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20 de jun. de 2011

Tira a trave do teu olho - Frei Carlos Mesters, O.Carm


 

No evangelho de hoje, 23 de junho, continuamos a meditação sobre o Sermão da Montanha que se encontra nos capítulos 5 a 7 do evangelho de Mateus. Nos dias 9 a 21 de junho, vimos os capítulos 5 e 6. De hoje até 26 de junho, veremos o capítulo 7. Estes três capítulos 5, 6 e 7 oferecem uma idéia de como era a catequese nas comunidades dos judeus convertidos na segunda metade do primeiro século lá na Galiléia e Síria. Mateus juntou e organizou as palavras de Jesus para ensinar como devia ser a nova maneira de viver a Lei de Deus.

Depois de ter explicado como restabelecer a justiça (Mt 5,17 a 6,18) e como restaurar a ordem da criação (Mt 6,19-34), Jesus ensina como deve ser a vida em comunidade (Mt 7,1-12). No fim, ele traz algumas recomendações e conselhos finais (Mt 7,13-27). Aqui segue um esquema de todo o sermão da Montanha:

 

Mateus 5,1-12: As Bem-aventuranças: solene abertura da nova Lei

Mateus 5,13-16: A nova presença no mundo: Sal da terra e Luz do mundo

Mateus 5,17-19: A nova prática da justiça: relacionamento com a antiga lei

Mateus 5, 20-48; A nova prática da justiça: observando a nova Lei.

Mateus 6,1-4: A nova prática das obras de piedade: a esmola

Mateus 6,5-15: A nova prática das obras de piedade: a oração

Mateus 6,16-18: A nova prática das obras de piedade: o jejum

Mateus 6,19-21: Novo relacionamento com os bens materiais: não acumular

Mateus 6,22-23: Novo relacionamento com os bens materiais: visão correta

Mateus 6,24: Novo relacionamento com os bens materiais: Deus ou dinheiro

Mateus 6,25-34: Novo relacionamento com os bens materiais: confiar na providência

Mateus 7,1-5: Nova convivência comunitária: não julgar

Mateus 7,6: Nova convivência comunitária: não desprezar a comunidade

Mateus 7,7-11: Nova convivência comunitária: confiança em Deus gera partilha

Mateus 7,12: Nova convivência comunitária: a Regra de Ouro

Mateus 7,13-14: Recomendações finais: escolher o caminho certo

Mateus 7,15-20: Recomendações finais: o profeta se conhece pelos frutos

Mateus 7,21-23: Recomendações finais: não só falar, também praticar

Mateus 7,24-27: Recomendações finais: construir a casa na rocha

 

A vivência comunitária do evangelho (Mt 7,1-12) é a pedra de toque. É onde se define a seriedade do compromisso. A nova proposta da vida em comunidade aborda vários aspectos: não reparar no cisco que está no olho do irmão (Mt 7,1-5), não jogar as pérolas ADVANCE \d0aos porcos (Mt 7,6), não ter medo de pedir as coisas a Deus (Mt 7,7-11). Estes conselhos vão culminar na Regra de Ouro: fazer ao outro aquilo que você gostaria que o outro fizesse a você (Mt 7,12). O evangelho de hoje traz a primeira parte: Mateus 7,1-5.

Mateus 7,1-2: Não julguem, e vocês não serão julgados

A primeira condição para uma boa convivência comunitária é não julgar o irmão ou a irmã, ou seja, eliminar os preconceitos que impedem a convivência transparente. O que significa isto no concreto? O evangelho de João dá um exemplo de como Jesus vivia em comunidade com os discípulos. Jesus diz: "Eu não chamo vocês de empregados, pois o empregado não sabe o que seu patrão faz; eu chamo vocês de amigos, porque comuniquei a vocês tudo o que ouvi de meu Pai" (Jo 15,15). Jesus é um livro aberto os para os seus companheiros. Esta transparência nasce da sua total confiança nos irmãos e irmãs e tem a raiz na sua intimidade com o Pai que lhe dá a força para abrir-se totalmente aos outros. Quem assim convive com os irmãos e as irmãs, aceita o outro do jeito que o outro é, sem preconceitos, sem impor-lhe condições prévias, sem julga-lo. Aceitação mútua sem fingimento e total transparência! Este é o ideal da nova vida comunitária, nascida da Boa Nova que Jesus nos trouxe de que Deus é Pai/Mãe e que, portanto, todos somos irmãos e irmãs uns dos outros. É um ideal tão difícil e tão bonito e atraente como aquele outro: "Ser perfeito como o Pai do céu é perfeito" (Mt 5,48).

 

Mateus 7.3-5: Vê o cisco e não percebe a trave

Em seguida, Jesus dá um exemplo: "Por que você fica olhando o cisco no olho do seu irmão, e não presta atenção à trave que está no seu próprio olho? Ou, como você se atreve a dizer ao irmão: 'deixe-me tirar o cisco do seu olho', quando você mesmo tem uma trave no seu? Hipócrita, tire primeiro a trave do seu próprio olho, e então você enxergará bem para tirar o cisco do olho do seu irmão". Ao ouvir esta frase, costumamos pensar logo nos fariseus que desprezavam o povo como ignorante e se consideravam a si mesmos melhores que os outros (cf. Jo 7,49; 9,34). Na realidade, a frase de Jesus serve para todos nós. Por exemplo, hoje, muitos de nós católicos pensamos que somos melhores que os outros cristãos. Achamos até que os outros são menos fiéis ao evangelho do que nós católicos. Olhamos o cisco no olho dos nossos irmãos e não enxergamos a enorme trave de orgulho prepotente coletivo nos nossos olhos. Esta trave é a causa por que, hoje, muita gente tem dificuldade de crer na Boa Nova de Jesus.

 

Para um confronto pessoal

1) Não julgar o outro e eliminar os preconceitos: qual a experiência pessoal que eu tenho neste ponto?

 

2) Cisco e trave: qual a trave em mim que dificulta minha participação na vida em família e em comunidade?

 

Oração final

Dirige-me na senda dos teus mandamentos, porque nela está minha alegria.

Inclina meu coração para teus testemunhos e não para a avareza. (Sal 118, 35-36)

 

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