Dia 23 de abril - segunda
Jo 6,22-29
Esforçai-vos
não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida
eterna.
Este
Evangelho é a introdução ao discurso sobre o pão da vida, que Jesus fez.
Preparando o povo para acreditar que ele tinha realmente poder de dar a sua
carne como comida e o seu sangue como bebida, Jesus faz o milagre da
multiplicação dos pães e depois caminha sobre as águas.
E
Jesus reclama do pouco interesse do povo pela Boa Nova, e do demasiado
interesse pelo pão material: “Estais me procurando não porque vistes sinais,
mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos. Esforçai-vos não pelo alimento
que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna”.
Como
sempre acontece com toda multidão, o povo alimentado por Jesus até à saciedade,
com cinco pães e dois peixes, queria um deus de uso e consumo, um deus que
sirva os nossos interesses e necessidades, um deus comercial que oferece e
distribui os seus dons ao capricho do pedido. Este é o deus de muitas religiões
criadas por pessoas humanas, que querem encerrar Deus nos limites dos ritos e
das leis culturais, procurando servir-se da divindade em vez de a servi-la e
adorá-la.
Por
isso o povo mereceu essa advertência de Jesus: “Esforçai-vos não pelo alimento
que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna”.
E
o povo pergunta: “Que devemos fazer para realizar as obras de Deus? Jesus responde:
A obra de Deus é que acrediteis naquele que ele enviou”. Os mestres da Lei
apresentavam uma série de obras que agradavam a Deus. Jesus resume: agrada a
Deus quem acredita nele, o enviado de Deus. Claro, uma fé levada à prática,
acompanhada do seguimento de Jesus e da prática do seu Evangelho. A fé não
basta para se salvar; mas também não basta o bom comportamento, é preciso a fé
do jeito que Jesus ensinou. As boas obras são decorrências da fé. Este é o
“alimento que permanece até a vida eterna”.
Quando
foi tentado no deserto, Jesus falou: “Não só de pão vive o homem, mas de toda
palavra que sai da boca de Deus”. E em outro lugar ele disse também: “Buscai em
primeiro lugar o Reino de Deus e sua justiça, e tudo o mais vos será dado por
acréscimo”.
Comparando
a nossa vida com uma canoa, ela tem dois lemes: de um lado a fé e do outro as
obras. Que não nos esqueçamos de nenhum desses dois lemes, para que a nossa
canoa possa ir para frente e nos levar à vida eterna.
O
“alimento que permanece até a vida eterna” é sintetizado por Jesus na
Eucaristia. “Quem come a minha carne tem a vida eterna”.
De
fato, o encontro com Jesus transforma a pessoa. Basta ver Maria Madalena, os
discípulos de Emaús, a samaritana, Zaqueu... Na Eucaristia nós nos encontramos
com o mesmo Jesus, com a mesma força que ele tinha naquele tempo.
A
transformação que a Eucaristia exerce em nós é lenta, mas eficaz; é como o
fermento na massa. Ela é bem simbolizada naquele pão e água que o profeta Elias
comeu no deserto, e depois teve forças para viajar quarenta dias e quarenta
noites (IRs 19,4-8). O profeta estava sendo perseguido por seus inimigos, fugiu
para o deserto e lá ficou vários dias sem comer nem beber. Aí ele rezou e Deus
o fez dormir. Quando ele acordou, havia ao seu lado um pão e uma jarra de água.
Comeu e bebeu e assim teve forças para continuar a sua caminhada. Elias
representa a nós cristãos que estamos atravessando o deserto da vida. Como
disse Jesus: “Quem come deste pão, jamais terá fome”.
Certa
vez, um homem foi internado em um hospital para ser operado das amígdalas. Ele
estava triste, preocupado, nervoso e deprimido, devido ao medo da cirurgia.
Ao
chegar ao quarto, com a sua mala, viu na cama ao lado outro homem internado.
Este percebeu logo o nervosismo do colega e começou a animá-lo dizendo palavras
bonitas de alegria e de esperança.
A
certa altura, o recém chegado perguntou a ele: “E você, por que está aqui?” Ele
respondeu: “Amanhã serei operado do coração”.
A
Eucaristia é um alimento mais forte do que nós que, ao contrário dos outros
alimentos, nos transforma nele. Quem comunga sempre é capaz de enfrentar os
maiores problemas, sofrimentos e perigos com tranqüilidade, como fez Jesus. As
nossas tristezas e alegrias são bastante subjetivas; mais do que dos fatos em
si, esses sentimentos decorrem da maneira como vemos os fatos.
Maria
foi a pessoa humana que mais amou a Jesus. Que ela nos ensine a amá-lo hoje,
presente na Eucaristia.
Esforçai-vos
não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida
eterna.
Padre
Queiroz
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