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29 de jun. de 2011

Transfigurar o Mundo

06 de agosto

Caríssimos. Nossa missão é a de transfigurar-nos e depois transfigurar as pessoas e o mundo. Veja este texto maravilhosos sobre um mundo novo do Dom Paulo.

 

O SONHO DE UM MUNDO NOVO

 dom Paulo Mascarenhas

 

Uma proposta cristã para a humanidade.

A interrogação ocupa a mente de todos. A busca é constante e move todos os corações. Qual o caminho? Como dar sentido à vida? Que tipo de relacionamento deve vingar entre as pessoas? Que mundo vamos construir?

A pergunta é persistente, apesar de algumas tentativas de resposta, como a de Sartre, que interpreta a vida das pessoas humanas como realidade absurda que desaponta e frustra, que causa náusea.

Aqueles que vêem a pessoa humana como fruto do amor de Deus criador e como objeto do carinho do Senhor Deus que se manifestou na história, somos ricos de uma sabedoria iluminadora dos caminhos da vida, com seus, muitas vezes, tortuosos meandros. O bom Pai não nos jogou num labirinto de galerias sem saída, sem bússola e cheio de escuridão.

A intenção desta minha colocação é a de apresentar, à luz da Palavra de Deus, algumas fagulhas deste clarão que vem do alto. Com certeza, trarão a alegria de nos sabermos gente com sentido de vida, filhos na casa do Pai, caminheiros da eternidade, irmãos carregadores de coração novo, convivendo na liberdade e na comunhão- koinônia do amor-agapê.

CHAMADOS AO AMOR = À AGAPÊ

Na primeira Carta de João, capítulo 4º, versículo 12, há uma afirmação riquíssima de sentido. Diz: "Ninguém jamais contemplou a Deus. Se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu Amor em nós é perfeito".

Esta Palavra só é bem entendida se colocada no seu contexto. Primeiro, o contexto próximo. O versículo 12 citado se encontra numa perícope das mais lindas de toda a Escritura Sagrada, que começa no versículo 7º do cap. 4° e vai até o versículo 4º do capítulo 5º e fala da fonte do amor. Uma compreensão maior vem ainda do contexto remoto de toda a 1ª Carta de João. A estrutura desta Carta é simpática: João fala sempre das mesmas coisas, mas, progressivamente reduzindo as categorias. Fala de muitos anticristos e, em seguida, de um anticristo; muitas virtudes, mais adiante, só amor e fé; mais à frente, só fé. A 1ª Carta de João se parece com uma escada em espiral que passa sempre pelo mesmo eixo, mas que vai se reduzindo à medida que sobe. O texto de que estamos falando encontra-se no meio da escada: João está falando de amor e fé.

Subindo às origens do amor que os cristãos devem viver, João afirma, nos versículos 8º e 16º que a fonte do amor do cristão está em Deus, porque Deus é Amor. Sem querer especular sobre a natureza de Deus, o apóstolo quer simplesmente dizer que Deus só sabe amar, ama sempre e, interferindo na vida da pessoa humana, comunica este seu amor. No mesmo contexto próximo se afirma claramente, no versículo 7º que o amor vem de Deus.

Agora, sim, o versículo 12 citado aparece em todo o seu sentido. O cristão só pode amar com o amor que vem de Deus. Ora, se Deus é Amor, Deus vem com o amor e permanece na pessoa que ama. Deus permanece em nós. Quando nós nos amamos, Deus permanece em nós; e João acrescenta que, neste caso, o amor chega à perfeição. Que tipo de perfeição? O termo original grego, da raiz telos, aponta para a perfeição do acabamento final, mais do que fim de estrada.

Juntando os elementos do texto: quando eu amo o outro é que o Amor, o Deus-Amor veio e permanece em mim. Mas, para chegar à perfeição, continua o caminho e chega ao outro. Vamos levar a lógica até o fim. Quando eu amo o outro, eu estou amando com o Amor que vem de Deus. Como Deus é o Amor, Ele mesmo vem com o Amor com que eu amo. Daí, Deus ama através do meu amor. É Deus que está amando o outro, através de mim. E o Amor chega à perfeição. Sem muita teologia, o pobre que eu ajudo reconhece o carinho de Deus e agradece com simplicidade: "Como Deus é bom!"

Mais um detalhe torna ainda mais significativa a realidade. É claramente afirmado no Evangelho de Mateus, que tudo o que fizermos ao outro, por menor que seja, o Senhor o toma como feito a Ele. Foi a mim que o fizestes (Veja Mateus 25, 31-46). Isto significa que, quando eu amo o outro, estou amando o Senhor. Por isso é que no versículo 20 do capítulo 4º da mesma perícope da 1ª Carta de João, é afirmado categoricamente: "Se alguém disser: 'Amo a Deus', mas, odeia o seu irmão é um mentiroso: pois quem não ama seu irmão a quem vê, a Deus, a quem não vê, não poderá amar".

Fecha-se, assim o triângulo. O Amor vem de Deus, circula entre as pessoas e volta para Deus-Amor. Se a origem e o fim é o Deus Amor, a vida entre nós, pessoas humanas é um belíssimo circuito do mesmo amor. O sentido da nossa vida é o de abertura: abertura para acolher o Amor e pela mesma brecha, abrirmo-nos para o outro. A pessoa que se fecha para o Amor-Deus e para o amor do outro não tem sentido na sua vida, vive o pesadelo da completa solidão. Já me aconteceu projetar este esquema de realidade a uma jovem que tentara suicídio por não encontrar sentido na vida. Ela reagiu: "Se for assim, é bonito, vale a pena viver". Se for assim, não; é assim. Vale a pena viver, sim, quando a pessoa se abre para o Amor.

QUE AMOR?

No bojo desta palavra amor, entendida como a 'agapê' de que fala a Carta de João, existe verdadeira mina de atitudes humanas, síntese e completo compêndio da melhor das éticas.

Este Amor cristão, que vem do Deus-Amor, traz o DNA do próprio Senhor Deus, é divino. Traz um pouco do coração do Pai que vem com o Amor, como diz João. Tem o rosto do Filho de Deus encarnado, Jesus. Ninguém esquece: "Amai-vos uns aos outros como eu vos amei" (João 15, 12). O nosso amor não é somente cópia, imitação do amor do Senhor Jesus. Não se trata somente de fazer como Jesus fez. Ficaria um problema sério: será que dá para a gente amar como ele amou? Um pormenor técnico de análise do texto ajuda a entender melhor. Quando Jesus fala em amar como ele amou, no texto original se usa a conjunção kathôs. Ora, o uso deste como vai mais longe do que só imitação: amar imitando o amor de Jesus, amando do mesmo jeito que Jesus amou. Muitas vezes o como tem também um sentido de derivação. Alguma coisa é como a outra porque deriva da outra. Uma criança tem olhos azuis como o pai quer dizer: tem olhos da mesma cor que os do pai, mas, é porque recebeu, 'puxou' do pai. Entendendo assim, o nosso dever de amar como Jesus amou significa que recebemos dele, 'puxamos' dele o amor semelhante ao dele. O amor cristão é também divino porque marcado pelo Espírito. Deveras, o amor cristão é o fruto por excelência do Espírito Santo. (Ver Gálatas 5,22). Amar é coisa de Deus que ele comunica generosamente aos seus filhos.

O amor cristão é comunhão=koinônia, cria união, tira as barreiras, põe harmonia entre as pessoas, mesmo divergindo, nunca quebra, de modo definitivo, o relacionamento entre as pessoas, é capaz de acordo, de diálogo, de partilha, tem, em grau eminente, respeito. É falso o amor que não respeita.

O amor que vem de Deus e que o cristão deve viver é abertura gratuita. O amor do mundo novo abre a pessoa em saída, doação e superação de si mesma. Amar é dar a vida. Pela mesma brecha por onde sai, a pessoa acolhe o outro. O amor cristão, expondo-se, aceita o risco de confiar.

O amor cristão, base de uma nova civilização, é humilde. Não se julga mais do que os outros, no egoísmo, na soberba altiva e arrogante das botas pesadas. É sereno, simples, sincero e alegre.

O amor cristão vai mais longe que o sentimento: o amor cristão é vontade livre. Sentimento quase nunca depende de nós. Amar é opção livre de querer o bem do outro. O Senhor quer um sistema de amor até para com o inimigo. Dificilmente, em relação ao inimigo, existe o sentimento gostoso do amor. Deve, sim, existir a vontade do bem até mesmo do inimigo. Amar é querer o bem do outro, mesmo quando custa, até com lágrimas nos olhos.

O amor cristão é perdão e perdão categórico: perdoa tudo, todos e sempre. Em nenhum caso o cristão está dispensado do perdão. Perdoar é querer o bem do ofensor, apesar de tudo. Perdão não é memória nem sentimento: é querer o bem daquele que nos ofendeu. Perdão é na justiça e na verdade. Mesmo perdoando continuam de pé as obrigações da justiça e da verdade. Muitas vezes, os outros devem perdoar-nos mais do que nós os perdoamos. Perdoar é resultado de um processo de amadurecimento da opção pelo bem do outro. Não existe perdão relâmpago. Perdão é flor que se abre aos poucos, fruto que amadurece.

Amor cristão é serviço. Atrás do Mestre que veio para servir, o cristão está disponível para buscar o bem do outro, prestando serviço. Apesar de tudo, dá para ter alegria e felicidade no serviço. É conhecido o curto e sábio poema do indiano Rabindranath Tagore, prêmio Nobel de Literatura em 1913: "Dormia e sonhei que a vida era alegria. Acordei e vi que a vida era serviço. Servi e vi que o serviço era alegria".

O amor cristão é ativo, procurando e tomando iniciativa de fazer o bem. Mais dinâmica do que a atitude de esperar quem peça ajuda, é a atitude de quem sabe amar com verdadeiro amor cristão: busca quem estivesse precisando de ajuda.

Com a proposta deste verdadeiro amor, o mistério cristão oferece a homens e mulheres de todos os tempos, a resposta a todos os anseios de sentido da vida pessoal e social e os paradigmas de uma nova civilização, aquela do amor.

Se a nossa proposta parecesse utópica para alguém, que desconfia da fraqueza do coração de pedra da pessoa humana, incapaz de tanta beleza de amor, oferecemos a segurança e garantia da força necessária para que este mundo novo se torne realidade concreta. Dá para arrancar o coração de pedra e colocar no peito um coração de carne que sabe amar.

CORAÇÃO DE PEDRA E CORAÇÃO DE CARNE

Pode até passar despercebido o conteúdo profundo do texto da Carta de Paulo aos Romanos, capítulo 8º, versículo 2º. O apóstolo diz: "A Lei do Espírito da vida em Cristo Jesus te libertou da lei do pecado e da morte".

Lei do Espírito, por força de expressão, equivale a Lei que é o Espírito. É expressão parecida com aquela outra: o ignorante do José, em que se diz que o José é ignorante.

Afirmar, porém, que o Espírito é Lei é absolutamente absurdo na teologia paulina. Para Paulo o Espírito se contrapõe à Lei. O Espírito é Espírito de liberdade. Quem tem o Espírito não está sujeito à Lei, porque segue a Lei por si mesmo, movido pelo Espírito que o guia por dentro.

A expressão Lei do Espírito carrega o peso das profecias e promessas da primeira Aliança. Cerca de 600 anos antes da vinda de Jesus, o profeta Jeremias anunciava que um dia, Deus colocaria a Lei no interior da pessoa. Era a consolação para um povo que se lamentava de não conseguir observar a Lei. Comparada a uma canga pesada no pescoço do animal, a Lei se tornava onerosa demais para um povo fraco de coração. O profeta Jeremias anuncia, então, que o Senhor Deus vai reverter as coisas. Em vez de o povo carregar a Lei, a Lei é que carregaria o povo. Deus promete colocar a Lei dentro das pessoas, de tal maneira que as pessoas observarão a Lei, por si mesmas, movidas por de dentro. "Porei minha lei no fundo de seu ser e a escreverei em seu coração". (Jeremias 31,33).

50 anos depois, um outro profeta, Ezequiel, também anunciando coisas futuras, a restauração perfeita do povo sofrido do exílio, arremata a profecia de Jeremias, predizendo que o Senhor Deus, um dia, virá, com a força do seu braço e com a bondade do seu coração, ao encontro do povo transgressor da lei, infiel, de coração duro como pedra. Vai regenerar aquela gente, tirando deles o coração de pedra e colocando um coração de carne, isto é, o Espírito, para que sigam as normas do Senhor Deus. "Dar-vos-ei um coração novo, porei no vosso íntimo espírito novo, tirarei do vosso peito o coração de pedra e vos darei coração de carne. Porei no vosso íntimo o meu espírito..."(Ezequiel 36, 26-27).

A profecia de Jeremias anuncia o lei colocada no interior da pessoa. O profeta Ezequiel explica que a lei interior é o espírito, que vai conduzir a pessoa. Paulo, na Carta aos Romanos afirma que ambas as profecias se cumpriram no Cristo Jesus que dá o Espírito que nos liberta. "A Lei do Espírito de vida te libertou" (Romanos 8, 2).

A bondade do Senhor Deus tira o coração de pedra do nosso peito, dando o Espírito Santo, que nos torna capazes de viver o verdadeiro amor. A civilização do amor não é mais uma utopia inatingível. Dá para amar, de verdade. O sonho de um mundo novo torna-se meta de corações bem formados e abertos para o Senhor Deus e para os irmãos.

A proposta cristã de Jesus, "o homem perfeito" (Gaudium et Spes nº 22), ambiciosa e encantadora, resplandece como a melhor de todas para construir um mundo novo de justiça e de paz, mundo de irmãos, civilização do amor.

Com certeza, este Centro Universitário de Itajubá, a Universitas, há de somar forças para a realização do magnífico sonho de um mundo novo.

dom Paulo Mascarenhas Roxo

bispo de Mogi das Cruzes

 

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