3 de Dezembro
Evangelho - Mt 9,27-31
Dois cegos, crendo em Jesus, são curados.
Tenho um amigo, um ex-aluno, que ficou deficiente visual, isto é, ficou cego. Um dia esse jovem otimista me disse. Professor. Depois que fiquei cego eu passei a enxergar mais do que antes. Eu percebo coisas que antes eu não percebia. Percebo a falsidade ou a sinceridade no jeito de falar das pessoas sem mesmo ver as suas expressões faciais. Explicou ele mais ou menos assim: Através da respiração nas pausas das frases, através do tom de voz, e da sua intensidade, às vezes eu percebo que as palavras ditas pelas pessoas não batem ou não estão de acordo com o que elas realmente estão sentindo.
O Valdemir, que eu o apelidei de “INTELECTUS PURUS” isto porque antes de ficar cego, ele simplesmente leu todos os livros da biblioteca da escola em que eu trabalhava. Ele não lia. Ele devorava o conteúdo dos livros dos mais variados assuntos, com tanta fome, com tanta pressa, que até parecia que sabia que logo seria impedido de ler pelo destino fatal. Como responsável por aquele setor, pude acompanhar o seu sofrimento, a sua luta, através das várias cirurgias, e mesmo assim aquele jovem nunca perdeu a fé a esperança, nunca perdeu o seu bom humor, a disposição para rezar, o seu otimismo. Sua frase predileta: Nada é impossível.
Depois de ficar deficiente visual ele passou por várias academias de artes marciais, se me lembro bem, lutou Capoeira, Judô, Caratê, e, juntamente com sua mãe, frequenta a escola de surfista, e já apareceu até na televisão.A última vez que me encontrei com ele, disse-me que estava também cursando a faculdade de Educação Física. Cheguei a filmar a sua atuação na academia de Judô, e num torneio de Artes Marciais no qual ele participou.
Faço questão de relatar esse fato real como prova, testemunho e exemplo para muitos cristãos que tendo olhos perfeitos, vivem desanimados e reclamando de tudo e de todos numa demonstração de revolta e pura falta de fé .
Só lamento o fato de que esse meu amigo não poderá ler estas minhas palavras. Mas sei que a sua dedicada e carinhosa mãe ou sua irmã irá ler para ele um dia.
No Evangelho de hoje, Jesus é reconhecido pelos cegos como o Filho de Davi, como aquele que realiza o que foi prometido por Deus a Davi no tempo em que ele era o Rei de Israel, de lhe dar um sucessor no trono. Hoje em dia, muitos daqueles que têm visão perfeita, não enxergam ou não reconhecem o Filho de Deus. Não viram até agora que Deus vai muito além do que foi prometido a Davi e instala, por meio de Jesus, o seu próprio Reino no meio dos homens, para a salvação desses mesmos homens os quais, em sua maioria, não O vêem ou fingem não vê-LO no meio de nós.
Estamos nos referindo a outro tipo de cegueira. A cegueira da fé. A deficiência física daqueles que tendo ouvidos não ouvem, que tendo olhos perfeitos não vêem, nem sentem a presença de Jesus no nosso meio. Através das escrituras, da palavra, dos templos, dos cantos da missa, dos padres, dos catequistas, etc.
Isso acontece porque só percebe a presença do Reino de Deus no nosso meio, quem tem fé, quem não é cego, e tem os olhos abertos para as realidades espirituais visíveis e invisíveis.
Caríssimos. Vejam as maravilhas criadas por Deus e modificadas ou alteradas pelos homens. Um exemplo disso é o efeito estufa. Vejam e sintam a presença de Deus num sorriso de uma criança, na mão estendida do mendigo, na beleza do rosto de uma jovem, no soprar da brisa, no calor do sol, no cheiro das flores, no canto dos pássaros, no barulho das ondas e dos pingos da chuva, na água que mata a nossa sede, no clarão do relâmpago, no estalar do trovão... Veja e sinta a presença de Jesus após receber a hóstia consagrada, no sermão do sacerdote, na hora da sua oração intensa, naquele arrepio que às vezes vivenciamos. Amém.
Sal.
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