24/11/2010
Lc 21,12-19
Todos vos odiarão por causa de mim. Mas vós não perdereis um só fio de cabelo da vossa cabeça.
Neste Evangelho, Jesus nos previne sobre as perseguições que seus discípulos sofrerão, até dentro de casa e pelos parentes mais próximos. A orquestração do ódio crescerá tanto que todos e todas em nossa volta posicionar-se-ão contra nós. Mesmo assim, garante Jesus, não nos atingirão, porque Deus está do nosso lado.
Nessas horas, devemos evitar duas coisas: 1ª) Praticar a violência, a vingança, ou qualquer outro desvio do Evangelho. Pelo contrário, serão ocasiões de testemunharmos a nossa fé. “Sede cordeiros no meio de lobos”. “É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!” 2ª) Esta é a mais comum: desistir ou diminuir o fervor e a dedicação, fazendo uma espécie de negociação com os perseguidores. As duas posições são sinais de falta de fé, ou de fé fraca.
“Se o grão de trigo que cai na terra não morre, fica só. Mas, se morre, produz muito fruto” (Jo 12,24). “Quem não pega a sua cruz e não me segue, não é digno de mim. Quem busca salvar a sua vida, perdê-la-á; e quem perder sua vida por causa de mim a encontrará” (Mt 10,38-39).
Se pegamos um ferro quente e o mergulhamos na água fria, acontece o choque térmico, espirrando água para todo lado. Assim é o cristão, vivendo no meio do mundo pecador. Ele não provoca; é a própria vida dele ou dela que gera o choque, resultando na perseguição.
Podemos ampliar o sentido da palavra perseguição e incluir todas as dificuldades, confrontos de idéias e dificuldades que encontramos: atritos, oposições veladas e silenciosas, antipatias...
“Os Apóstolos saíram do tribunal muito contentes por terem sido considerados dignos de injúrias por causa do nome de Jesus” (At 5,41). A perseguição e o desprezo nos identificam com Cristo e assim nós nos tornamos colaboradores no seu sacrifício pela redenção. Isso nos causa alegria, evidentemente.
“Naqueles dias, começou uma grande perseguição contra a Igreja que estava em Jerusalém. Todos, com exceção dos apóstolos, se dispersaram pelas regiões da Judéia e da Samaria. Entretanto, aqueles que se tinham dispersado iam por toda a parte levando a palavra da Boa Nova” (At 8,1.4). Está aí um exemplo do que Jesus falou no Evangelho de hoje: “Esta será a ocasião em que testemunhareis a vossa fé”.
“Todos os que querem levar uma vida fervorosa em Cristo serão perseguidos” (2Tm 3,12). 87“Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. Felizes sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultar, porque é grande a vossa recompensa nos céus” (Mt 5,10-11).
O mundo pecador segue, não a Deus, mas a outro chefe. E faz parte do ser humano se opor a quem vive ao lado e tem outra cabeça, outros princípios, outros valores, outra vida. O primeiro esforço é de cooptação; se não consegue, surge a perseguição aos cristãos.
Entretanto, numa sociedade de maioria católica como a nossa, geralmente não atacam abertamente a Igreja Católica. A tática é atacar cada cristão ou cristã individualmente, e de forma disfarçada: ridicularizações, apelidos...
Jesus pede: “Não planejeis antecipadamente a própria defesa; porque eu vos darei palavras tão acertadas que nenhum inimigo vos poderá resistir ou rebater.” Como é bom sentir esse apoio numa hora de aperto! “Vós não perdereis um só fio de cabelo da vossa cabeça”. Isto é: nada vos sucederá sem que o Pai, em cujas mãos estais, o disponha para o vosso bem.
“É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!” Está aí o objetivo de todo o discurso de Jesus: levar-nos à firmeza.
Muitos querem um cristianismo “soft”, sem cruz, e que apresenta o céu com portas largas. Até religiões são fundadas nessa linha. Mas a religião de Jesus, aquela que tem as chaves do céu, é um caminho estreito.
Havia, certa vez, um pequeno povoado de pescadores, na beira da praia. De repente ele começou a diminuir a passos largos. Todo final de tarde, um monstro aparecia no mar e fazia vítimas! O povo vivia em pânico! Ia diminuindo de dia para dia. Aquele mostro oprimia e destruía o povoado, paralisando de medo as pessoas.
Um dia, chegou um sábio àquele povoado e logo ficou sabendo das histórias do mostro que aparecia na praia e atacava a aldeia. O povo pediu ajuda ao sábio. Este convocou todo o povo da aldeia para se juntar na beira da praia, no final da tarde, pela hora em que o monstro costumava aparecer. Naquele final de tarde, todo o povo se juntou na beira da praia, à volta do sábio. Ele falou:
“Eu sou meio cego... já não enxergo as coisas direito. Por isso, quero que vocês falem, que vocês vão dizendo como é o monstro, quando ele aparecer!”
Todo o povo ficou em silêncio, na expectativa! De repente, alguém gritou: “É ele! Está aparecendo!” Imediatamente o povo se atropelou, correndo, fugindo, gritando de medo... Mas o sábio logo gritou interrompendo a correria: “Não! Ninguém foge! Continuem todos aqui! Continuem olhando o mostro e falando o que vai acontecendo com ele!” E o povo, morrendo de medo, segurou a vontade de fugir e continuou relatando a evolução do monstro. “Aí vem ele! Está aumentando! Vem caminhando na direção da praia! Está ficando cada vez maior!”
Alguns não agüentavam o medo e saíam correndo. Mas o sábio logo interrompia a correria, pedindo que continuassem olhando o monstro e relatando o que estava acontecendo.
“Está... está diminuindo... está desaparecendo... desapareceu...”
O monstro são os inimigos de Cristo e dos cristãos. Se não nos unirmos, e tivermos medo, ele ficará cada vez maior e nos devorará. Mas se nos unirmos e formos corajosos na fé, ele desaparecerá. Às vezes, pequenos obstáculos da vida podem nos parecer monstros grandes e terríveis. Nessas horas, se tivermos medo e não nos unirmos, eles nos devorarão na certa.
Maria Santíssima não ficou livre das perseguições. Imagine o que ela sofreu ao pé da cruz, e em todas as suas dores. Que ela nos ajude.
Todos vos odiarão por causa de mim. Mas vós não perdereis um só fio de cabelo da vossa cabeça.
Padre Queiroz
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