A Igreja católica celebra a festa de Pentecostes, no próximo domingo. Os Atos dos Apóstolos narram como o Espírito Santo foi dado aos discípulos de Jesus e, portanto, à Igreja, numa efusão de vida apostólica.
O Espírito de Deus foi manifestado a Jesus no batismo do Jordão (Lucas 3, 21-22). Desde então, o Espírito é concedido, no batismo, a todos os cristãos, suscitando os carismas ou dons para serviço e fortalecimento da comunidade eclesial. Há um só batismo (Efésios 4,6) e não dois, um de água e outro do Espírito.
Ao longo da história da Igreja, sobretudo em épocas de crise, surgiram movimentos carismáticos. Paulo já se refere a eles na 1a. Carta aos Coríntios (12,7). Assinala que os dons são dados, não para a nossa soberba espiritual, mas para benefício da comunidade. E os maiores dom são o amor, a fé e a esperança.
Associar a presença do Espírito à glossolalia ou dom das línguas é correr o risco de trocar o principal pelo acessório, sobretudo quando, como diz Gustavo Gutiérrez, fala-se uma linguagem ininteligível sem, no entanto, ser capaz de falar a língua dos pobres, sem a qual o anúncio do Evangelho fica prejudicado (Mateus 11, 25).
Todas as vezes que, na espiritualidade cristã, deixamos de lado a sua natureza trinitária e privilegiamos uma das Três Pessoas, corremos o risco de enfiar as mãos pelos pés. Quem privilegia o Pai tende a uma espiritualidade autoritária, moralista; quem privilegia o Filho, pode ceder ao ativismo; quem privilegia o Espírito, cria um caldo de cultura para a espiritualidade subjetivista, intimista, deslocada do caráter pastoral que nos exige a inserção eclesial.
O povo de Deus não pode ser dividido entre carismáticos e não carismáticos, alertava o padre Congar (La Croix, 19/01/1974). A renovação carismática católica, entretanto, tem o mérito de enfatizar a presença no Espírito de Deus em nossas vidas e operar conversões e curas, aprofundar a vida de oração, despertar o amor ao próximo, desde que em referência intrínseca à Sagrada Escritura e em sintonia com a linha pastoral da Igreja.
Não se deve esquecer que, outrora, o movimento carismático provocou também desvios e rupturas na vida Igreja, como foi o caso dos montanistas, dos irmãos do livre Espírito, dos flagelantes, dos iluministas, dos quietistas etc. Em matéria de religiosidade, todo exagero faz beirar o farisaísmo. Jesus condenou os fariseus de seu tempo (Mateus 23), não por serem infiéis, mas por se arvorarem em únicos intérpretes da vontade de Deus.
Como diz são Paulo (1a. Carta aos Coríntios 12), há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo e o caminho que ultrapassa a todos (12, 31) é o amor.
frei Betto
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