15 de junho
O Evangelho de hoje reforça esta proposta. Exige dos seguidores de Jesus um coração sempre disponível para perdoar, para acolher, para dar a mão, independentemente de quem esteja do outro lado. Não se trata de amar apenas os membros do próprio grupo social, da própria raça, do próprio povo, da própria classe, partido, igreja ou clube de futebol; trata-se de um amor sem discriminações, que nos leve a ver em cada homem - mesmo no inimigo - um nosso irmão.
A nossa força e a nossa coragem manifestam-se, precisamente, na capacidade de inverter a lógica de violência e de orgulho e de estender a mão a quem nos magoou e ofendeu. O cristão não pode recorrer às armas, à violência, à mentira, à vingança para resolver qualquer situação de injustiça que o atingiu. Esta é a lógica dos seguidores de Jesus, desse que morreu pedindo ao Pai perdão para os seus assassinos.
Está presente aqui e lá. Poucas vezes percebi seu nome verdadeiro, porém se chama ódio! Poucas pessoas, especialmente no âmbito da religião cristã, reconheceram que odeiam. Inclusive quando alguém diz “ódio!”, trata de deixar claro que esta falando com meias verdades.
O ódio existe. É mais comum do que parece. Tem um rosto tal vez mais civilizado, mais desentendido. Porém aí está como pesadelo.
Odiar é rejeitar alguém. Para isto há ter haver razões. E, por isso, que quando odiamos alguma pessoa, o nosso ódio e acompanhado de mil razões. Qualquer indicio nos parece bom como tal para suspeitar, qualquer indicação nos incita a ironia e à zombaria de quem odiamos. À pessoa odiada se impõem todas as ofensas possíveis. E tudo isto é justificativa de um sentimento que nos parece feio, antiestético, reprovável...
O ódio tem sua origem em um desejo não cumprido, em um pedido não escutado, em um clamor não atendido. Odeio quem resiste modificar-se segundo os meus desejos. Quando isto ocorre tenho em meu coração um sentimento negativo, algum ressentimento. Não gostamos que nos chamem de “ressentidos”, isto até nos humilha; buscamos outras palavras “mais adequadas”, (eufemismos! Afinal de contas). Reconhecer nosso ressentimento é antiestético. Preferimos nega-lo: eu não odeio! E muito menos pessoa! Alem do mais, não tenho interesse por essa pessoa! Porém, se me interessar! Em minha intimidade sua evocação me perturba não poucas vezes. Em publico, basta que toquem em seu nome, para que eu manifeste de um modo cortes minha repulsão ou minha desqualificação.
Eu imagino que esse objeto de ódio é um fato objetivo. Que tenho fundadas razões para descartar essa pessoa. Porém, se observo com mais atenção, descubro que meu ódio é algo mais: algo que esta acontecendo em mim. O ódio manifesta que tenho em casa um hospede indesejado. Que essa pessoa reside em minha intimidade. Interessa-me muito, até em demasia. Eu encho minha casa de ódio, e não faço nada para me desprender definitivamente dele. Assim o sigo escutando. O problema do ódio consiste nisto, a pessoa se encontra possuída pelo objeto do odiado. A união com o objeto odiado é um pesadelo.
Como é estúpido o mecanismo do ódio! Quem odeia pensa que desqualifica o outro, quando na realidade esta se desqualificando a si mesmo. Odiar é cultivar uma zona obscura em si mesmo, é alimentar - em sua horrível atração e sedução - um buraco negro em seu coração.
O sentimento de ódio é um estado do nosso eu. É um instrumento que, ao ser usado, nos modifica, reverte negativamente em nós mesmos.
O sentimento de ódio também afeta a nosso corpo. O deixa intranqüilo, o perturba. Às vezes dissemos: “essa pessoa me deixa doente!”. Nossos sentimentos nos afetam corporalmente.
O contraste deste sentimento com a mensagem das leituras deste Sétimo Domingo é evidente. Davi superou o ódio que sentia por Saul. Jesus nos convida no Evangelho a “fazer o bem a quem nos odeia” e a “amar nossos inimigos”. Quem odeia, caminha na obscuridade e não conhece o caminho; está cego (cf. 1 Jn 2,11). Quem odeia seu irmão ou irmã é um assassino é por tanto não tem vida eterna habitando nele (1 Jn 3,15). Quem assim se sente e atua é um mentiroso, quando diz que ama Deus. Não se pode amar o Invisível, se não se ama aquilo que Ele fez visível na terra (1 Jn 4,20). Quem supera o ódio é o "filho do Altíssimo”, que é nosso Pai compassivo.
Sim, se trata de obscuro objeto. Talvez, para superar este maldito sentimento, seja necessário aprender a arte do perdão, receber a graça do amor ao diverso e estar disposto a renunciar, em não poucas ocasiões, em ser uma máquina de desejos e a optar em ser uma máquina de dons.
José Cristo Rey Garcia Paredes
MARAVILHOSA reflexão!
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