Bom dia!
Um parêntese…
Por vezes já ouvi pessoas fazerem uma interpretação diferenciada desse evangelho. O usavam como justificativa de sua inércia para com os problemas dos outros. Pensam talvez que só poderiam começar a ajudar o próximo quando resolvessem os seus problemas.
De fato, "cego não pode guiar cego", mas quem disse que somos por completos sem visão? Será que somos tão pobres que não podemos doar e tão atarefados que não pudemos despendiar algum tempo que "sobra" para os outros?
Em certo momento, num outro Evangelho, Jesus disse que déssemos a Deus o que é de Deus e a César o que é de César. Nesse trecho tão conciso de sua mensagem ele talvez nos tenha feito uma proposta: Trocar o tempo gasto com as críticas, julgamentos e maldade com coisas que de fato vão edificar. Jesus propõe a troca do JULGAMENTO pela MOTIVAÇÃO.
"(…) Pedimo-vos, porém, irmãos, corrigi os desordeiros, encorajai os tímidos, amparai os fracos e tende paciência para com todos. Vede que ninguém pague a outro mal por mal. Antes, procurai sempre praticar o bem entre vós e para com todos". (I Tessalonicenses 5, 14-15)
No mundo que vivemos e vivenciamos temos que aceitar que as teorias de Charles Darwin estão corretas. Esse mundo valoriza muito a visão que o ser mais adaptado irá prosperar. Um mundo onde vale "puxar o tapete", difamar, caluniar, ofender, (…), um mundo que vale de tudo para se conseguir o que se deseja.
É esse mundo que nos ensina a fechar os olhos ao idoso no ônibus para não ceder o lugar que é reservado para ele; é esse mesmo pensamento que nos ensina a ver os nossos defeitos de muito longe e os dos outros com uma lupa; é esse mundo que nos acostumou a ver uma porção de gente desonesta pedindo novamente nosso voto e passar quatro anos sem nos ouvir (hunf!).
Mas não é esse mundo que Jesus nos convida a reconstruir…
"(…) Se é só para esta vida que temos colocado a nossa esperança em Cristo, somos, de todos os homens, os mais dignos de lástima". (I Corintios 15, 19)
Somos chamados a sermos diferentes e não iguais. Nosso chamado é para o irmão. As críticas devem fazer parte da avaliação do nosso amadurecer, mas os julgamentos nocivos devem ser descartados.
Indo para academia a noite vi um senhor voltando do trabalho. Parecia ser um pedreiro, pois carregava num carrinho de mão suas ferramentas. O cansaço estava claro em suas feições. Penso que passará um dia inteiro ao sol. Ao lado dele um cachorro vira-lata.
Parece loucura, mas imaginei a vida daquele cachorro. Seguiu seu dono durante todo o dia e talvez tenha dividido com ele alguma comida. O cachorro parecia ainda muito disposto, pois fuçava tudo que via, mas não perdia de vista aquele que era seu dono.
Em um determinado momento o cachorro ficou para trás distraído com um saco de lixo, o homem parou, assoviou e o cachorro deixou o que estava fazendo e voltou para o caminho.
Por vezes somos como aquele cachorro e em outros momentos aquele homem cansado. Enquanto temos força devemos sempre estar atentos para aqueles que nos cercam o dia inteiro não se distraia com algum lixo que encontre pela rua. Preste bem atenção: O homem não julgou a distração do cachorro apenas o chamou de volta para o caminho. Assoviar é chamar atenção e não fingir que não vê.
"(…) O poder do Espírito e da Palavra contagia as pessoas e as leva a escutar a Jesus Cristo, a crer n'Ele como seu Salvador, a reconhecê-lo como quem dá o pleno significado a suas vidas e a seguir seus passos. O anúncio se fundamenta no fato da presença de Cristo Ressuscitado hoje na Igreja, e é fator imprescindível no processo de formação de discípulos e missionários. Ao mesmo tempo, a formação é permanente e dinâmica, de acordo com o desenvolvimento das pessoas e como serviço que são chamadas a prestar, em meios às exigências da história". (Documento de Aparecida §296)
Em comunidade passamos boa parte do dia "partilhando da mesma comida", mas é na hora do cansaço que vemos que é de fato cristão.
Não pensei que uma cena tão singela nos proporcionasse tamanha reflexão.
Um imenso abraço fraterno!
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