A MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES
Ergueu os olhos para o céu e pronunciou a bênção. Em seguida partiu os pães e os deu aos discípulos. Os discípulos distribuíram às multidões.
O Evangelho de hoje narra o milagre da multiplicação dos pães. O evangelista começa dizendo: “Quando soube da morte de João Batista, Jesus partiu e foi de barco para um lugar deserto e afastado”. Jesus percebeu o perigo para ele também, e não queria morrer, é claro. Ele queria viver na terra cem anos ou mais, para fazer o bem.
O lugar deserto e afastado ajuda também a oração e o descanso. Afinal, ninguém é de ferro. De vez em quando precisamos dar uma escapada. O ativismo é orgulho disfarçado em zelo. A pessoa pensa que é insubstituível.
“Mas quando as multidões souberam... seguiram a pé. Ao sair da barca, Jesus viu uma grande multidão.” As multidões foram a pé e chegaram antes da equipe. Sinal que a barca de Pedro não era das melhores, pois era bastante lenta. As pessoas sabiam que seriam bem recebidas por Jesus, como de fato foram, apesar de ele ter-se retirado para descansar, com os Apóstolos. Jesus nunca acolheu mal a ninguém. Por isso que as pessoas se aproximavam dele sem nenhum medo. Imagine quando Jesus e os Apóstolos desembarcaram! O povo lhes disse: “Oi! Estamos aqui”. O certo é que o plano deles de descansar foi água abaixo.
Em vez de ficar bravo, Jesus “encheu-se de compaixão por eles e curou os que estavam doentes”. Quem tem compaixão pensa mais nos outros do que em si mesmo. Jesus curava mais os doentes do que as doenças. Deus é capaz de transformar as nossas doenças em bem, tanto para nós como para os outros. Vamos pedir esta graça a Jesus: amar os doentes e fazer o que pudermos por eles, especialmente trazendo-lhes a paz.
“Ao entardecer, os discípulos aproximaram-se de Jesus e disseram: Este lugar é deserto... Despede as multidões, para que possam ir aos povoados comprar comida! Jesus porém lhes disse: Eles não precisam ir embora. Dai-lhes vós mesmos de comer!” Os discípulos pensavam que a missão de Jesus era cuidar só do lado espiritual, não do material, como a questão da fome. Graças a Deus que as nossas Comunidades cristãs não são assim. Elas cuidam do corpo também, amam a pessoa inteira, como Jesus amava. A metade das pastorais das nossas paróquias são direcionadas ao corpo: vicentinos, pastoral da criança, albergue... E a outra metade à alma, ao espiritual: catequese, ministros da eucaristia, coroinhas, terço... De fato, a fome de Deus e a fome de pão se misturam. Querer separá-las é um pecado!
“Os discípulos responderam: Só temos aqui cinco pães e dois peixes. Jesus disse: Trazei-os aqui.” Deus não costuma iniciar as boas ações, pois esta é missão nossa. Depois de iniciadas por nós, Deus as abençoa e multiplica o pouco que temos. Isso, em qualquer campo, mesmo em relação às nossas capacidades. É neste primeiro passo, dando o que temos, por pouco que seja, que mostramos a fé, a qual é condição sine-qua-non para a graça de Deus agir em nós.
“Jesus mandou que as multidões se sentassem na grama.” A organização do povo é fundamental. Povo unido e organizado jamais será superado.
“Então pegou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos para o céu...” A oração é a expressão da nossa fé e do nosso amor filial a Deus. No fundo, a única coisa que queremos é agradar a Deus.
“Em seguida partiu os pães e os deu aos discípulos. Os discípulos distribuíram às multidões.” Foi só Jesus repartir aquele pouco que a equipe tinha, todos repartiram também o que eles tinham, pronto, realizou-se o milagre, o milagre da partilha e da solidariedade. Repartir atrai a bênção de Deus, e a bênção multiplica o pouco que repartimos. Esta multiplicação continua acontecendo em todos os tempos e lugares, nas Comunidades, nas pastorais, nos grupos cristãos, nas famílias... Deus é generoso! Ele cuida até dos passarinhos e das flores, quanto mais de nós, seus filhos e filhas. Numa sociedade cristã, ninguém passa fome. Existe honestidade, organização, boa utilização das sobras...
“Todos comeram e ficaram satisfeitos.” Inclusive quem repartiu o que tinha. A fé praticada integralmente dá satisfação, sabor, gosto de viver.
“Dos pedaços que sobraram, recolheram ainda doze cestos cheios.” Alimento é coisa sagrada. Não podemos jogar fora. O que sobra para um, falta para outro.
“Ó vós todos que estais com sede, vinde às águas! Vós que não tendes dinheiro, vinde comer de graça!” (Is 55,1-3). “Quem nos separará do amor de Cristo? A fome...? Nada!” (Rm 8,35-39).
Certa vez, uma catequista resolveu dar uma festinha para as crianças. Preparou doces, sucos, pirulitos etc. Na hora da festa, ela percebeu que um menininho estava meio triste. Chegou perto dele e perguntou-lhe: “Você não está gostando do pirulito?” Ele respondeu: “Não”. A catequista olhou na mãozinha dele e viu que o pirulito estava com o plástico! Ela logo pegou o pirulito, retirou o plástico e devolveu a ele. Agora sim, o garotinho gostou e deu um belo sorriso.
A falta de fé torna a nossa vida como chupar um pirulito sem tirar o plástico: não tem gosto, porque não atinge a doçura do amor de Deus e da sua presença junto de nós. Mas, com fé, a vida é bela e gostosa, mesmo no meio dos maiores sofrimentos. Entusiasmados pela doçura deste pirulito, estaremos dispostos a abandonar tudo e a fazer os maiores sacrifícios.
Maria Santíssima, como mãe de família, todos os dias repartia o alimento com o esposo e o Filho. Que ela nos ajude a sermos retratos de Deus e instrumentos do seu amor no mundo.
Ergueu os olhos para o céu e pronunciou a bênção. Em seguida partiu os pães e os deu aos discípulos. Os discípulos distribuíram às multidões.
Padre Queiroz
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