Esta fala de Jesus é proferida na casa de um importante fariseu, que havia convidado o Mestre para uma refeição. Sabemos que, nos versículos anteriores, o tema que está em relevo é, novamente, o sábado. Depois que Jesus cura um homem hidrópico (a hidropisia é chamada popularmente de barriga d’água), os fariseus questionam a legitimidade de tal atitude. E é neste contexto que Lucas reproduz esta fala tão desconcertante do Evangelho de hoje.
Os quatro adjetivos usados por Jesus nesta perícope são essenciais para compreendermos a repercussão de tal fala. Para o povo judeu, a riqueza era vista como bênçãos de Deus. Bênçãos e Maldições são duas constantes nos últimos livros do Antigo Testamento, principalmente nos escritos da época do Pós-exílio babilônico (escritos compostos depois que os judeus voltaram da Babilônia, em 538 a.C.). Por isso, vamos refletir um pouco sobre o tipo de convidado que devemos ter às nossas mesas.
Os Pobres (em grego: πτωχός – ptochós), os Aleijados (em grego: ἀνάπηρoς – anáperos), os Mancos (em grego: χωλός – cholós) e os Cegos (em grego: τυφλός – tuphlós) eram vistos como os amaldiçoados por Deus. Pagavam por algum pecado de seus antecedentes; essa era a certeza disseminada entre todos, até mesmo entre os que possuíam essas limitações.
Jesus quebra, de uma forma inusitada, essas barreiras culturais, – e em dia de sábado! Não é concebível que as pessoas apenas se amem por interesses; por esperarem sempre algo em troca. É essa limitação humana que Jesus quer corrigir.
Muito nos diz esse Evangelho, nos dias de hoje. O interesse sobe às nossas cabeças. Ainda vemos as pessoas pelo o que elas aparentam ser. Somos repletos de preconceitos e de limitações, mas temos a possibilidade de mudar, de transformar, de redirecionar as nossas vidas! Essa é a beleza do ser humano!
É claramente humana a reação de ojeriza ao se cruzar com um mendigo na rua, pois o fedor da pobreza nos enoja. O que mais nos deveria dar ânsias de vômito é a “paisagem” de morte que contemplamos diariamente em nossas grandes cidades: pessoas fétidas, dormindo embaixo de papelões; pessoas famintas, transformando-se em animais. E o pior de tudo isso: todos somos responsáveis por essa catástrofe, de uma forma ou de outra.
O que Jesus disse é muito claro: somos bondosos e caridosos com pessoas cheirosinhas, que são nossas amigas e conhecidas, mas essa é uma atitude muito fácil. O que nos desafia, na realidade, é encontrar uma maneira de fazermos algo para resgatar os nossos pobres, os nossos aleijados, os nossos mancos e os nossos cegos, que gritam de forma desesperada em nossos quintais. Que Jesus nos dê forças para darmos os primeiros passos!
Por Fr. José Luís Queimado CSsR.
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