Pe. Antônio Queiroz CSsR
Quando tiverdes elevado o Filho do Homem, então sabereis que eu sou.
Este Evangelho mostra como que o preconceito obscurece a inteligência. Os fariseus não entendiam nada que Jesus falava, ou entendiam errado, sempre contra Jesus. Pensaram até que ele deu a entender que ia se matar! Esse pecado da incredulidade radical vai levá-los ao crime mais cruel: matar o Filho de Deus!
Entretanto, Jesus chama a sua crucifixão de elevação. “Quando tiverdes elevado o Filho do Homem, então sabereis que Eu sou”. Ele será elevado em dois sentidos: na cruz, ficando a um metro e meio do chão, e justamente naquele momento ele será elevado a Rei do Universo, realeza que conquistou com o seu sangue.
Jesus foi-se revelando aos poucos. Primeiro se revelou como água viva e como luz do mundo. Aqui ele diz: “Vós sois daqui de baixo, eu sou do alto”; e revela claramente a sua divindade.
Só neste Evangelho de hoje Jesus usa duas vezes a expressão “eu sou”. Quando Moisés perguntou a Deus qual é o seu nome, Deus respondeu que seu nome é “Eu Sou”. Por isso que os hebreus chamavam a Deus de “Aquele que é”, em hebraico: Javé. Vejamos a pergunta de Moisés:
“Moisés disse a Deus: ‘Mas, se eu for aos israelitas e lhes disser: ‘O Deus de vossos pais enviou-me a vós’, e eles me perguntarem: ‘Qual é o seu nome?’, o que devo responder? Deus disse a Moisés: ‘Eu sou aquele que sou’. E acrescentou: ‘Assim responderás aos israelitas: ‘Eu sou’ envia-me a vós” (Ex 3,13-14). Vemos, então, que, ao se chamar de “eu sou”, Jesus está declarando que é Deus, junto com o Pai e o Espírito Santo.
Jesus “É”, assim como Deus Pai “É”, mas não se confunde com Deus Pai, pois ele disse: “O Pai me enviou”. E fala também: “O testemunho de duas pessoas é digno de fé”.
“Se não acreditais que eu sou, morrereis nos vossos pecados.” Para nós, o pecado não está somente em fazer algo errado. É também pecado quando nos fechamos em nossos critérios humanos e não nos abrimos a outros horizontes, à sabedoria infinita que é Deus.
É aqui que os homens se dividem entre “aqueles que são lá de cima” e “aqueles que são aqui de baixo”. Não há linguagem comum entre eles, e Jesus perderia o tempo em ficar discutindo com eles. A sabedoria divina se manifestará melhor do que com palavras, quando ele morrer na cruz. “Quando tiverdes elevado o Filho do Homem, então sabereis que eu sou”.
O mesmo acontece com a santa Igreja, em relação àqueles que a caluniam: quando ela se identifica com essa parte da humanidade que é perseguida e marginalizada, então o seu testemunho causa impacto na humanidade, e a salva.
“Enquanto Jesus assim falava, muitos acreditaram nele.” São os que procuravam a verdade. Outros, porém, permaneciam cegos diante dos sinais da identidade messiânica de Jesus. Ele é sinal de contradição; diante de Jesus, os homens têm de se decidir por ele ou contra ele. Essa decisão compromete definitivamente o destino da pessoa. Neste dia da quaresma, Deus nos convida à conversão, antes que seja demasiado tarde.
“Digo-vos com lágrimas: há muitos que andam como inimigos da cruz de Cristo. O seu fim é a perdição; o seu deus é o ventre; as suas glórias, as suas vergonhas. Só aspiram a coisas terrenas” (Fl 3,18s). Por outro lado, quem olha a cruz com fé e com espírito de conversão, como os hebreus olhavam para a serpente de bronze, fica curado do veneno da serpente, alcança a salvação e têm a vida eterna.
Certa vez, um senhor idoso que morava na roça estava indo para a cidade. Ele em cima de um burro e o netinho na frente, puxando o animal.
Passaram dois homens e comentaram entre si: “Um marmanjo desse em cima do burro e a pobre criança a pé!”
O velho escutou. Quando os homens desapareceram na curva, ele disse ao menino: “Filho, venha você aqui e eu vou a pé”.
Logo passaram dois e comentaram: “Engraçado: o velho doente a pé e o moleque a cavalo!”
Quando viravam a curva, o velho falou: “Filho, vamos nós dois em cima do burro”. E assim fizeram.
Dois homens cruzaram com eles e comentaram entre si: “Dois marmanjos nesse burrinho. Como não têm dó do pobre animal!
Quando se distanciaram, o homem disse ao neto: “Filho, vamos nós dois a pé”. Logo passaram uns viajantes e comentaram: “Aqueles dois não são muito certinhos da cabeça. Onde já se viu caminhar a pé, puxando um burro, sem ninguém em cima!”
Quando desapareceram, o homem disse ao neto: “Filho, vamos levar este burro nas costas”. Passaram dois e comentaram: “Olhe lá três burros; dois carregando um!”
Quando estavam sós, os dois largaram o animal e o homem disse ao neto: “Filho, não se importe com o que os outros disserem. Siga a sua opinião”.
A nossa conversão é algo pessoal, entre nós e Deus, e ninguém tem de por o bico. Vivemos numa sociedade eclética, mas para Deus a verdade é uma só, e para nós também.
Graças à Encarnação, o Filho de Deus nos tornou também filhos de Deus e até participantes da natureza divina: “Quando se completou o tempo previsto, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sujeito à Lei, para resgatar os que eram sujeitos à Lei, e todos recebermos a dignidade de filhos. E a prova de que sois filhos é que Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: ‘Abbá, Pai!’ Portanto, já não és mais escravo, mas filho. E, se és filho, és também herdeiro. Tudo isso, por graça de Deus” (Gl 4,4-7). Nós agradecemos isso a Deus Pai, a Jesus e a Maria Santíssima que colaborou muito de perto nesta nossa elevação.
Quando tiverdes elevado o Filho do Homem, então sabereis que eu sou.
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