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30 de mar. de 2012

Amou-os até o fim - – Missionários Claretianos




Quinta-feira, 5 de abril de 2012
Ceia do Senhor
São Vicente Ferrer, Presbítero (Memória facultativa).
Outros Santos do Dia:Alberto de Montecorvino (bispo), Etelburga de Lyminge (mãe de família, abadessa), Geraldo de Sauve-Majeure (abade), Juliana de Cornillon (agostiniana, virgem).
Primeira leitura: Êxodo 12, 1-8.11-14.
Ritual da ceia pascal.
Salmo responsorial: 115, 12-13.15-18.
O cálice por nós abençoado é a nossa comunhão com o sangue do Senhor.
Segunda leitura: 1 Coríntios 11, 23-26.
Todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, proclamais a morte do Senhor.
Evangelho: João 13, 1-15.
Amou-os até o fim.
Todo o ministério de Jesus foi uma permanente entrega ao povo pobre. Os enfermos, endemoninhados e marginalizados receberam de Jesus uma mão amiga. Partilharam sua mesa e foram proclamados ditosos. Até o final de sua existência, Jesus entrega tudo o que é, tudo que sabe, tudo o que tem. Agora se prepara para entregar definitivamente sua existência. Jesus entrega tudo, até o limite.
Jesus era visto como o símbolo da humildade: um em vestes de pobreza. Como conhecia perfeitamente a situação de seu povo, insistiu constantemente na urgência de apoiara quem precisava do mínimo para viver. “Pois tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber; estive sem roupa e vocês me vestiram; enfermo e me visitaram” (Mt 25,35-36). Em cada ser humano empobrecido, sem teto, sem roupa e enfermo, Jesus nos deixou sua indelével imagem. Porque Deus continua crucificado na cruz da miséria. “Eu lhes digo que tudo que fizerem a um destes pequeninos, a mim o fizeram” (Mt 25, 40).
Jesus se impõe a natureza do inevitável. Ele conhecia perfeitamente a sorte dos profetas que o precederam. João Batista foi assassinado por causa do capricho da rainha na corte de Herodes. Outros muitos morreram  por reivindicações menores. A morte que os governantes infligiam aos profetas buscava o escárnio do povo.
Tentavam silenciar a voz de Deus. No meio dessa situação, Jesus encontra o momento propicio para demonstrar que a entrega pela causa do reino começa e termina nos pequenos gestos cotidianos de entrega, perdão e generosidade.
Jesus realiza com gosto e convicção uma atividade reservada para os serventes: toma os pés calejados de seus discípulos e os lava e limpa um a um. Os calos da incerteza que se formaram a caminho de Jerusalém são objeto de sua caricia. A mão que serve, a mão que acaricia, é a mesma mão que está disposta a deixar-se transpassar pela injustiça para reclamar justiça. Jesus não começa seu testemunho estendendo seus braços na cruz. Sua mão já se havia estendido para o enfermo, para resgatá-lo da prostração; sua mão já havia auxiliado o indigente e o havia ajudado a reencontrar sua dignidade; sua mão havia resgatado da norte e outorgado novamente a vida.
Para o serviço, a ajuda desinteressada e a generosidade não são uma resposta fácil e evidente. Requeriam um caminho longo e decidido forjado a partir dos gestos cotidianos.
Às vezes pensamos que é fácil deixar-se ajudar pelos outros, porém a realidade é diferente. A maioria das pessoas não aceitam que os demais as sirvam, especialmente se pensamos que as pessoas que consideramos mais importantes para nós se coloquem a nosso serviço. Isto parece contraditório, porém assim é a realidade humana. O mesmo acontece com o perdão e a reconciliação. Estamos dispostos, não sem esforço, a perdoar os que nos ofenderam. Este gesto nos parece máximo; contudo, não estamos dispostos a perdoar-nos a nós mesmos, nossos erros e muito menos somos capazes de aceitar o perdão de Deus.
Esta é a historia de Pedro, um dos apóstolos que, querendo fazer mais, fez menos. Estava disposto a entregar sua vida por Jesus e pelo evangelho, contudo, não compreendia as intenções de Jesus e não aceitava sua mensagem.
Para Pedro, o Mestre era o chefe e ele o discípulo, um simples subalterno. Jesus como sempre, os surpreende com uma terrível: o Mestre é o servidor de todos e o discípulo é digno das maiores atenções. A única maneira de reinar é o serviço. Do outro lado, o cristianismo é o único que faz multiplicar ao infinito a eterna desigualdade de qualquer instituição.
Lavar os pés ao companheiro de jornada significa partilhar suas dificuldades, compreender suas limitações, aceitar sua oferta. Lavar os pés aos amigos implica um contato imediato com uma parte do corpo que está submergido na chamada existência cotidiana, nas sandálias que o acompanha ao trabalho, nos calos e asperezas da vida ordinária. Este gesto tão singular e surpreendente não é fácil de entender nem é fácil de aceitar.
Lavar os pés significa inclinar-se diante do outro, aceitar que o serviço é a única entrega. Os discípulos se haviam preparado para pregar, para ensinar, para expulsar demônios; trabalhos árduos e complicados que exigiam muita preparação e dedicação. Contudo, não estavam preparados para assumir uma tarefa humilde, a mesma realizada pelos empregados das casas mais “prudentes”, porque esta tarefa explicava prostrar-se, entrar em contato com a terra, o barro e a sugeria.
Sobretudo, os discípulos não estavam dispostos a deixar-se servir e ajudar pelos outros, especialmente nos trabalhos humildes. Os discípulos deverão passar por muitas dificuldades e peripécias antes de compreender o que significa prestar um serviço generoso e desinteressado sem fazer alarde de humildade e de deixar-se servir pelos demais sem menosprezar o serviço alheio.
Bom seria fazer um reajuste crítico de alguns clichês criados pela tradição piedosa, porém que não honram a veracidade histórica do que hoje estamos em condições de assegurar:
-          Historicamente é certo que o marco e o contexto da celebração da páscoa de Jesus, na Quinta-Feira Santa, dista muito do que sugere a figura clássica, fundamentalmente cunhado no quadro da “última ceia”de Leonardo da Vinci: nem uma magnífica sala de bela arquitetura, nem luxuosos vestuários, nem uma bela mesa, nem suculentos manjares…
-          É muito verossímil historicamente que a ceia de Jesus foi a reunião clandestina de um grupo perseguido que já está vivendo o clímax de uma tensão conflitiva com as forças políticas e religiosas, como evidenciará o desenlace do dia seguinte;
-          Pode-se afirmar, quase com total segurança, que não é certa o dado da tradição de que somente homens participaram naquela ceia; se era ceia pascal, foi a ceia de Jesus e seus discípulos, sem discriminação. O mais verossímil é que Maria, a mãe de Jesus e outras mulheres faziam parte da comunidade de discípulos e participaram da ceia. (Daqui não se devem dar saltos gratuitos para conclusões do sacerdócio da mulher – cujos argumentos poderiam ser mais sérios).
A quinta-feira santa, primeiro dia do tríduo pascal, marca uma celebração capital dentro de todo o ano litúrgico, celebração solene e grandiosa, marcada no contexto dramático da proximidade da paixão e morte do Senhor. É o dia máximo da despedida e do amor extremo feito serviço humilde e generoso,.
Muitas são as dimensões que se somam num dia como este. Vejamos as principais:
Dia do amor fraterno.Hoje ressoa na Comunidade o mandamento novo, mandamento do amor, do amor “como eu os tenho amado”. “Amou-os até o extreme”, até o inimaginável, até fazer-se servo e escravo em um tipo de serviço considerado humilhante e próprio de escravos (lavar os pés). “ Deu-lhes o exemplo”. “Vocês também devem lavar os pés uns dos outros”. É uma proclamação do mandamento do amor feita, não com o sinal prático – que entra pelos olhos – do serviço. Amar é servir. Ama quem serve. Obras são amores.
Instituição da Eucaristia. Lavar os pés no evangelho de João está no lugar da “instituição da Eucaristia”, narrada pelos outros evangelhos. Para João é equivalente. A eucaristia expressa e constitui o sacramento do amor, também uma maneira “visível” (sinal sensível). Jesus “parte e reparte” o pão e o vinho e diz: “façam isto em memória de mim”, ou seja, para recordar-me (para guardar minha memória) façam isto; ou também: partir e repartir a própria existência será a forma de serguir-me que melhor dê testemunho e faça memória de mim. “Celebrar” a Eucaristia, a fração do pão, será sempre muito mais que “ouvir missa”: cada vez que comemos deste pão... anunciamos a morte do Senhor até que ele venha”.
Instituição do Sacerdócio:Tradicionalmente se situa neste dia. É claro que Jesus não instituiu “sacerdotes”. De fato, o Novo Testamento não utiliza essa palavra mais que a Jesus e ao povo de Deus como conjunto, nunca a aplica a cristãos individuais; somente a partir do século IV se introduz essa palavra no vocabulário cristão. O que Jesus deixou foram discípulos e apóstolos. O “clero”, enquanto tal, isto é, enquanto casta ou setor diferenciado por um status superior privilegiado... é claramente alheio (e até contrario) ao Evangelho. O que se apóia em Jesus é um ministério ordenado de serviço à comunidade cristã, que reproduz e dá continuidade à sua presença no meio da comunidade.

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