Sábado, 24 de março
Jo 7,40-53
Este Evangelho mostra que o povo estava dividido a respeito de Jesus: uns achavam que ele era um profeta, ou até o Messias, e outros objetavam, pelo fato de ele ser galileu. Também a cidade dele era vista com preconceito: “De Nazaré pode sair algo de bom?” (Jo 1,46).
Preconceito, como a própria palavra diz, é um conceito formado antecipadamente, sem maior ponderação ou conhecimento da pessoa, baseado em fatores externos a ela. É um prejulgamento. A pessoa preconceituosa baseia-se nas aparências, e faz já o seu julgamento sobre a pessoa.
Entre nós, há preconceito entre Estados, entre cidades, entre pessoas que têm a pele de outra cor, entre os que têm estudo e os que não têm, até entre os que moram na cidade e os que moram na roça. Quanta gente sofre por causa do preconceito!
Nós cristãos não devíamos ter preconceito de ninguém, pois o batismo nos igualou a todos. “Vós todos sois filhos de Deus... Vós todos que fostes batizados em Cristo, vos revestistes de Cristo... Não há mais judeu ou grego, escravo ou livre, homem ou mulher, pois todos vós sois um só, em Cristo Jesus” (Gl 3,26-28).
O preconceito é um tabu difícil de combater, porque ele cega a pessoa. Veja a resposta que deram a Nicodemos, que tentou combater o preconceito contra Jesus. Nicodemos acabou sendo também atacado: “Também tu és galileu, porventura? Vai estudar...”
O encontro do humano com o divino, na pessoa de Jesus, é paradoxal. É o encontro do relativo com o absoluto, do imperfeito com o perfeito, do limitado com o sem limites. A humanidade nunca entendeu nem entenderá o mistério de Cristo, no qual aconteceu o encontro da humanidade com a divindade. Houve épocas na história em que divinizavam tanto Jesus que sacrificavam a sua humanidade, e houve épocas contrárias, em que humanizavam tanto Jesus que sacrificavam a sua divindade.
Também a Igreja carrega em si esse paradoxo, pois ela é, ao mesmo tempo, humana e divina, santa e pecadora. Há pessoas que querem fazer da Igreja um grande movimento social agindo no mundo. Outro, ao contrário, a espiritualizam demais, distanciando-a da vida humana e do dia a dia das pessoas. Inclusive os que estão à frente da Igreja – bispos, padre, religiosos, lideres leigos – são sempre objeto de críticas: uns querem que eles sejam mais inseridos na sociedade, outros querem que sejam mais separados; uns querem que eles vivam na sacristia, outros querem que eles vivam na rua.
O princípio que obriga a quem usa, pagar, não pode ser lido ao contrário: “quem não paga, não usa”, ou ainda, “quem não pode pagar, não pode usar”. Precisamos criar condições para que os que não têm dinheiro possam também viver dignamente. Economia e vida.
Certa vez, um menino de uns sete anos estava na igreja matriz. Era uma tarde ensolarada. O garotinho ficava na frente dos vitrais, na direção do sol, para ver os santos dos vitrais refletidos na sua roupa. Uma senhora que estava por ali achou a cena engraçada e perguntou ao menino: “O que você está fazendo?” Ele respondeu: “Estou vendo o santo refletido na minha roupa”. A mulher então perguntou: “O que é santo?” Ele disse, apontando para o vitral: “É aquele ali, que deixa a luz do sol passar”.
Ser santo não é ser diferente dos outros. É viver na graça de Deus e deixar que ela ilumine os que estão ao nosso redor. Ser santo é deixar a luz do Sol, que é Deus, passar através de nós e refletir no mundo.
Maria Santíssima viveu numa sociedade que tinha vários preconceitos. Por exemplo, contra a mulher, a qual tinha de ser caseira e não podia nem falar em público. Ela, porém, passou por cima de todos os preconceitos. Que Maria nos ajude a vencer os preconceitos e a entender o seu Filho como ele realmente é: verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
Porventura o Messias virá da Galiléia?
Padre Queiroz
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