Dia 02 de agosto Mt. (15,1-5.10-14)
O que torna impuro o homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior
O Evangelho de hoje traz à minha memória alguns episódios da Juventude. O primeiro ocorreu quando estava no Seminário Menor, estava com 13 ou 14 anos. Naquela época padre pediu-me um para preparar o altar onde ele iria celebrar a missa. Ao final, já na sacristia, eu disse: "Está vendo? Só doze minutos, e todas as palavras bem pronunciadas. Aquilo ficou guardado na minha memória.
Alguns anos mais tarde, eu já estava com 19 ou 20 anos, e me encontrei com um frade de longas barbas, ao saber que eu era Claretiano, me perguntou se "era obrigatório pronunciar todas as palavras na recitação da liturgia das horas". A pergunta me surpreendeu, porque foi uma proposição que eu nunca tinha me feito. Não me encaixava muito que a oração tivesse que ser vista como uma obrigação legal.
Vamos ao episódio final. Na cidade onde nasci um pároco empreendedor decidiu que fazia falta um templo novo para atender às necessidades de sua paróquia. Colocou mãos a obra e edificou uma grande Igreja que ficou pronta justamente antes do inicio do Concilio Vaticano II. Não é uma igreja muito atual, adequado à liturgia atual, porém mais chamativo era um letreiro que podia ser visto por toda a assembléia e que se iluminava no momento em que o sacerdote começava o ofertório, depois da liturgia da Palavra. O letreiro dizia: "Você tem chegado tarde à missa".
A tentação do legalismo
São três exemplos de como podemos cair no legalismo em nossa relação com Deus e com a comunidade cristã a qual pertencemos. Tudo isto me faz pensar que nossa oração pessoal, a celebração da eucaristia e outras questões básicas da vida cristã consistem antes de mais nada o cumprimento de algumas normas. Devemos pronunciar bem todas as palavras para cumprir com a obrigação de rezar o breviário ou para que a missa seja válida. Devemos chegar à missa antes que comesse o ofertório para cumprir com a obrigação dominical.
Certamente, são considerações geralmente já superadas, porém a tentação sempre esta ai. A tentação de nos fixar na letra da lei e não em seu espírito, a tentação do cumprimento do "cumpro e recordo". Tudo ao mesmo tempo. Talvez, inclusive, com boa vontade, porém esquecendo o mais importante: o Espírito do Evangelho.
Dito em outras palavras, o mais importante é celebrar a Eucaristia com os irmãos, por este motivo não gosto de chegar tarde para orar e celebrar junto com eles, isto é uma forma de expressar e viver minha relação com Deus, para além de pronunciar ou não corretamente todas as silabas - se a única coisa que faço e me preocupar em pronunciá-las corretamente, sem por nada de "meu espírito" nelas, melhor seria ler o jornal -.
O que importa é amar
Tudo isso nos diz a primeira leitura deste domingo, e nos explica melhor Jesus no Evangelho. O que nos manda fazer Deus é nos amarmos uns aos outros. Todo resto são tradições que, às vezes traem o Espírito da Palavra. Jesus nos recorda que o importante está não no cumprimento de algumas normas legais mais a espiritualidade que vivemos, que ser cristão não é cumprir mais viver a espiritualidade, que dar glória a Deus não é fazer as encenações no momento marcado pela liturgia, - isso pode ser muito bonito, porém também pode ser um gesto vazio e puramente estético - mais amar na vida diária os irmãos e irmãs, lutar pela justiça e a igualdade comprometendo-se com a vida de todos.
As Tradições podem ser boas. Recordam-nos um passado. É bom conversá-las. Mas quando se convertem em uma observância puramente exterior... é melhor esquecê-las e tratar de encontrar e recuperar o espírito que as motivou. E não esquecer que na comunidade cristã tudo, absolutamente tudo, se deve referir e fundamentar no Evangelho, na mensagem de Jesus.
Como diz a carta de Tiago, a "religião pura e inatacável ante Deus Pai é esta: "visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições, e conservar-se puro da corrupção deste mundo". Não nos deixamos levar por um mundo que se centra demasiadamente em guardar as aparências em "cumprir" externamente e amemos como Deus ama. Como diz Tiago, visitando os órfãos e as viúvas na tribulação.
Fernando Torres
http://www.ciudadredonda.org/subsecc_ma_d.php?sscd=157&scd=1&id=2893
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