido muito acima de sua própria condição (criatura). Daí brotam todos os males, principalmente os apontados nos versos seguintes: a autossuficiência que assenta bases no Saber e no Ter (conhecimentos e muitos bens ou coisas possuídas).

O Evangelho responde à dúvida dos discípulos que se resumia mais ou menos assim: Então, é impossível ”ter” (riquezas, bens, dinheiro, etc.) e entrar no Reino!! Sua questão poderia hoje ser traduzida : então não há salvação para ninguém pois vivemos dentro de uma vida econômica que implica dinheiro, consumo, bens... temos de renunciar a tudo isso?

Em primeiro lugar Jesus recoloca a questão ao dizer que a Deus nada é impossível. Isto significa falar dentro de uma outra “lógica”. Aqui podemos fazer um paralelo com a leitura de Ezequiel (cf. verso 9): diante de quem vai te matar tu ainda ousas dizer ‘sou um deus’ ? ‘ora, és homem e não Deus’. Ao problema levantado pelos discípulos Jesus pede reflexão sobre uma espécie de “hierarquia de valores”. Deus não está em pé de igualdade com o homem como se fosse alternativa concorrente.

Em segundo lugar, Jesus mostra que, diante de Deus o que consideramos secundário pode vir na frente e vice-versa. (verso 30 e paralelos em 20,16 ou em Lc13,30: os Primeiros podem acabar sendo os Últimos e os que parecem vir por último podem ser os Primeiros...)

Isso vale para a religião e a fé (por ex. o Mestre não classifica as pessoas em duas categorias: “os salvos e os condenados” como faziam muitos partidos e movimentos de seu tempo). Isso vale para as outras dimensões da vida. O grande diferencial está na “mentalidade” que venhamos a usar. Ou nosso modo de pensar e viver está simplesmente imerso num horizonte apenas cultural, histórico (totalmente condicionado ao nosso tempo e ao nosso território); ou, nos mantemos abertos ao sopro renovador do Espírito de Deus. Então somos livres (cf. Gálatas ) de qualquer amarra e peso (mesmo carregando as inevitáveis necessidades de segurança e sobrevivência). Assim podemos viver “no mundo sem ser desse mundo” (cf. o discurso na última ceia).

Na oração, peçamos a liberdade do coração, para todos os momentos da vida porque há uma raiz em todo comportamento e modo de pensar como apontava Ezequiel. Tal é também o comentário de S.Pedro Damião (primeiro eremita, depois bispo e “Doutor da Igreja”, 1007-1072) sobre o trecho que hoje meditamos (in: PL144, sermão 9). Como Ezequiel ele nos lembra que o mais difícil é o apego ao próprio “Ego”, como dizemos modernamente. E, principalmente – como meditávamos ontem – mais do que desapegar-se é preciso “apegar-se”. Quer dizer, ao Cristo. O seguimento vem antes de tudo. Não é possível uma coisa sem a outra:

“Na verdade, é uma grande coisa “deixar tudo”, mas ainda é ainda mais importante “seguir a Cristo” porque, como aprendemos através dos livros, muitos deixaram tudo mas não seguiram a Cristo.

Seguir a Cristo é a nossa tarefa, o nosso trabalho, e nisso consiste o essencial da salvação do homem, mas não podemos seguir a Cristo se não abandonarmos tudo o que nos bloqueia. (...)

“Nós deixamos tudo e te seguimos», diz Pedro, não apenas os bens deste mundo mas também os desejos da nossa alma.Porque quem continua apegado, nem que seja a si mesmo, não abandonou tudo.

Mais ainda, não serve de nada deixar tudo com exceção de si mesmo, porque não há para o homem fardo mais pesado que o seu eu. Que tirano será mais cruel, que senhor será mais impiedoso para o homem do que a sua própria vontade?”

( prof.FernandoSM, Rio, fesomor2@gmail.com )

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