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6 de jun. de 2011

Não penseis que vim trazer paz à terra! -

Ano A - Dia: 11/07/2011

Mt 10,34-11,1

OS  MÁRTIRES  DO  ÓDIO

 

Nos últimos meses, voltou ao cenário mundial uma palavra que parecia já descartada do vocabulário da história, devido às tristes lembranças que evoca, relacionadas sobretudo a guerras, bombas, loucura. É a palavra "mártir", usada pelos jornais e pela mídia em geral para definir os terroristas palestinos que se explodem com bombas amarradas à cintura, nos mais diversos lugares de Israel. Os líderes dessas organizações de camicases citam com entusiasmo essa política terrorista que justificam como guerra santa, multiplicando atentados até contra inocentes, instrumentalizando a religião que dizem professar.

O próprio Osama Bin Ladem elogiou como mártires os terroristas que executaram o alucinante ataque contra as torres de Nova York. Na boca dessa gente, na interpretação que lhe dão, essa palavra tão cara e preciosa aos cristãos ressoa como uma blasfêmia. Aliás, uma verdadeira blasfêmia que tenta preencher um vazio; uma palavra que boa parte da mídia tornou insignificante, quando se falava dos milhares de cristãos mortos nos últimos séculos. Para os verdadeiros mártires, hoje não existe mais respeito, às vezes um sorriso de comiseração para aquele que se deixou morrer para testemunhar pacificamente crenças profundas em valores eternos como Deus, justiça e caridade, mas que, atualmente, andam em baixa na mentalidade popular. Para esses verdadeiros mártires, não existe mais lugar na história: mártir hoje é, por antonomásia, o camicase carregado de bombas e de ódio sem fim.

Temos que rejeitar essa interpretação obscena do "mártir" moderno, desses assassinos de que o mundo não tem nenhuma necessidade, e que nenhuma religião ou facção religiosa deve justificar ou incentivar, mas declarar o que são.

Mártires, em qualquer sentido, sobretudo no religioso, são aqueles que dão a vida por um ideal de amor e de caridade, por um amor superior a Deus e à humanidade, que se deixam morrer, sem reagir, sem pagar a violência com a violência.

É o testemunho de vida e de esperança no futuro que anima os verdadeiros mártires, não o instinto de morte. Nenhuma religião, por mais fundamentalista que seja, não deveria permitir que em seu seio nascessem essas sementes de morte que só trazem mais morte e ódio.

O terrorismo não se sustenta em nenhuma teologia, em nenhuma mística. Há também quem tente justificar esses atos terroristas que tomaram conta do mundo nos últimos meses como heroísmo, como amor devotado à pátria, inspirado no islamismo fundamentalista e na mística de "libertar o povo islâmico palestino e árabe das garras do Satã ocidental".

De fato, é uma alienação real que vemos hoje nos discursos paranóicos desses jovens terroristas e de seus chefes. Todavia, o fato de que membros moderados da mesma religião reuniram-se em Assis, em janeiro passado, em diálogo e oração com representantes de outras tantas religiões, prova que o islã não é fundamentalmente terrorista, embora certas situações temporais levem alguns grupos a se inspirarem, de forma tendenciosa, nos preceitos do Alcorão para justificar sua eclosão sanguinária.

Por isso, nós da mídia não devemos nos prestar a esse tipo de equívoco que confunde os termos para justificar todos os conteúdos.

A diferença entre um suicida e um mártir da fé é que o primeiro morre ou causa a sua mesma morte, cheio de bombas, ainda mais cheio de ressentimentos e vingança. Como disse o papa João Paulo II: "Quem mata com atos terroristas, perdendo até sua vida, cultiva sentimentos de desprezo pela humanidade, manifesta desespero e pessimismo diante da vida e do futuro".

O mártir cristão morre por causa de valores mais profundos, sem se vingar, mas perdoando a quem o mata. Temos em Cristo o exemplo maior do mártir: o Filho de Deus escolheu o amor, deixou-se matar e perdoou a seus algozes. Só o amor de quem dá a vida pelos outros é sinônimo de autenticidade e pode construir a verdadeira história. Uma história em que os heróis acreditarão na vida.

Revista MUNDO e MISSÃO

 

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